Apego Adulto em Contextos de Trabalho
A pego é um construto individual associado ao grau de conforto com a proximidade, e o interesse nos aspectos do comportamento interpessoal e vínculo afetivo-emocional estabelecido entre um indivíduo e outras pessoas (Byrne, Albert, Manning & Desir, 2017). A origem das investigações sobre o apego remete aos trabalhos de John Bowlby, que procurava compreende a importância e os impactos das interações entre infantes e cuidadores para diversos aspectos do desenvolvimento humano.
Segundo propõe a teoria do apego, é durante a infância, e no conjunto de interações com as pessoas com as quais demonstra vínculo (ex. cuidadores), que o indivíduo estabelece e modula os esquemas cognitivos sobre si e sobre seu ambiente externo (Leiter, Day, & Price, 2015). A partir da formulação destes esquemas identificam-se dois padrões de apego: seguro e inseguro (Brennan, Clark, & Shaver, 1998).
O padrão seguro de apego caracteriza confiança, previsibilidade de resposta de cuidado, melhores níveis de autoestima, saúde e satisfação com relacionamentos românticos (Brennan et al., 1998). O padrão inseguro de apego, por sua vez, subdivide-se em duas dimensões:
a) apego ansioso, o qual caracteriza pessoas muito dependentes, inseguras e com medo de rejeição e;
b) apego evitativo, que diz respeito à sensação de conforto (ou desconforto) que os indivíduos sentem com a proximidade nas relações interpessoais durante a idade adulta.
É característico de indivíduos que evitam relacionamentos de proximidade e suprimem expressões emocionais e cognitivas de vinculação.
A pertinência das explicações com base na teoria do apego é crescente nas investigações dentro do campo do desenvolvimento de carreira, do trabalho e das organizações (De Andrade, Oliveira, Knowles, Neto, & Hatfield, 2018; Leiter et al., 2015; Ramos & Lopez, 2018). Aplicações da teoria no contexto laboral demonstram que esta é uma variável importante quando se considera o desenvolvimento dos indivíduos ao longo da sua trajetória profissional. Isso ocorre, pois ela explica tanto componentes interpessoais, quanto intrapessoais no trabalho (Byrne et al., 2017).
Pesquisas sobre o apego no campo do trabalho apontam, por exemplo, que graças à visão positiva sobre si, desenvolvida ainda na infância, pessoas com apego seguro estabelecem um modelo de relações humanas que permite que sejam mais exploradoras do ambiente, tenham maior percepção de autoeficácia, e expectativas de resultados favoráveis em investimentos profissionais (Wright, 2017). Há evidências de que, durante a idade adulta, os indivíduos com apego seguro interagem positivamente com mentores, supervisores e colegas de trabalho; se comprometem com suas ocupações e se estabilizam nas organizações as quais se vinculam (Savickas, 2003). Outras evidências apontam que o apego seguro se associa com níveis mais elevados de percepção de suporte social e menores de barreira de carreira, bem como maior eficácia em domínios acadêmicos e carreira (Wright, 2017).
Em contraste, os profissionais com apego inseguro produzem concepções negativas de si ou dos outros, o que leva à ansiedade em relação à satisfação das expectativas de outras pessoas e à ambivalência em relação às tarefas do próprio desenvolvimento vocacional. Nesta direção evidências apontam a relação de apego inseguro com dimensões de burnout (Leiter et al., 2015) e conflito trabalho-família (De Andrade et al., 2018), além de afetar negativamente aspectos da liderança autentica e bem estar de trabalhadores (Rahimnia & Sharifirad, 2015).
É evidente, portanto, que o desenvolvimento do apego seguro pode promover a reflexão e orientação para o futuro, incrementar os níveis de otimismo e promover expectativas em relação aos diferentes futuros possíveis. Adicionalmente, compreende-se que a experiência em relação ao apego, na infância, é precursora da atitude (favorável ou desfavorável) de um adolescente em relação ao planejamento da carreira. Mais especificamente, se um indivíduo não está, ou não se sente seguro, sobreviver ao presente é mais atraente do que planejar o futuro (Savickas, 2003). Por isso, indícios sobre o papel do apego no contexto de trabalho são observados já durante a vivência universitária.
Desenvolvimento de Carreira em Universitários
Estudos sobre apego e a carreira de universitários evidenciam que: indivíduos com um estilo de apego seguro têm percepções positivas de si e dos outros, percebem autoeficácia na tomada de decisões de carreira e regularmente se esforçam para atingir os objetivos que estabelecem para si. Indivíduos com apego evitativo também exibem autoeficácia em relação à tomada de decisão na carreira, apesar da autopercepção negativa e do medo de rejeição. Isso ocorre, pois coletam informações sobre as carreiras que escolhem, se familiarizando com sua escolha e com eles mesmos (Bolat & Odacı, 2017).
Na literatura existente sobre o assunto, observa-se também a relação entre a dificuldade de tomar decisões sobre a futura carreira acadêmica e profissional, a autoestima e o apego aos pais (Emmanuelle, 2009). Evidencia-se que os pais são as figuras centrais na elaboração dos planos de carreira de jovens e desenvolvimento vocacional dos filhos (Carvalho & Taveira, 2010). Há também indicadores de que as expectativas parentais estão associadas diretamente com as aspirações de carreira dos adolescentes, ou indiretamente, por meio da autoeficácia e das expectativas dos próprios adolescentes (Sawitri, Creed, & Zimmer-Gembeck, 2015).
De acordo com Super (1980), a carreira é uma construção que envolve a combinação e sequência de papéis desempenhados por uma pessoa ao longo da vida e em diferentes contextos, inclusive o laboral. Ao longo dessa construção, os indivíduos devem tomar decisões e empreender ações para concluir tarefas e objetivos de desenvolvimento, como ingressar em um curso superior. Para isso, envolvem-se em atividades de autorreflexão e autoconhecimento, busca de informações, identificação e seleção de alternativas possíveis, consideração de valores e expectativas. Só então, espera-se que façam uma escolha de curso superior que reflita o seu autoconceito, e que permita comprometerem-se, ainda que experimentalmente, com uma profissão.
Uma vez realizada a escolha, e após o ingresso na universidade, os jovens passam por um novo período de exploração e adaptação que envolve, entre outros fatores, os acadêmicos e profissionais. Devem lidar com novas responsabilidades, diferentes formas de ensino e avaliação, busca pela identidade profissional, tomada de decisões, compromisso com as metas estabelecidas. Isso requer capacidade de avaliar as experiências passadas, seu impacto sobre a realidade presente e as possibilidades em relação ao futuro (Noronha & Lamas, 2014). É durante esse processo de adaptação que emerge a satisfação ou a insatisfação com o curso (Ambiel, Hernández, & Martins, 2016), fenômeno que está relacionado negativamente com intenções de troca de curso (Monteiro & Almeida, 2015) e pode ser entendido como um reflexo comportamental à realidade experienciada pelo indivíduo (Ambiel et al., 2016).
Tendo em vista que os estudantes universitários constituem um grupo de profissionais em formação, e que neles são depositadas expectativas de sucesso, satisfação e de retorno para a sociedade (Noronha & Lamas, 2014), faz-se importante investigar quais as possíveis implicações dos estilos de apego que os caracterizam para a avaliação que fazem de sua carreira no presente e para as expectativas em relação à carreira, no futuro. A justificativa para isso é que o processo de tomada de decisão sobre carreira começa cedo, e as decisões dos jovens tendem a ser modeladas inclusive pelo estilo de apego desenvolvido na relação com os pais, sendo adolescentes com apego seguro mais abertos à orientação e exploração profissional (Almeida, Melo-Silva, & Santos, 2017).
Foi, portanto, objetivo deste estudo analisar como o apego influencia a expectativa de sucesso de carreira, além de comparar aspectos de autoeficácia, satisfação com a vida e expectativa de sucesso de carreira entre indivíduos com características de apego seguro e inseguro. Pretendeu-se testar um modelo de mediação, avaliando o papel da a satisfação com a vida e da autoeficácia na expectativa futura de carreira, conforme ilustra a Figura 1.
A hipótese mediacional norteadora do estudo pressupõe que as pessoas de estilo de apego seguro (VI) terão maiores percepções de satisfação com a vida (M1). Segundo estudos prévios, indivíduos com perfil de vinculação segura comumente apresentam características de maior autoestima (Brennan et al.,1998), além de percepções mais favoráveis sobre seu contexto de vida (De Andrade et al., 2018). Esses achados permitem hipotetizar que tenham maior percepção de autoeficácia (M2), variável já reconhecida como preditora de consequentes profissionais e de carreira positivos (Ambiel, Moreira, Oliveira, & Hernandez, 2018), a qual impactará a expectativa de futuro êxito profissional (VD).
Método
Participantes
Participaram da pesquisa 110 adultos universitários de um estado do sudeste brasileiros recrutados por conveniência e selecionados a partir do método CORP Wachelke, Natividade, De Andrade, Wolter & Camargo, 2014). Dentre os participantes, 90 eram do sexo feminino e 20 do sexo masculino. A média de idade da amostra foi de 23,8 anos (DP = 6,69 anos). Entre os participantes 60,1% declaram ser estudantes de instituições públicas de ensino superior, sendo as principais áreas de formação: psicologia (14%), engenharias (12%), ciências jurídicas (10%) e ciências econômicas ou contabilidade (7,10%). Todos integrantes de períodos finais de seus cursos universitários.
Instrumentos
Para realização desta pesquisa foi organizado um formulário de pesquisa on-line contendo as seguintes seções:
a) Questionário sociodemográfio. Compsto por perguntas para caracterizar a amostra, como sexo, idade, curso superior;
b) Short Workplace Attachment Measure (SWAM). Escala para avaliação de apego em relações de trabalho (Leiter et al., 2015) constituída por 10 itens distribuídos nas dimensões de apego evitativo (exemplo de item: Costumo ter amigos próximos no trabalho) e apego ansioso (exemplo de item: Eu me preocupo de não ser valorizado pelos meus colegas de trabalho da mesma forma que os valorizo). A versão adaptada para uso no Brasil apresentou indicadores de precisão ômega superiores a .78 (De Andrade, Tokumaru & Leiter, no prelo). Para o presente estudo os resultados dos dois fatores da SWAM foram também categorizados em uma única variável, gerando a classificação do estilo do apego individual em inseguro e seguro;
c) Escala de Satisfação com a vida. A medida de cinco itens avalia aspectos gerais da satisfação com a vida (exemplo de item: A minha vida está próxima do meu ideal). As evidências psicométricas do instrumento no Brasil são positivas e o indicador de precisão, superior a .87 (Zanon, Bardagi, Layous & Hutz, 2014);
d) Escala de expectativas de futuro de carreira. Consiste em um conjunto de três itens criados pelos autores do artigo para avaliar a perspectiva de êxito no futuro profissional (exemplo de item: Espero poder escolher entre diversas oportunidades de carreira no futuro). O indicador de precisão do instrumento na amostra do presente estudo foi superior a .80;
e) Escala de Autoeficácia (Meneses & Abbad, 2010), conjunto de nove itens que avaliavam dimensões positivas da autoeficácia (exemplo de item: Confio nas minhas habilidades).
Todos os itens dos instrumentos foram respondidos por escalas do tipo Likert de cinco pontos, sendo 1 = discordo muito e 5 = concordo muito, possuindo indicador de precisão alfa de Cronbach de .78.
Procedimentos de coleta e análise dos dados
A coleta de dados para este estudo foi realizada pelo método CORP (Wachelke, et al., 2014), e envolveu o recrutamento presencial de participantes em salas de aula de instituições de ensino superior privadas e públicas voluntárias. Com devidas autorizações dos responsáveis institucionais, os pesquisadores apresentaram os objetivos do estudo durante os intervalos das aulas, na sequência era solicitado aos interessados manifestação de concordância ou não em participar da pesquisa, com posterior registro de e-mail de contato em um protocolo de coleta de dados dos interessados. Posteriormente foram enviados convites personalizados por e-mail. Conforme orienta o CORP, após identificar o perfil dos participantes, os pesquisadores enviavam uma breve mensagem com informações do estudo e convite para participar do mesmo. Os participantes que aceitavam responder a pesquisa recebiam uma segunda mensagem com link para o formulário online. O tempo médio de respostas dos participantes foi de 15 minutos. Após coletados, os dados foram analisados com auxílio do pacote estatístico SPSS 23 e o plug-in Macro Process (disponível em: http://processmacro.org; Hayes, 2018).
Primeiramente realizou-se uma inspeção dos dados para eliminação de dados discrepantes. Sequencialmente categorizou-se os dados das medidas psicológicas utilizadas computando-se o escore de medias dos subfatores resultantes. Sequencialmente realizou-se análises descritivas com todas as variáveis de estudo, além de correlações parciais. Especificamente a condução do procedimento de análise de medição, seguiu a estruturação da classificação tipológica do estilo de apego dos participantes (inseguro = 0 e; seguro = 1), conforme pressuposto do modelo de Brennan et al. (1998). A classificação dos participantes na tipologia de apego seguro considerou pontuações de média igual ou menores que 2,5 em ambas as dimensões da SWAM (ansiedade e evitação). Para classificação de apego inseguro, considerou-se que em ao menos uma das dimensões de ansiedade ou evitação os participantes deveriam ter uma pontuação igual ou superior a 3,5. A pontuação resultante viabilizou a categorização equitativa de 55 participantes em cada grupo (inseguro e seguro), bem como a criação de uma variável ordinal de 0 a 1, delineadora do perfil de apego individual. Realizadas tais modificações, procedeu-se a análise da mediação das variáveis hipotéticas, sequenciando-se procedimentos de regressão múltipla conforme Hayes (2018), calculando-se a estimação dos efeitos diretos e indiretos do modelo proposto.
Procedimentos Éticos
O presente estudo derivou de um projeto amplo submetido à avaliação do Comitê de Ética da universidade onde os dados foram coletados, sob o número 38697914.8.0000.5542. Os participantes da pesquisa foram devidamente esclarecidos sobre os objetivos do estudo a partir da leitura e concordância com termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). Esse procedimento adequou-se às Diretrizes e Normas de Pesquisa com Seres Humanos da Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde do Brasil.
Resultados
Inicialmente realizou-se uma análise comparativa das variáveis do estudo segundo a tipologia de apego a partir do teste t independente. Os resultados da análise apontaram que todos os construtos objetos desta investigação obtiveram diferenças estatísticas segundo o tipo de apego. A Tabela 1 apresenta os dados descritivos do estudo e as correlações das variáveis das investigadas.
Nota: Autoefic. (autoeficácia); Sat.vida (satisfação com a vida); Fut. Car. (perspectiva futura de carreira).
Os participantes com apego do tipo seguro apresentaram escores mais elevados para: autoeficácia (t(108) = -3,99 para p<0,001; (d = 0,78)); satisfação com a vida (t(108) = -3,56 para p<0,001; (d = 0,67)); e Perspectiva futura de carreira (t(108) = -2,11 para p<0,05; (d = 0,41)). Com base na matriz de correlações de Pearson, apresentada na Tabela 1, observa-se, no grupo de participantes com apego inseguro, correlação positiva e significativa, embora fraca, entre a satisfação com a vida e a autoeficácia. No grupo de participantes com apego seguro, por sua vez, houve correlações positivas, significativas e moderadas entre satisfação com a vida e autoeficácia, assim como entre autoeficácia e perspectiva futura de carreira. Esse resultado indica que, para os profissionais com apego seguro, existe relação entre a autoeficácia e uma avaliação positiva sobre o presente, mas também sobre o futuro, o que não ocorre com aqueles que têm apego inseguro.
Procurando compreender o efeito direto e indireto do apego sobre a expectativa de sucesso futuro de carreira, procedeu-se um teste de mediação múltipla seriada, com base na PROCESS. O modelo foi testado com bootstrap com 10000 simulações. A Figura 2 apresenta o modelo empiricamente testado.
A análise do modelo permite evidenciar que satisfação com a vida e autoeficácia medeiam a relação entre apego e expectativa de sucesso de carreira. A relação direta de apego e expectativa de sucesso de carreira não foi significativa (c´= 0,11; p > 0,47). O modelo mediacional proposto além de apontar o efeito seriado da mediação de satisfação com a vida e autoeficácia em relação ao apego, apresenta um modelo explicativo e significativo da expectativa de sucesso de carreira (c = 0,30, p<0,01). Do ponto de vista de uma interpretação psicológica, os resultados apontam que o apego afeta positivamente a expectativa de sucesso de carreira, apenas em contexto de uma autoavaliação positiva da vida (satisfação com a vida) e na relação com a crença pessoal de realização (autoeficácia).
Discussão
Os achados do presente artigo apontam diferenças entre os indivíduos com características de apego seguro e inseguro com relação a como a autoeficácia e a satisfação com vida impactam as expectativas de carreira. A generalização das consequências do apego para diferentes contextos de vida adulta foi apontada por Hazan e Shaver (1990). Corroborando os achados desta pesquisa, evidências de diferentes estudo apontam que as características individuais do apego potencializam efeitos em contexto diversos, como a interação trabalho-família (De Andrade et al., 2018), aspectos de saúde na interação com a vida universitária (Leiter et al., 2015), além de afetar percepções de barreiras profissionais e crenças de desempenho acadêmico-laboral (Wright, 2017).
Os resultados permitem ainda compreender de maneira mais clara a relação entre o apego, a satisfação com a vida e a autoeficácia e a expectativa de sucesso de carreira no futuro em uma amostra de universitários. Mais especificamente, ao analisar os mecanismos psicológicos de influência do apego sobre a expectativa de sucesso de carreira de universitários, os testes dos modelos de mediação apontam que a primeira variável não é capaz de predizer de forma significativa a segunda. Porém, ao buscarmos mecanismos explicativos por outros fenômenos psicológicos, no caso deste estudo, satisfação com a vida e autoeficácia, observa-se uma relação preditiva positiva. Ou seja, o apego tem potencial de afetar aspectos futuros de carreira a partir de aspectos pessoais e contextuais que promovam percepções positivas sobre os eventos da vida, bem como a formulação de um padrão de crenças pessoais de eficácia e realização com as tarefas.
Em outras palavras, foi possível observar que universitários com características de apego seguro percebem ter níveis mais elevados de autoeficácia, satisfação com a vida e expectativa de sucesso futuro de carreira. Essa constatação amplia a observação de Savickas (2003) acerca da relação entre autoeficácia e o planejamento do futuro, ao evidenciar que quando o indivíduo se sente seguro e satisfeito pode ser atraente viver o presente, assim como planejar o futuro. Ainda a respeito desse resultado, é possível pensar que os indivíduos que apresentam apego seguro conservam características mais saudáveis de vínculo interpessoal ao longo do ciclo de vida (Hazan & Shaver, 1990), fato que favorece a percepção de maior felicidade e satisfação com a vida (Reizer, 2019), além do desenvolvimento de um padrão de crenças pessoais mais ajustadas (Wright, 2017).
O efeito mediador percebido do presente estudo foi favorecido pelas estratégias recentes de análise de dados de Macro Process (Hayes, 2018). Se estas não houvessem sido aplicadas, não teria sido possível observar a relação causal indireta entre apego e expectativa futura de sucesso de carreira. O mecanismo operante da satisfação com a vida e autoeficácia, favorece uma análise parcimoniosa do apego, não compreendendo este como um traço isolado, mas sim um preditor dependente das autoavaliações pessoais dos contextos de vida, das expectativas de vida (Birkett, Carmichael, & Duberley, 2017) e o padrão individual de crenças sobre habilidades (Wright, 2017).
As implicações dos resultados para a prática na área de orientação profissional e de carreira são evidentes. O aconselhamento de carreira tem como objetivo ajudar as pessoas a implementarem seus autoconceitos na sociedade, através de escolhas relacionadas ao trabalho. Por este motivo, as carreiras envolvem a integração psicossocial dos autoconceitos do trabalho e dos papéis ocupacionais, processo que é motivado pelas expectativas sociais sobre como a vida deve ser vivida. Portanto, a essência da construção das carreiras reside em transações recursivas entre o autoconceito e o papel social (Savickas, 2003). Tendo em vista que não é possível e nem seria eficaz (considerando-se os resultados de mediação) interferir nos estilos de apego dos estudantes, é primordial possibilitar reflexão sobre e, quando necessário, ressignificação de experiências de vida prévias. Isso deve ser feito a fim de incrementar a percepção individual sobre a autoeficácia e a satisfação com o contexto de vida atual para possibilitar expectativas mais positivas em relação ao futuro.
A ressignificação é possível, por exemplo, por meio do trabalho com técnicas que envolvam a narrativa sobre a carreira subjetiva. Esta orienta, regula e sustenta o comportamento vocacional e emerge do processo ativo de atribuir sentido (e não de descobrir o sentido) às experiências prévias. Consiste em uma reflexividade biográfica que é produzida no discurso e tornada “real” no comportamento vocacional (Savickas, 2003).
Ao estimular que contem suas histórias de carreira (inclusive sobre insucessos e insatisfações), os orientadores podem ajudar os clientes a analisarem, sob outras perspectivas, experiências específicas. Desta forma, será possível produzir uma verdade narrativa por meio da qual podem viver de forma mais satisfatória. Dito de outra forma, facilitar o processo de desenvolvimento de carreira requer que o indivíduo perceba que sua situação de carreira atual resulta de experiências passadas e conecta estas experiências a um futuro que existe apenas como ideia, mas que pode ser planejado. Ao possibilitar ao cliente essa reflexão, o orientador fornece um espaço seguro para os clientes discutirem seus sonhos e ansiedades e oferece uma base segura a partir da qual explorar ambientes sociais em que podem desenvolver uma sensação de confiança (Savickas, 2003).
A possibilidade de experimentar novos ambientes e relações e poder refletir sobre ambos na companhia do orientador, permite que os estudantes possam ampliar o conhecimento sobre si. Dessa forma, tornam-se mais capazes de reconhecer suas fortalezas e fragilidades e também de fazer escolhas mais alinhadas ao seu autoconceito (Super, 1980). Estas por sua vez, tendem a ser mais satisfatórias e a levar ao incremento da autoeficácia, sendo assim, embora o aconselhamento de carreira não aja diretamente sobre os estilos de apego, pode estabelecer um contexto propício à exploração, reflexão e ressignificação de experiências, capaz de contribuir para o desenvolvimento de expectativas mais positivas em relação ao futuro da carreira.
Os resultados do presente estudo somam-se a recentes pesquisas que apontam a interação do construto apego como fenômenos da vida adulta e trabalho (De Andrade et al., 2018; Leiter et al., 2015; Reizer, 2019; Wright, 2017). Todavia as limitações são importantes de serem destacadas, por exemplo, a natureza amostral do estudo, que dificulta um maior potencial de generalização dos dados, bem como a natureza metodológica da escala de apego empregada, a qual não viabiliza a geração de um escore geral de apego, sendo este operacionalizado no estudo a partir de uma função percentílica de análise dos pesquisadores.
Para futuros estudos, sugere-se além da revisão dos aspectos metodológicos supracitados, uma análise condicionada por moderadores, como a natureza da instituição (pública x privada) e a percepção acerca do mercado de trabalho. Além disso, sugere-se que sejam avaliadas características de envolvimento com a carreira, como a realização de estágio, experiência profissional entre outras atividades inerentes as vivências acadêmicas dos universitários.