Nos últimos anos, verificou-se um crescimento significativo de transtornos mentais nos trabalhadores (Almada, 2019; Bolsoni-Silva et al., 2018). Entre os fatores antecedentes, destacam-se a carga horária, o ritmo de trabalho, o aumento de tarefas para uma mesma ocupação, tecnológicos e a crescente demanda por resultados rápidos, seja na esfera pública ou privada (Diehl & Carlotto, 2014; Gil-Monte et al., 2011).
A síndrome de burnout é um dos distúrbios psicológicos que afeta grande parte dos trabalhadores em todo o mundo (Bakker & Costa, 2014). Trata-se de um problema que, em geral, acomete os caregiving (cuidadores), ou seja, profissionais que desenvolvem o trabalho direta, constante e emocionalmente envolvidos com os usuários, sejam eles alunos, pacientes ou clientes (Leiter & Maslach, 2014; Martínez et al., 2020). O trabalho docente, foco deste artigo, caracteriza-se como uma profissão caregive (Silva et al., 2015) e, uma das síndromes mais frequentes entre os professores é, justamente, o burnout (Hasan & Bao, 2020; Jesus-Pereira et al., 2020).
Em atenção a tal realidade, a Organização Mundial da Saúde incluiu o burnout na Classificação Internacional de Doenças, em janeiro de 2022, devido às altas taxas de prevalência e incidência da síndrome na população mundial (Almeida, 2020). International Stress Management Association (ISMA, 2019) estimou que, em 2019, 32% dos profissionais em todo o mundo apresentaram tal adoecimento. Particularmente, no Brasil, Filippi e Bonfim (2020) publicaram um estudo indicando que 72% dos trabalhadores apresentavam considerável nível de estresse associado à profissão e, desses, 30%, provavelmente, estariam com burnout.
No tocante ao diagnóstico, o Ministério da Saúde do Brasil não exige notificação compulsória, portanto, há certa dificuldade na mensuração do acometimento da síndrome (Carlotto & Câmara, 2018). Não obstante, o Ministério da Previdência Social publicou um relatório indicando que, entre os anos de 2017 e 2018, houve um aumento de 114,8% na concessão de benefícios de auxílio-doença por queixas relacionadas ao trabalho (Carlotto & Câmara, 2018). Outro dado relevante, segundo o Instituto de Psicologia e Controle de Stress (IPCS - Brasil), sinaliza que, em 2019, um a cada três brasileiros sofriam com o esgotamento laboral (IPCS - Brasil, 2019). Esse dado foi ratificado pelo estudo de Amaral (2018), que averiguou que 34,3% dos trabalhadores brasileiros são afetados, em algum momento, pelo burnout. Desse modo, essa síndrome demanda avaliação e intervenção imediatas, pois as consequências são negativas e significativas na saúde do trabalhador de um modo geral (Moreta-Herrera et al., 2022).
O burnout foi identificado na década de 1970, nos Estados Unidos e, rapidamente, os estudos expandiram-se para outros países (Maslach & Jackson, 1981). No Brasil, nos anos de 1990, iniciaram-se as pesquisas com essa temática (Benevides-Pereira, 2015). O burnout apresenta-se como uma reação ao estresse ocupacional crônico (Dalcin & Carlotto, 2018; Gil-Monte et al., 2011; Leiter & Maslach, 2014) e manifesta-se por meio de fadiga, dores de cabeça, exaustão emocional, problemas de concentração, mal-estar físico, sentimentos negativos relacionados ao trabalho e eficácia profissional reduzida (Organização Mundial da Saúde, 2019).
Segundo Benevides-Pereira (2015), o termo burnout, em Psicologia, começou a ser usado para explicar a ausência de energia e o desânimo em relação ao trabalho, especialmente, entre profissionais das áreas de saúde e educação. De acordo com estudos dessa mesma autora, a síndrome é composta por três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e baixa realização profissional. A primeira reflete a falta de disposição física e mental para o trabalho. A seguinte diz respeito à resistência que o trabalhador demonstra em relação aos usuários, que são por ele tratados com impaciência, cinismo, ironia e distanciamento emocional. Por sua vez, a terceira dimensão apresenta a queda no desempenho profissional (Benevides-Pereira, 2015). Essa baixa realização profissional é atribuída ao sentimento de ineficiência (Jarruche & Mucci, 2021).
As consequências do burnout relacionam-se com disfunções cognitivas, dificuldades no relacionamento interpessoal, distúrbios do sono, humor e alimentação, absenteísmo, pedidos de demissão e instalação de morbidades, tal como o transtorno depressivo (Almeida et al., 2020; Buscatto, 2018). Outro desdobramento importante da síndrome é a tendência ao isolamento social, prejudicando, por exemplo, a resolução de conflitos cotidianos e a execução da atividade laboral (Lucca, 2021). Há antecedentes organizacionais que influenciam no surgimento do burnout, como longas jornadas de trabalho, falta de ergonomia, lideranças autocráticas e competição acirrada (Pizano et al., 2022).
Em relação à carreira docente, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) relatou que, junto aos profissionais da saúde, os professores são os mais acometidos pelo burnout (Carlotto & Camara, 2018; Pfeffer, 2019). Ainda, segundo Gil-Monte et al. (2011) e Borges e Lauxen (2016), essa síndrome atinge professores de diferentes países e comporta-se com caráter epidêmico mundial. Nessa perspectiva, uma revisão sistemática verificou que os professores brasileiros, especialmente do ensino fundamental e médio, estão entre os profissionais com alto risco para desenvolver a síndrome (Diehl & Marin, 2016). Além disso, com o passar do tempo, o profissional docente desgasta-se pela carência de reconhecimento, desmotivação, relações interpessoais estressoras, violência escolar, muitas responsabilidades envolvendo crianças e adolescentes, baixa remuneração, entre outros fatores (Diehl & Marin, 2016).
Ainda sobre o contexto escolar, outra revisão de literatura constatou altos índices de esgotamento profissional entre professores de vários países, inclusive do Brasil, chegando ao indicador de até 64% de presença da síndrome (Guimarães & Freitas, 2022). Esse fato é preocupante, pois a sala de aula não se configura como um espaço restrito à transmissibilidade de saberes, mas como um lugar que pode facilitar o desenvolvimento de relações interpessoais, sob a liderança do professor (Carlotto et al., 2015; Del Prette & Del Prette, 2022).
Desse modo, o trabalho docente necessita ser criativo e motivador (Achkar, 2013; Fajardo, 2015). Algumas pesquisas indicam que o comportamento dos professores em relação a seus alunos pode favorecer ou dificultar o desenvolvimento de habilidades sociais (Bolsoni-Silva et al., 2015; Del Prette & Del Prette, 2017; 2022; Fonseca, 2012). A síndrome de burnout é um dificultador da docência e, por conseguinte, do desenvolvimento de habilidades sociais dos próprios professores e alunos (Bolsoni-Silva et al., 2015; Del Prette & Del Prette, 2022).
Tendo em vista o professor como um dos principais agentes responsáveis pelo desenvolvimento socioemocional na escola (Del Prette & Del Prette, 2022), as habilidades sociais são um ponto central no trabalho docente. Referem-se às atitudes socialmente valorizadas em determinado contexto, apresentando alta probabilidade de resultados positivos para a pessoa e seu grupo (Del Prette & Del Prette, 2021).
Segundo Del Prette e Del Prette (2021) as classes de habilidades sociais são comunicação, civilidade, fazer e manter amizade, empatia, assertividade, expressar solidariedade, manejar conflitos e resolver problemas interpessoais, expressar afeto e intimidade, coordenar grupo e falar em público. A promoção dessas habilidades vai além do conhecimento técnico, envolvendo competências pessoais e sociais dos próprios professores (Carneiro et al., 2020).
Por outro lado, comportamentos disfuncionais (cinismo, comunicação não-assertiva, etc.) comuns no burnout, quando associados a síndromes e transtornos, são empecilhos à boa convivência (Del Prette & Del Prette, 2022). Nesse sentido, um estudo com médicos residentes, correlacionou a presença/ausência de habilidades sociais com o burnout e verificou que os participantes que não apresentavam a síndrome demonstravam um bom repertório dessas habilidades (Pletti, 2021). Segundo outro estudo empírico, a presença da síndrome estava associada à defasagem no repertório de habilidades sociais (Schoeps et al., 2019).
As habilidades sociais, por sua vez, têm sido apontadas como um fator protetivo ao desenvolvimento do burnout (Mérida-López & Extremera, 2017). De maneira convergente, um estudo de Achkar et al. (2016) constatou que um bom repertório de habilidades sociais associou-se negativamente com o surgimento do burnout, atuando como um fator preventivo à saúde mental.
Outra possibilidade de prevenir a síndrome de burnout é a adoção de estratégias de gerenciamento do estresse, chamadas coping (Soares et al., 2019), comprovado por pesquisas empíricas, especialmente entre os profissionais de saúde e educação (Perniciotti et al., 2020). Portanto, o coping pode ser definido como um conjunto de esforços emocionais, cognitivos e comportamentais utilizados quando as demandas e exigências socioambientais são maiores do que os recursos pessoais para lidar com elas (Gil-Monte et al., 2011; Lazarus & Folkman, 1984; Martínez et al., 2020). O coping é autorregulativo e capaz de reduzir os sentimentos negativos decorrentes do estresse (Soares et al., 2019). Segundo Sandín e Chorot (2003), um indivíduo pode utilizar diversas estratégias para gerenciar o estresse e, ainda segundo Luca et al. (2020), elas podem ser adotadas no decorrer da vida, dependendo das necessidades individuais.
Há duas classes de coping, a primeira é focalizada no problema (centro estressor), cujas subclasses são confronto, distanciamento, fuga-esquiva e resolução de problemas; a segunda tem foco na emoção (regulação emocional) e divide-se em autocontrole, suporte social, aceitação da responsabilidade e reavaliação positiva (Lazarus & Folkman, 1984). Um estudo de Cabellos et al. (2020) indicou que docentes do ensino superior adotam, principalmente, as estratégias de reavaliação positiva e de suporte social.
Tais recursos de enfrentamento são preventivos ao burnout (Dalcin & Carlotto, 2018; Martínez et al., 2020; Yin et al., 2018). Um estudo de Ramón (2015) concluiu que estratégias focadas na resolução de problemas e na reavaliação positiva estão relacionadas à maior realização profissional. Além disso, Soares et al., (2019) identificaram que um amplo repertório de habilidades sociais pode aumentar o êxito no enfrentamento do contexto estressor. Essa associação entre coping e habilidades sociais também foi investigada por Bezerra et al. (2022), cujo estudo indicou que há uma ampliação das estratégias de resolução de problemas a partir do desenvolvimento de habilidades sociais. Além disso, Santos e Soares (2020) pesquisaram entre acadêmicos essa mesma associação de variáveis e concluíram que há uma correlação positiva.
Com base no que foi exposto e, embora haja estudos que associaram síndrome de burnout, habilidades sociais e coping, não foram encontradas pesquisas, no Brasil ou em outro país, que avaliassem tais variáveis em professores do Ensino Fundamental, concomitantemente, uma vez que compõem um grupo com condições precárias de trabalho (Guimarães & Freitas, 2022). Portanto, as questões que nortearam a presente investigação foram: qual a relação entre a síndrome de burnout e o repertório de habilidades sociais? Quais estratégias de enfrentamento são adotadas por professores diante do esgotamento profissional? Qual a associação entre habilidades sociais e coping? Como as variáveis sócio-ocupacionais dos professores se relacionam com a síndrome? Desse modo, essa pesquisa apresenta-se como uma oportunidade de preencher a lacuna de estudos e, para responder a tais questionamentos, foram elaborados os objetivos que serão apresentados a seguir.
O objetivo geral deste estudo foi investigar a associações entre variáveis sócio-ocupacionais, burnout, habilidades sociais e coping em professores do ensino fundamental. Por sua vez, os objetivos específicos foram: caracterizar o repertório de habilidades sociais do grupo estudado; examinar a relação entre síndrome de burnout e habilidades sociais; investigar a relação entre síndrome de burnout e coping; verificar a relação entre habilidades sociais e coping; identificar as estratégias de coping utilizadas pelos professores; analisar o perfil sócio-ocupacional dos participantes e associar a síndrome de burnout a variáveis sócio-ocupacionais como idade, estado civil, tempo de trabalho, número de turmas e escolas, carga horária semanal e condições de saúde.
Materiais e método
Participantes
Participaram do estudo 166 professores de 13 escolas públicas alocadas em uma superintendência regional de ensino do estado de Minas Gerais. Em relação aos dados pessoais, os resultados demonstraram que a maioria amostral foi do sexo feminino (72,9 %) e a minoria do sexo masculino (27,1 %). A idade média dos participantes foi de 41 anos, com desvio padrão de 10,67 anos. Quanto ao estado civil, a maioria declarou-se casada (49,4 %), seguida por solteiros (31,9 %). A quantidade de filhos variou, com a maioria dos participantes tendo entre 1 e 2 filhos (47 %). Metade dos participantes apresentou-se como provedor da família (50 %).
Em relação aos dados ocupacionais, a maior parte dos participantes trabalhava em apenas uma escola (55,4 %) em sua maioria de origem pública (89,8 %). A carga horária semanal média foi de 35 horas. Os participantes lecionavam em diversas séries do ensino fundamental, com a maior proporção lecionando para o 6°, 7º e 8º ano (51,2 % cada), seguido pelo 9º ano (45,8 %). O tempo médio de trabalho como professor foi de 14,22 anos. A maioria dos participantes possuía formação em Ciências Humanas (62,7 %), seguida por Ciências Biológicas (18,1 %) e Ciências Exatas (16,3 %). A pós-graduação foi predominante na amostra, com 78,9 % dos participantes possuindo esse nível de formação.
A respeito das informações relacionadas à saúde, a maioria dos participantes (80,8 %) foi ao médico há menos de 1 ano. Em relação à licença-saúde no 1º semestre do corrente (2023), cerca de um quinto dos participantes (20,5 %) necessitaram dela, enquanto a maioria (78,9 %) não a utilizou. A maioria dos participantes (57,2 %) não fazia tratamento contínuo de saúde. Quanto a queixas de saúde, aproximadamente, 44 % dos participantes tiveram alguma queixa no momento da coleta e, entre eles, 44 % relacionavam-nas ao trabalho docente. Por fim, a maioria dos participantes (77,1 %) expressou o desejo de receber treinamento em habilidades sociais e/ou material sobre desenvolvimento socioemocional. A descrição completa dos dados amostrais está na Tabela 1 T2.
Instrumentos
Questionário Sociodemográfico e Ocupacional: elaborado pelos autores deste estudo, foi composto por perguntas sobre dados pessoais, ocupacionais e relacionados à saúde. Objetivou caracterizar a amostra em relação a sexo, idade, estado civil, composição familiar, renda e gastos mensais, número de escolas e turmas em que lecionavam, carga horária de trabalho, área de formação, disciplinas ofertadas, alunos com necessidades especiais, formação continuada, consultas, especialidades médicas procuradas, queixas, uso de medicamentos, usufruto de licença-saúde, tratamentos e cuidados pessoais.
Inventário de Habilidades Sociais 2 - IHS2-Del-Prette (Del Prette & Del Prette, 2018): instrumento de autorrelato que permite caracterizar o desempenho social de um indivíduo em situações de trabalho, escola, convivência familiar e relacionamentos. Utiliza a escala Likert de cinco pontos, que expressa níveis de acordo ou desacordo diante de uma determinada declaração, sendo adequada para medir as reações, atitudes e comportamentos de uma pessoa (Feijó et al., 2020). Nesse inventário, as opções são nunca ou raramente, com pouca frequência, com regular frequência, muito frequentemente e sempre ou quase sempre. Esse instrumento é composto por 38 itens que foram distribuídos em cinco fatores: conversação assertiva, abordagem afetivo-sexual, expressão de sentimento positivo, autocontrole/enfrentamento e desenvoltura social. Há a aferição de escores total e fatorial que são convertidos em percentis. Esse varia de 01 a 100, sendo que, por exemplo, de 01 a 25 tem-se um “repertório inferior de habilidades sociais” e, de 75 a 100, um “repertório altamente elaborado”. Os dados psicométricos sinalizam que a estrutura fatorial foi obtida pelo método Exploratory Structural Equation Modeling, apresentando consistência interna excelente (alfa de Cronbach: 0,944). A estabilidade temporal teste-reteste apresentou r = 0,90 e p < 0,001. A validade convergente utilizou o inventário de Rathus (r = 0,79 e p < 0,01). No tocante à correlação interfatorial os resultados foram r =0,743 e p < 0,001.
Inventário da Síndrome de Burnout - ISB (Benevides-Pereira, 2015): instrumento de autorrelato, cujo objetivo é estimar a síndrome e compreender os fatores organizacionais, pessoais e relacionais que a desencadeiam, utilizando a escala Likert de 5 pontos. Essa escala oferece níveis de acordo ou desacordo diante de uma determinada premissa, sendo indicada para medir as reações, atitudes e comportamento de uma pessoa (Feijó et al., 2020). Nesse instrumento, as opções de Likert são nunca, raramente, às vezes, frequentemente e muito frequentemente. Validado no Brasil por meio de análise fatorial exploratória, o ISB é composto por 35 itens que se dividem em quatro fatores: condições organizacionais (1), exaustão emocional (2), despersonalização (3) e realização profissional (4). Tais fatores são divididos em: parte I (fator 1), com índice de confiabilidade de alfa de Cronbach = 0,842; parte II (fatores 2, 3 e 4) com índices de confiabilidade de alfa de Cronbach = F2: 0,86, F3 = 0,90 e F4 = 0,80.
Inventário de Estratégias de Coping - IEC (Savóia et al., 1996): elaborado por Folkman e Lazarus (1985), validado no Brasil (Savóia et al., 1996), tem o objetivo de identificar ações e pensamentos utilizados pelas pessoas para lidar com centros estressores. Adota a escala Likert, oferecendo os seguintes níveis de frequência de respostas diante de uma determinada afirmação (Feijó et al., 2020): não usei esta estratégia, usei um pouco, usei bastante e usei frequentemente. O instrumento é composto por 66 itens divididos em oito fatores: confronto, afastamento, autocontrole, suporte social, aceitação de responsabilidade, fuga-esquiva, resolução de problemas e reavaliação positiva. O escore geral variou de 0,424 a 0,688 no teste-reteste e houve uma correlação de 0,704 no método das metades (Spearman e Brown), com p < 0,001, indicando uma ótima consistência interna.
Procedimento ético e de coleta de dados
O presente artigo deriva de um recorte de um projeto de pesquisa mais amplo, que foi aprovado pelo Comitê de Ética de uma universidade federal de Minas Gerais, (CAAE é 64068322.1.0000.5151). Os dados foram coletados entre fevereiro e julho de 2023. As 13 escolas foram selecionadas por conveniência e todos os professores do ensino fundamental foram convidados, observando-se os critérios de inclusão e exclusão. Após esclarecimentos, solicitou-se a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido de cada respondente. Aplicou-se, coletivamente, os inventários de coleta de dados. Foram realizadas 31 visitas escolares, pelo menos duas em cada escola, com o objetivo de apresentar o projeto à direção e, na sequência, reunir os professores para a coleta de dados. A duração média da coleta foi de 2 horas e 35 minutos. A superintendência de ensino a que pertencem as escolas enviou um memorando a todas, informando sobre o estudo, após rigorosa análise por parte da Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais, que emitiu um ofício autorizando essa. Todos os instrumentos foram do tipo autorrelato e continham as instruções de preenchimento. Ademais, os pesquisadores estiveram presentes nas reuniões docentes para responder eventuais dúvidas e recolherem os questionários e o TCLE.
Análise dos dados
Para o tratamento e análise de dados foi utilizado o Programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS), versão 20.0 para Windows (Field, 2021). Os tratamentos estatísticos foram conduzidos considerando o nível de significância de p < 0,05, além de utilizadas análises descritivas com o cálculo de médias, desvios-padrão, mínimos, máximos e percentuais para a descrição da amostra. Para identificar as variáveis utilizadas na análise de regressão múltipla, foram utilizados o teste da correlação de Pearson, o teste t de Student para amostras independentes e a análise de variância (ANOVA) para comparação das médias de três ou mais grupos. Realizou-se a análise de regressão múltipla (Draper & Smith, 1998), visando identificar os fatores preditores para a variável dependente (burnout). Nesse caso, as variáveis independentes que permaneceram no modelo foram aquelas identificadas como significativas (p-valor < 0,05) e as que apresentaram p-valor < 0,25, segundo recomendações de Hosmer e Lemeshow (2018). Além disso, foram desconsideradas as variáveis independentes significativas, mas com muitos dados faltantes (mais de cinco pessoas deixaram de responder). Foi também utilizado o método stepwise para a seleção das variáveis independentes no modelo de regressão múltipla, com probabilidade de entrada igual a 0,10 e probabilidade de saída igual a 0,15. Por último, após o ajuste do modelo de regressão múltipla, foram obtidas as medidas de qualidade de ajuste.
Resultados
A Tabela 2 apresenta os coeficientes de correlação de Pearson que descrevem as relações entre burnout (ISB), habilidades sociais (IHS-2), coping (IEC) e variáveis sócio-ocupacionais. O ISB global correlacionou-se negativamente com IHS-2 global (r = -0,273, p < 0,01), indicando uma correlação fraca negativa entre a síndrome de burnout e as habilidades sociais gerais dos professores. Igualmente, a correlação negativa é observada entre o ISB global e IHS em cada um dos fatores: fator 1 - conversação assertiva (r = -0,270, p < 0,01), fator 3 - expressão de sentimento positivo (r = -0,239, p < 0,01) e fator 5 - desenvoltura social (r = -0,397, p < 0,01), isto é, quanto menor for a conversação assertiva, a expressão de sentimento positivo e a desenvoltura social, maior será o escore para o burnout. Quanto ao coping (IEC), IEC global tem uma correlação positiva não significativa com ISB global (r = 0,079, p = 0,32), podendo considerar que não há correlação. Entre os fatores de coping, apenas IEC fator 2 - afastamento (r = 0,190, p = 0,02) e fator 6 - fuga-esquiva (r = 0,389, p < 0,01) apresentaram uma correlação positiva significativa com ISB global, indicando, ainda que fracamente e, neste estudo, que quanto maior o afastamento e a fuga-esquiva, maior será o escore do ISB. Os fatores do coping: fator 7 - resolução de problemas (r = -0,215, p < 0,01) e fator 8 - reavaliação positiva (r = -0,158, p < 0,01) apresentaram uma correlação negativa significativa com ISB global, indicando, ainda que fracamente e, considerando o estudo em particular, que quanto menor for o uso das estratégias de resolução de problemas e reavaliação positiva, maior será o escore do ISB. Para as variáveis sócio-ocupacionais, a idade dos professores correlacionou-se negativamente com ISB global (r = -0,241, p < 0,01), sugerindo que quanto mais jovem o professor, maior a tendência à síndrome de burnout. Tendo em vista o resultado desta pesquisa, o tempo de trabalho docente também apresentou uma correlação negativa significativa com ISB global (r = -0,192, p < 0,01), indicando que os professores com menos tempo de experiência apresentaram maiores valores para o escore de burnout.
Notas:r: Coeficiente de correlação de Pearson. Classificação: bem fraca 0,00 a 0,19; correlação fraca 0,20 a 0,39, correlação moderada-; 0,40 a 0,69; correlação forte 0,70 a 0,89; e correlação muito forte 0,90 a 1,0. *p < 0,25.
A Tabela 3 apresenta os tamanhos amostrais, médias, desvios-padrão, estatísticas de teste, p-valor, post-hoc e tamanho do efeito entre o escore global do ISB e algumas variáveis sócio-ocupacionais. Houve efeito médio (d ≥ 0,5) entre o ISB global e estado civil, provimento familiar, usufruto de licença para tratar de saúde, tratamento contínuo de saúde, queixa de saúde relacionada ao trabalho, ou seja, quando o professor era solteiro, provedor de sua família, fez uso de licença para cuidar da saúde no 1º semestre de 2023, apresentou queixa de saúde e relacionou essa demanda ao trabalho docente, fazendo tratamento médico contínuo, maior foi o escore geral para o burnout (ISB).
Notas:n: tamanho amostral; M: média; DP: Desvio Padrão, gl: graus de liberdade, t(gl): valor da estatística do teste t para amostras independentes; glE = graus de liberdade entre os grupos; glD = graus de liberdade dentro dos grupos; F(glE ; glD): valor da estatística da ANOVA; Sig.: p-valor. SSE: Soma dos quadrados entre os grupos; SST: Soma dos quadrados total; MSD: média dos quadrados dentro dos grupos; r: tamanho do efeito para o teste t para amostras independentes = raiz (t2/(t2+gl)) (Field, 2021); (: tamanho do efeito para ANOVA = raiz((SSE - glE*MSD)/(SST + MSD)) (Field, 2021); classificações para o resultado do tamanho do efeito: (0;0,10) = Pequeno (P), (0,10;0,50) = Médio (M), (0,50;1) = Grande (G) (Field, 2021). *Sig. < 0,25
Diante da falta de estudos que permitissem consolidar uma elaboração teórica, realizou-se a regressão linear múltipla, adotando o método de seleção por etapas (stepwise) para definir os preditores significativos do burnout (ISB global) dos professores. As variáveis apresentadas na tabela 1 foram selecionadas a partir da significância do teste t para amostras independentes, da ANOVA, do teste das correlações (Tabela 2) e procurando evitar o efeito de multicolinearidade. As tabelas 2 e 3 mostraram que as variáveis que apresentaram p < 0,25 com a síndrome de burnout (ISB Global) foram: idade, estado civil, quantidade de filhos, provedor da família, tempo de trabalho como professor, necessidade de licença-saúde no 1º semestre de 2023, se faz tratamento contínuo de saúde, se possui alguma queixa atual de saúde, se essa queixa está relacionada ao trabalho docente e a desenvoltura social (IHS Fator 5). Os resultados para a regressão linear múltipla estão apresentados na tabela 4. Os pressupostos para as análises de regressão linear foram analisados e confirmados, isto é, K-S = 0,513 (p = 0,95), garantindo a normalidade dos resíduos e o valor para a estatística de Durbin-Watson foi igual a 2,276, garantindo a independência dos resíduos.
A Tabela 4 apresenta os resultados da regressão linear múltipla para explicar o burnout docente. Essa análise visou identificar quais das variáveis estudadas mais contribuíram para predizer a síndrome. Os resultados indicaram que a desenvoltura social (fator 5 do IHS) foi a variável preditora que mais se destacou (maior valor do beta padronizado em módulo), comparativamente às demais variáveis. Em segundo lugar, foi queixa de saúde relacionada ao trabalho; em seguida, o tempo de serviço como professor; depois, se o docente era provedor da família e, por fim, se fazia tratamento contínuo para a saúde. O modelo de regressão (R = 0,60, F (5, 122) = 13,779, p < 0,001) foi dado por: ISB global = 2,034 + 0,209 x provedor da família -0,015 x tempo de serviço como professor + 0,195 x tratamento contínuo de saúde + 0,395 x queixa relacionada ao trabalho docente - 0,281 x desenvoltura social. Esses resultados indicaram que o escore médio para o ISB global é maior quando o professor apresentar menor desenvoltura social, quanto menor for o seu tempo de serviço como docente, quando faz algum tratamento contínuo para a saúde, quando apresenta queixa atual que se relaciona com o trabalho docente e quando é o provedor da família.
Discussão
O presente estudo constatou uma correlação negativa entre o burnout e as habilidades sociais, estando parcialmente de acordo com os estudos de Almeida et al., (2020) e Buscatto et al., (2018) que encontraram, na presença da síndrome, uma significativa dificuldade de relacionamento interpessoal. Outra investigação indicou que na presença do burnout as pessoas tendiam ao isolamento social e relatavam dificuldades na socialização (Lucca, 2021). Além disso, pesquisas de Bolsoni-Silva et al. (2015) e Del Prette e Del Prette (2017; 2022) apontaram que o burnout foi um dificultador do desenvolvimento de habilidades sociais.
Ainda sobre a associação entre burnout e habilidades sociais, uma pesquisa cujo público-alvo foi composto por médicos residentes encontrou o mesmo resultado do presente estudo identificando correlação negativa entre as variáveis (Pletti, 2021). Em consonância, um estudo de Achkar et al. (2016) evidenciou que um variado repertório de habilidades sociais associou-se negativamente com o burnout. Nessa direção, a pesquisa de Schoeps et al. (2019), com 340 professores espanhóis, constatou que o desenvolvimento de habilidades sociais reduziu a ocorrência da síndrome. Inclusive, entre as habilidades sociais correlacionadas, neste grupo pesquisado, a desenvoltura social (Fator 5) sugeriu maior associação.
Quanto à relação entre burnout e coping não foi encontrada uma correlação significativa nesta pesquisa. Não obstante, o estudo de David e Quintão (2012) comparou o coping entre professores do ensino básico e superior, constatando que os docentes do segmento universitário utilizaram diversificadas estratégias de enfrentamento e apresentaram menores índices de burnout em relação aos da educação básica. Isso auxilia na compreensão da insignificância encontrada neste estudo, pois o público-alvo foi composto por professores do ensino fundamental, grupo que também não apresentou relação entre burnout e coping. Nessa rota, estudos de Ullrich et al. (2012), com 469 professores de escolas da Alemanha, constataram a relevância do coping perante o esgotamento laboral. Além disso, Hallum et al. (2013) evidenciaram que as estratégias focadas na emoção são protetivas contra o burnout. A partir desses diferentes achados, futuras investigações que considerem professores dos diversos segmentos de ensino serão fundamentais para ampliar a discussão.
As estratégias de enfretamento mais adotadas pelos professores deste estudo foram o afastamento e a fuga-esquiva, diferentemente, dos resultados da pesquisa de Cabellos (2020), cujo coping compreendeu, majoritariamente, a reavaliação positiva e o suporte social. Fiorilli et al. (2016) também constataram, a partir de um estudo com 149 docentes italianos, que a falta de suporte social esteve diretamente associada a complicações do burnout. A diferença de resultados talvez se deva a questões culturais, de estruturação de currículo e no tocante à infraestrutura escolar, que pode auxiliar ou atrapalhar o desempenho docente (Ullrich et al., 2012). Por fim, um estudo de Ramón (2015) concluiu que estratégias focadas na resolução de problemas e na reavaliação positiva estiveram relacionadas à maior realização profissional.
No tocante à relação entre habilidades sociais e coping, esta investigação não identificou associação significativa. Contudo, houve correlação positiva entre o repertório de habilidades sociais e as estratégias de suporte social, resolução de problemas e reavaliação positiva. Isso significa que quanto maior o repertório de habilidades sociais, mais os professores utilizaram esses recursos. Parcialmente, o estudo de Fiorilli et al. (2016) corroborou essas informações, pois o suporte social foi a estratégia que mais auxiliou na prevenção do burnout no contexto educacional italiano. Assim, os estudos de Jeter (2013), com professores norte-americanos, consideraram relevante o desenvolvimento socioemocional para a redução do esgotamento laboral e para a adoção correta de coping.
Outro estudo empírico relacionando o repertório de habilidades sociais e o coping foi o de Bezerra et al. (2022), cujos resultados sinalizaram que a aquisição de habilidades sociais potencializou a adoção de estratégias de enfrentamento. A pesquisa cunhada por Soares et al. (2019) descreveu que as habilidades interpessoais colaboraram na resolução de problemas, o que permitiu conjecturar que houve relação entre tais habilidades e estratégias de coping.
No que se refere aos resultados relacionados às variáveis sócio-ocupacionais, constatou-se que o valor médio do escore de burnout aumentou mediante o fato de o professor ser provedor familiar, com maior número de filhos, ser mais novo, menor tempo de serviço como docente, solteiro, quando apresenta queixas de saúde e faz tratamento médico contínuo associado ao trabalho. Finalmente, foi identificado que quanto menor a desenvoltura social docente maior o índice de burnout. Essas variáveis, portanto, foram preditores do esgotamento profissional docente, no presente estudo destacando o déficit de desenvoltura social, mas são sugeridas novas investigações.
Em relação ao provimento da família, o docente demonstrou preocupação com o sustento familiar e, na tentativa de conciliá-lo às demandas profissionais, o desgaste psicológico aumentou, conforme relatou um estudo com 310 docentes (Goebel & Carlotto, 2019). Ainda em relação ao contexto familiar, o número de filhos foi um complicador, possivelmente, porque a tarefa parental acentuou-se à medida em que o número de filhos aumentou, explicando a fadiga decorrente dos múltiplos papéis (Goebel & Carlotto, 2019).
A respeito do menor tempo de trabalho como professor ter sido um dos indicadores da presença do burnout, supôs-se que a experiência em sala de aula contribuiu com o desenvolvimento de habilidades para gerenciar o estresse (Pereira-Neto et al., 2019). Outrossim, estudos de Koga et al. (2015) salientaram que professores com menor tempo de experiência apresentaram mais insegurança, apesar do entusiasmo com a docência. Do mesmo modo, a investigação de Santos et al. (2023) relatou que quanto mais experiente o professor, menor o risco de esgotamento no trabalho.
Quanto à idade, a pesquisa de Koga et al. (2015) apontou que professores jovens apresentaram mais dificuldades de lidar com os desafios na relação com o discente. Complementando essa afirmação, Santos et al. (2023) constataram que, quando o docente possui mais idade, sente-se mais seguro e realizado, pois menores são as expectativas irrealistas a respeito da profissão. Os achados da presente investigação alinham-se aos resultados desses dois estudos. Contudo, um estudo de Baptista et al. (2019) indicou que os profissionais mais velhos adoecem mais, pois a exposição prolongada a estressores do trabalho culminaria em burnout. Recomenda-se a realização de estudos para responder às contradições desses resultados.
Neste estudo, os professores solteiros apresentaram maiores escores de burnout em relação aos casados, resultado contrário ao dos estudos de Palage et al. (2020), que apontaram o casamento como uma oportunidade de suporte emocional em momentos desafiadores. Outra investigação considerou os casados mais vulneráveis ao burnout, devido ao acréscimo de responsabilidades e preocupações peculiares ao contexto familiar (Abacar et al., 2020). Nessa mesma direção, pessoas casadas apresentaram maior propensão à exaustão profissional em relação aos solteiros, devido aos apelos conjugais (Pimenta et al., 2021). Por sua vez, um estudo de Abacar (2021) não encontrou relação estatisticamente significativa entre estado civil e burnout. Novamente, recomenda-se a realização de estudos que respondem às contradições desses resultados.
Professores que apresentaram queixas de saúde e realizavam tratamento médico contínuo, no momento da coleta de dados, associaram isso ao trabalho docente e, por conseguinte, apresentaram maiores indicadores de burnout. Essa constatação pode ser atribuída ao fato de os próprios sintomas e sinais da síndrome demandarem tratamento (Lima & Dolabela, 2021). Além disso, há transtornos psíquicos decorrentes do esgotamento profissional, como a depressão, que exige tratamento. Essa afirmação foi demonstrada por meio de dados em uma investigação de Bolsoni-Silva et al. (2018), identificando a depressão em 23% dos professores do ensino fundamental, além de correlações positivas e fortes entre essa enfermidade e o burnout.
No tocante ao déficit de desenvoltura social como o fator de maior predição do burnout, estudiosos apontaram que o desenvolvimento de habilidades sociais é um recurso protetivo ao adoecimento laboral (Mérida-Lopéz & Extremera, 2017; Schoeps et al., 2019). A desenvoltura social compreende comportamentos como ficar à vontade em um grupo de pessoas desconhecidas, abordar ou discordar de autoridades, perguntar quando uma explicação não for compreendida e cumprimentar pessoas estranhas. Supõe-se que esses comportamentos sejam desafiadores, pois a interação em ambientes familiares, como a escola, facilita a comunicação (Achkar et al., 2016), contudo nem todos se expressam durante reuniões, haja vista que a apatia é um dos sintomas do burnout.
Conclusão
Apesar de resultados relevantes e consonantes com a maior parte da literatura, este estudo apresenta limitações, demandando cautela na generalização dos dados, pois os professores participantes atuavam apenas em uma região geográfica e a coleta ocorreu, exclusivamente, no sistema público de ensino. Outra limitação refere-se à utilização exclusiva de instrumentos de autorrelato, podendo considerar a participação de outros informantes a exemplo de gestores e alunos.
Além disso, este estudo transversal não identificou relações de causalidade entre as variáveis. Nesse contexto, sugere-se que futuros estudos experimentais com intervenção investiguem a causalidade e as classes de habilidades sociais deficitárias que colaboram para o surgimento do burnout. Sugere-se a replicação deste estudo em outras populações de professores para que sejam ampliados o entendimento e a discussão sobre a temática.
Os resultados deste estudo sinalizaram que o déficit de habilidades sociais, especialmente, a falta de desenvoltura social, pode ser um preditor relevante do burnout em professores. Assim, treinamentos de habilidades sociais podem ser considerados, tendo em vista que 77,1 % dos professores desta pesquisa aceitaram recebê-los. Outra consideração relevante é que, diante do burnout, os docentes que utilizaram coping apresentaram menor exaustão emocional. Também foi verificado que os professores provedores de família, solteiros e com muitos filhos, tendem ao esgotamento laboral. Essa conclusão pode auxiliar no suporte à docência tendo o familiar mais considerado.
Outro dado importante deste estudo mostrou que pedidos de licença, queixas de falta de bem-estar e tratamento contínuo de saúde estão entre os indicadores mais significativos em relação ao burnout. Isso sinaliza que a assistência à saúde do professor está subestimada ou que faltam alternativas dentro das próprias escolas que zelem pela saúde mental docente, uma vez que 80,7% dos entrevistados procuraram consulta médica no mês vigente ou anterior à coleta de dados e que, desses, 44% alegaram motivo relacionado à profissão.
Outra informação que merece destaque relacionou-se com a idade e o tempo de trabalho dos entrevistados. Contrariando a maioria das evidências da literatura, os mais jovens e com menor tempo de trabalho docente apresentaram maiores escores no inventário de burnout. Essa constatação sinaliza que a integração do professor no trabalho e a rede de apoio na escola podem ser mais considerados.
Finalmente, visando à diminuição do índice de burnout em professores, é importante considerar a oferta de treinamento em habilidades socioemocionais na escola e estimular o desenvolvimento do coping em professores do Ensino Fundamental, pois os docentes munidos de estratégias de enfrentamento de situações estressantes estarão mais preparados para a convivência com a comunidade escolar. Exemplo de um trabalho nesse sentido será a elaboração de uma cartilha educativa, com o propósito de fomentar ideias práticas e favoráveis à saúde mental docente a partir dos dados deste estudo e de referências da literatura da área de habilidades sociais.