1.Introdução
Em geral, considera-se que a criança avança no desenvolvimento da sintaxe quando começa a combinar duas palavras em um enunciado, muitas vezes entre 18 e 24 meses (Bloom 1970, Bowerman 1973, Brown 1973). Essas primeiras combinações de palavras são caracterizadas por uma omissão generalizada de certas categorias sintáticas (determinantes, preposições, pronomes, auxiliares e verbos de ligação).
A questão de como as crianças começam a produzir enunciados compostos interessou muitos pesquisadores, que se dedicaram ao estudo do período de transição entre a produção de uma e duas palavras e frases mais complexas a nível sintático (Barrett 1989, Bloom 1991, Clark 1998, Herr-Israel e McCune 2011, Ingram 1979, Lentin 1975, Martel e Dodane 2012, 2017, Veneziano 1999, 2004, Veneziano et al. 1990).
Os autores interessados no período de transição entre os enunciados de uma e multi-palavras buscaram compreender como as crianças produzem cadeias de palavras, não só se perguntando sobre sua natureza, mas também sobre sua organização no enunciado. Muitos deles se concentraram inicialmente na ordem das palavras (Braine 1963, Brown e Bellugi 1964, Brown e Fraser 1964), o que refletiria as regras da língua ambiente (Slobin 1966). Assim, de acordo com a gramática “pivot”, os primeiros enunciados de várias palavras consistem em um pequeno número de enunciados simples combinando sistematicamente duas classes de palavras, as ”pivots” correspondendo aquelas de classe fechada como preposições ou expressões congeladas e as de classe aberta.
Embora esta primeira proposta seja capaz de descrever a maioria das estruturas infantis, podendo ser considerada como um dos primeiros modelos de aprendizagem distributiva, foi rapidamente criticada com o argumento de que apenas a posição por si só não é suficiente para determinar as relações estruturais entre as palavras. Classificações alternativas foram então propostas, utilizando, em particular, um critério prosódico. Assim, a partir da tese de uma continuidade de organização entre as produções vocais e verbais, alguns autores postularam a hipótese de que o envelope prosódico dos primeiros enunciados poderia carregar a marca de uma sintaxe subjacente (Bruner 1975, Halliday 1975), na ausência de palavras gramaticais. Assim, alguns índices prosódicos podem ser usados para marcar as relações sintáticas e semânticas entre as palavras, como o comprimento da pausa entre as palavras, a natureza dos contornos de entonação, a acentuação e/ou a duração das palavras ou sílabas (Crystal 1986, Scollon 1979).
Focalizando a estrutura prosódica das primeiras combinações de palavras, é possível observar que, durante a transição entre a produção de palavras isoladas (enunciados holofrásticos) e enunciados de duas palavras, a criança produz sequências que consistem em dois elementos independentes, cada um com seu próprio envelope prosódico, separados por uma pausa curta. Uma vez que os dois elementos são afetados por uma entonação do tipo final, alguns autores afirmam que não se trataria de um enunciado completo, mas de uma justaposição de dois elementos isolados. Esse tipo de ocorrência foi inicialmente identificado por Bloom (1970, 1973) sob o termo “Successive Single-Word Utterances1 (agora SSWUs) que pode ser traduzido como “emissões sucessivas de palavras únicas”. O autor as descreve como “ocorrências de palavras únicas em sucessão que não estão unidas, dentro dos limites de um único evento de fala, ou seja, expressões de uma única palavra que compartilham tópico e contexto” (Bloom 1973: 32). Essas sequências de enunciados são produzidas durante sequências conversacionais sustentadas pelo adulto, as quais, de acordo com Veneziano (1999), podem ser divididas em duas categorias: sequências inter-turno, onde as palavras são separadas por uma intervenção do adulto ou uma longa pausa; e sequências intra-turno, onde as duas palavras são produzidas pela criança dentro do mesmo turno de fala. Ainda segundo Veneziano (2004), desde que a criança se torna capaz de focalizar centros de atenção sucessivos envolvendo diferentes palavras isoladas, ele pode produzir SSWUs. Em outras palavras, no estágio holofrástico, ela ainda está limitada a um só foco de atenção, que pode designar como “bolo” se ela quer dizer que deseja um outro pedaço de bolo, podendo pronunciar um termo adequado como “mais”. Em seguida, quando seus recursos cognitivos permitirem que ela considere dois aspectos do significado ao mesmo tempo, em contexto, ele poderá combinar os dois termos. Um SSWU consiste, em última instância, em duas palavras semanticamente relacionadas entre si e com uma intenção de comunicação mínima (Veneziano et al. 1990).
Na verdade, trata-se de uma parataxis, uma vez que as palavras são apenas justapostas sem nenhuma palavra de função que explique as relações sintáticas de subordinação ou coordenação entre elas. Alguns autores observam, no entanto, que desde as primeiras justaposições, a criança é capaz de produzir diretamente um enunciado canônico, mesmo que este seja ainda mínimo porque reduzido a dois constituintes (duas palavras de conteúdo, como substantivos, adjetivos ou verbos) capazes de expressar várias modalidades (asserção, pergunta, injunção) e ligadas entre si por índices prosódicos. Este é o caso de Konopczynski (1990, 2001) que realizou um estudo completo sobre a configuração dos enunciados canônicos em crianças monolíngues que adquirem o francês. Ela examinou em particular o papel dos parâmetros prosódicos e das mudanças graduais que ocorrem durante a transição entre os enunciados pré-sintáticos e enunciados canônicos, perguntando-se em particular qual fator, a ordem das palavras ou a prosódia, gramaticalizam o enunciado inicialmente. Konopczynski (2001) afirma que há várias estratégias para combinar os dois elementos. Dois parâmetros são particularmente enfatizados: os contornos de entonação e a duração da pausa e, de acordo com a autora, parece que a duração evolui antes da entonação. De fato, podemos questionar esta cronologia e nos perguntar se estes fatores não evoluem de forma concomitante. Estes parâmetros prosódicos já foram mencionados nas primeiras descrições das SSWUs. No que diz respeito à entonação, de acordo com Bloom (1973), as palavras que compõem as SSWUs, em particular as “intra-turnos”, não são imediatamente ligadas por um único contorno de entonação, mas realizadas com contornos distintos. Crystal (1986) faz a mesma observação. Segundo ele, em enunciados de duas palavras, uma das palavras teria um acento mais forte, enquanto que no caso das SSWUs, as duas palavras teriam um acento similar. Stokes e Branigan (1978) e Konopczynski (1991) consideram, pelo contrário, que os primeiros enunciados com várias palavras podem ser produzidos dentro da mesma unidade tonal, graças a um envelope prosódico estendido sobre todo o enunciado. Em relação à pausa, esta surge como um fator de ligação ou separação entre duas palavras, correspondendo a um só enunciado ou a dois enunciados holofrásticos, em função de certos parâmetros. Branigan (1979), por exemplo, afirma que para além de 400 ms, as palavras não fariam parte da mesma unidade. Para Veneziano et al. (1990), esse limiar é fixado em 500 ms.
Duas observações emergem desses estudos: em primeiro lugar, não há consenso. O que pode ser facilmente concebido tendo em conta a diversidade das línguas. De fato, em alguns delas a ordem das palavras é mais restrita (Konopczynski 2001). Em segundo lugar, observa-se que ainda existem poucos estudos que levam em conta a combinação desses diferentes índices. Nesta direção, Behrens e Gut (2005) realizam estudo de caso de um menino monolíngue que aprende alemão, partindo da observação de que o controle da altura, intensidade e duração dos parâmetros fonéticos estão longe de serem estabilizadas aos 2 anos. Os autores examinaram detalhadamente as produções desta criança e avaliaram a interação entre o desenvolvimento de diferentes tipos de estruturas sintáticas e sua organização prosódica entre 24 e 27 meses.
Suas análises se concentraram em quatro tipos de enunciados de duas palavras: combinações de duas palavras consistindo na repetição do mesmo nome, um nome e uma preposição, um nome e um verbo no infinitivo e um determinante e um nome. Estes foram caracterizados segundo sua estrutura acentual (ênfase e duração das sílabas), natureza dos contornos de entonação e presença ou ausência de uma pausa e sua duração. Dois resultados principais emergiram dessas análises: primeiro, cada um dos diferentes tipos de enunciados tem suas próprias reorganizações prosódicas, em parte relacionadas ao seu desenvolvimento ao longo do tempo. Em segundo lugar, a variabilidade das características prosódicas, como as pausas e as configurações acentuais, são importantes já a partir das primeiras combinações de palavras. Consequentemente, os autores enfatizam que não é tanto o caráter fluente de um parâmetro que deve ser considerado, mas sim a maneira como ele estrutura o enunciado, e que é necessário ter cuidado no estudo do papel da prosódia no desenvolvimento sintático.
2. Metodologia
2.1. Corpus
O corpus consiste em dados longitudinais de duas meninas monolíngues francesas, MAD e ANA, registrados uma vez por mês em suas casas, em situação de interação natural com seus pais. A duração média de cada sessão foi de aproximadamente uma hora. Todas as sessões foram transcritas no formato CHAT com o programa CLAN (MacWhinney e Snow 1990). Esses dados fazem parte do projeto COLAJE e estão disponíveis no site do projeto Ortolang e do projeto CHILDES (Morgenstern e Parisse 2012). Para este trabalho, selecionamos dados do período em que as crianças começam a combinar suas primeiras palavras entre as idades de 18 e 25 meses (Bloom 1970, Bowerman 1973, Brown 1973), correspondendo a entrada na sintaxe. Para que os dados sejam comparáveis, escolhemos duas crianças cujo desenvolvimento de linguagem era próximo, com valores de comprimento médio equivalentes (MLU ou Mean Length of Utterance, Brown 1973), sendo o MLU ligeiramente maior em MAD no final do período de estudo (2,8 em MAD e 2,39 em ANA aos 25 meses). Também avaliamos a riqueza do vocabulário expressivo nas duas crianças usando as medidas de TTR (taxa de Tipo-Token, correspondendo à divisão do número de tipos de palavras pelo número de ocorrências de palavras para uma determinada transcrição) e de VOCD (VOCabularity Diversity, usado também para medir a diversidade lexical, Malvern e Richards 1997). Essas medidas revelam uma maior diversidade lexical em ANA do que em MAD no início do período de estudo (TTR: 0.152 e VOCD: 16.74 em ANA; TTR: 0.062 e VOCD: 6.65 em MAD aos 18 meses), mas elas se tornam equivalentes em ambas as crianças no final do período de estudo. No total, foram analisadas 12 sessões, 6 sessões para cada criança. A partir dessas transcrições, extraímos automaticamente com o programa CLAN todas os enunciados contendo duas palavras. O número destes enunciados representa um total de 707 de 3,051 enunciados em MAD (23% dos enunciados) e 487 de 2,941 enunciados em ANA (16,5% dos enunciados).
De fato, é importante ressaltar aqui que as duas crianças produzem também enunciados compostos de protolinguagem2 (proto-palavras) ou de palavras combinadas com elementos de protolinguagem (enunciados mistos), de uma só palavra (holófrases), de mais de duas palavras, da mesma palavra repetida uma ou várias vezes, de onomatopeias e de preenchedores e palavras (Gráficos 1 e 2). Isso mostra a diversidade dos recursos utilizados pelas crianças durante a entrada na sintaxe (Dodane 2015) e também porque algumas categorias compostas de duas palavras são pouco numerosas em certas idades. No caso de MAD, podemos observar no Gráfico 1, período de transição (16 meses) no qual seus enunciados são quase todos compostos de protolinguagem até período (25 meses) no qual eles são quase todos linguísticos. Para ANA, essa transição (Gráfico 2) segue a mesma evolução, embora menos marcada.3
2.2. Seleção dos dados analisados
No que diz respeito ao estudo das pausas nos primeiros enunciados de duas palavras, mantivemos todos os enunciados compostos por: 1) repetição do mesmo nome (N1+N1, por exemplo, Leite, leite, ‘lait, lait’), 2), dois nomes diferentes (N1+N2, por exemplo, Leite Charlotte, ‘Lait Charlotte’) e um verbo seguido por um nome (V+N, por exemplo, Quero mamai, ‘Veux maman’), com base na metodologia desenvolvida por Behrens e Gut (2005). Estes três tipos de enunciados já são presentes desde 18 meses para ambas as crianças e são produzidos ao longo do período estudado.
Eles se distinguem pela categoria sintática das palavras que os compõem, pela ordem das palavras, bem como pelo grau de complexidade formal e conceitual. Ao todo, analisamos 60 enunciados de MAD e 33 enunciados de ANA, representando um total de 89 enunciados cuja distribuição é demonstrada no Gráfico 3. No entanto, em alguns meses, eles podem simplesmente não aparecer ou ser sub-representados em comparação aos demais enunciados (Tabela 1).
Por exemplo, MAD produz um enunciado N1+N2 somente aos 18 e aos 25 meses. Como nosso objetivo era justamente flagrar a emergência de cada tipo de enunciado em período durante o qual os recursos das crianças são muito ricos e heterogêneos, tal aspecto não foi considerado problemático. No estudo de Behrens e Gut (2005), o mesmo foi encontrado com dados de maior idade (24-27 meses).
2.3. Análise acústica dos dados
Cada produção contendo uma pausa foi analisada acusticamente e segmentada em fonêmas e sílabas usando o programa Praat (Boersma e Weenink 2009). As prominências foram anotadas, bem como os diferentes pontos de inflexão da frequência fundamental.
Além disso, a entonação foi anotada graças a um sistema de transcrição inspirado na classificação de D’Odorico et al. (2009) baseada no número de inflexão e na direção da curva Fo: contornos simples ou unidirectionais (M por ‘Montant’ ou ascendente, D por ‘Descendente’ ou descendente e P por ‘Plat’ ou plano), contornos com uma inflexão (MD por ‘Montant-Descendant’ ou DM por ‘Descendant-Montant’), contornos com duas inflexões (MDM ou DMD), contornos com mais de duas inflexões (MDMD, DMDM, etc.) e contornos não determinados. Este sistema permite transcrever os contornos de entonação foneticamente e não fonologicamente, o que nos parece mais adequado para a descrição dos dados de crianças durante o processo de aquisição da sua língua materna. Em caso de dúvida, quando as variações melódicas eram muito fracas, levamos em conta os limiares de glissando4 para a fala espontânea (Mertens e d’Alessandro 1995).
Esta codificação foi completada por o símbolo (%) usado para indicar a localização do acento principal do francês (o acento primário, marcado por um aumento na duração da última sílaba de uma palavra ou grupo de palavras) e o símbolo (*), usado para indicar um contorno de continuidade. Na transcrição ortográfica, o símbolo (/) marcava a repetição da mesma palavra ou de um grupo de palavras e o símbolo (#), uma pausa. Por exemplo, o enunciado Mamai # leite (‘Maman # lait’) realizado com um contorno de continuidade ascendente localizado na primeira palavra, seguida de um contorno descendente com um acento final localizado na última sílaba da segunda palavra ere transcrito assim: M* # D%. A partir dessas segmentações, realizamos medidas de duração (pausas entre as palavras e duração de todas as sílabas, afim de observar a presença ou não de um alongamento final na última sílaba de cada palavra). Também calculamos a variabilidade da duração da pausa (em desvio padrão) e a frequência fundamental média de cada enunciado. 92 produções foram analisadas acusticamente para as duas crianças (59 para MAD e 33 para ANA).
3. Análises e resultados
3.1. Proporção de pausas nos diferentes tipos de enunciados
No Gráfico 3 podemos observar a proporção de enunciados produzidos com uma pausa de acordo com os diferentes tipos de enunciados analisados (N1+N1, N1+N2 e V+N) correspondendo as diferentes idades, em cada uma das duas meninas (com MAD à esquerda e ANA à direita). Ao longo do período estudado os enunciados N1+N1 contêm sistematicamente uma interrupção para ambas as crianças. Por outro lado, existem diferenças para as outras duas categorias. Em MAD, todos os enunciados produzidos aos 18 meses contêm pausas (N1+N1, N1+N2 e V+N). A proporção de enunciados com pausa diminui com a idade para N1+N2 e V+N, desaparecendo completamente aos 25 meses. Em ANA, os enunciados N1+N2 são produzidos com pausas aos 19 meses, desaparecendo nos enunciados subsequentes.
Finalmente, como em MAD, há uma diminuição na proporção de enunciados construídos com uma pausa ao longo do tempo. Embora os enunciados N1+N1 pareçam preservar a mesma estrutura ao longo do tempo em ambas as crianças, a estrutura dos enunciados N1+N2 e V+N parece, por outro lado, depender da evolução da idade. Vamos agora descrever em detalhes esses enunciados para entender melhor a interação entre a pausa e os demais parâmetros prosódicos, incluindo o contorno de entonação.
3.2. Sucessão de duas palavras idênticas (N1+N1)
No que diz respeito aos enunciados N1+N1, como no estudo de Behrens e Gut (2005), estes são consistentemente produzidos por ambas as crianças com uma pausa entre as duas palavras em todas as idades estudadas. A duração média desta pausa é elevada (média de 557 ms em MAD e 688 ms em ANA) e muito variável de acordo com os enunciados (desvio padrão de 311 em MAD e 248 em ANA). Se compararmos as duas meninas, podemos notar que os enunciados N1+N1 são particularmente numerosos em MAD no início do período estudado (11 ocorrências em 18 meses de um total de 18, ver a Tabela 1), e posteriormente, seu número diminui ao longo do tempo para desaparecer completamente aos 25 meses. Esses enunciados parecem constituir para ela um recurso importante no momento da entrada na sintaxe. Em ANA, estes enunciados são relativamente pouco numerosos (4 ocorrências no mesmo período, ver Tabela 1) e distribuídos ao longo do período estudado.
Se nos concentrarmos nos 12 enunciados N1+N1 produzidos por MAD aos 18 meses, verificamos que todos contêm a mesma sequência de palavras: por exemplo leite (/) leite (exemplo 1, ‘lait (/) lait’), produzidos porque a principal atividade da menina neste vídeo é fingir dar leite a sua boneca (que ela chama de bêbê, ‘bébé’). Todas essas sequências são produzidas com a presença sistemática de uma pausa entre as duas palavras, com a realização de uma proeminência, bem como contorno de entonação final de configuração simples e idêntico em cada uma das duas palavras (na maioria das vezes M ou D, como no exemplo do Gráfico 4).
No entanto, há três casos em que o contorno de entonação que corresponde a primeira palavra tem uma configuração oposta aquele associado à segunda palavra (M%* # D%). Este é o caso, por exemplo, do enunciado apresentando no Gráfico 4 (exemplo 2), onde podemos observar que as duas palavras são separadas por uma longa pausa de 1134 ms.
Teoricamente, essas duas palavras devem ser consideradas como duas holófrases diferentes, de acordo com os critérios de Branigan (1979) e Veneziano et al. (1990), discutidos acima. No entanto, a criança produz um contorno de entonação ascendente na primeira palavra (M) e um contorno descendente (D) na segunda palavra, o que estabelece uma ligação entre eles. Se observarmos o contexto em que esse enunciado é produzido, podemos ver que MAD produz a primeira palavra enquanto se move em direção a sua boneca e, em seguida, a segunda palavra quando se abaixa para pegá-la. Sua intenção é, sem dúvida, dar leite para a boneca, visto que na sequência seguinte, ela a coloca em um banquinho, vai pegar a mamadeira e faz a boneca bebê-la.
Estabelecendo uma relação entre as duas palavras, mesmo que elas sejam separadas por uma pausa muito longa, a entonação ajuda a construir uma unidade mais complexa do que uma repetição simples. As mudanças entoacionais que afetam as diferentes palavras contribuem para a expansão das possibilidades de expressão da criança em uma idade em que ele ainda tem dificuldade em construir enunciados de duas palavras diferentes (apenas um enunciado produzido aos 18 meses por MAD). Se aos 18 meses todos os enunciados N1+N1 produzidos pela MAD eram monossilábicos, aos 19 e 23 meses são bi ou trissilábicas (7 ocorrências de 18). Todos são separados por uma pausa e produzidos na maioria dos casos com o mesmo contorno de entonação afetando cada uma das duas palavras.
Destacam-se os exemplos - mamãe (/) mamãe (exemplo 3, ‘maman (/) maman”) aos 19 meses, serpente (/) serpente (exemplo 4, ‘serpent (/) serpent’), clementina (/) clementina (exemplo 5, ‘clementine (/) clementine’) aos 21 meses, prato (/) prato (exemplo 6, ‘assiette (/) assiette’) aos 22 meses e Marlaguette (/) Marlaguette6 aos 23 meses (exemplo 7).
De todos os enunciados correspondentes a repetições de palavras multissilábicas produzidas entre 19 e 23 meses, a primeira palavra quase sempre carrega um acento primário marcado por um alongamento final cuja razão de duração está entre 1,7 e 3,1 (razão da duração da sílaba final e da duração da última sílaba não final ou SF/SNF). Em adultos, esta razão está entre 1,4 e 2 (Konopczynski 1990). Por outro lado, o acento primário nem sempre é realizado na última sílaba da segunda palavra (ele é realizado em cada 4 de 7 enunciados, com uma razão entre 1,4 e 3,1).
Em ANA, como vimos, existem quatro enunciados N1+N1 produzidos ao longo do período estudado. Como em MAD, todos são separados por uma pausa (com uma duração entre 469 e 1013 ms). Tais enunciados Faca(/) faca (exemplo 8, ‘faca (/) faca’, 18 meses), Omer (/) Omer7 (exemplo 9, 19 meses), assiette (/) assiette (exemplo 10, ‘assiette (/) assiette’, 21 meses) e Abraço (/) abraço (exemplo 11, ‘câlin (/) câlin’ 25 meses) são realizados com o mesmo contorno de entonação em cada palavra. No que diz respeito à realização do acento primário, observamos sua realização na última sílaba da primeira palavra nos três primeiros enunciados (razão entre 1,4 e 2) e um outro na última sílaba da segunda palavra no segundo e terceiro enunciados (razão entre 2 e 2,9).
3.3. Sucessão de duas palavras diferentes (N1+N2)
Em relação aos enunciados N1+N2 produzidos dentro do mesmo turno de fala, observam-se 9 ocorrências produzidas por MAD e 6 por ANA ao longo do período estudado. Para MAD, o primeiro enunciado produzido aos 18 meses é realizado com uma longa pausa, enquanto os 8 seguintes são produzidos sem pausa. Neste excerto, MAD coloca sua boneca ao lado de um livro que conta a história de Poulpo, o polvo. Ela produz uma combinação de duas palavras Bêbé, Poulpo (exemplo 12, ‘Bébé, Poulpo’) com uma longa pausa entre elas (1146 ms, ver Gráfico 5). Ela olha para sua boneca, em seguida dirige seu olhar para sua mãe dizendo Bêbé com entonação ascendente, então olha novamente para a boneca e continua Poulpo com entonação descendente, por fim olha novamente para sua mãe. Cada palavra possui alongamento final e guarda sua individualidade temporal.
Entretanto, não se trata de duas palavras sucessivas sem relação entre elas. Graças a entonação, MAD estabelece uma ligação entre as duas palavras para estabelecer uma relação complexa com uma operação de predicação implícita, da qual apenas permanece Poulpo e o objeto, seu bebê. A duração da pausa talvez decorra do fato de que ela faz uso ao mesmo tempo do canal vocal e gestual para dirigir a atenção do adulto e circunscrever um objeto de interesse comum, enquanto negocia a compreensão que deve ser estabelecida sobre este objeto.
A partir de 21 meses, os enunciados N1+N2 deixam de ser produzidos com pausa entre as duas palavras. Observa-se também alongamento da última sílaba de cada palavra, o que é seguido, a partir dos 22 meses, pelo desaparecimento do alongamento final que se realizava ao fim da primeira palavra em favor de alongamento importante que afeta unicamente a última sílaba da segunda palavra. Por fim, observa-se contorno de entonação (do tipo MD% ou DMD%) que permite englobar as duas palavras dentro da mesma unidade de entonação. Por exemplo, aos 21 meses, MAD produz o enunciado Senhor faca (exemplo 13, ‘Monsieur couteau’, ver Gráfico 6), enquanto sua mãe conta para a observadora como a criança havia batizado desta forma um adulto com o qual convive. Ressalta-se que a sequência é produzida por sua mãe pouco antes de ser produzida pela criança. Neste enunciado, as duas palavras são englobadas na mesma unidade entonativa (contorno M%*D%), mas cada palavra conserva um alongamento final (respectivamente na razão de 2 e 2,9).
Para ANA, observam-se 6 enunciados do tipo N1+N2 ao longo do período estudado. O primeiro enunciado Anaé bebê (exemplo 14, ‘Anaé bebé’) é produzido aos 18 meses, sem pausa e com contorno LH. Nesta sequência, ANA mostra para sua mãe uma foto sua colada na geladeira. A primeira palavra é realizada com alongamento final na última sílaba (razão de 2,3), mas sem alongamento na segunda palavra (razão 1).
Os três enunciados seguintes realizados aos 19 meses contêm todos uma pausa de duração entre 310 e 855 ms: Caiu Oui-Oui8 (exemplo 15, ‘Tombé Oui-Oui’, MD%* # MDMD%), Bom dia Kiki9! (exemplo 16, ‘Bonjour Kiki’, MD* # MD%) et Bom dia mamãe (exemplo 17, ‘Bonjour maman’, MDMD* # MDMDMD%).
Nestes três enunciados os contornos são mais complexos do que aqueles observados até este momento nos enunciados do tipo N1+N1 e N1+N2 produzidos por MAD, com maior número de inflexões de contorno de frequência fundamental em cada uma das duas palavras. No mais, a entonação permite o estabelecimento de uma ligação entre as duas palavras, sendo a segunda realizada em uma escala tonal mais baixa do que a primeira, parecendo corresponder aos parênteses na fala adulta. Nos dois primeiros enunciados (exemplos 15 e 16), a entonação permite estabelecer ligação entre a saudação e a pessoa para quem a saudação se destina.
No enunciado Caiu Oui-Oui (exemplo 15, ‘Tombé Oui-Oui’, Gráfico 7) a entonação marca a ligação entre o predicado Caiu (‘Tombé’) e o sujeito Oui-Oui. Trata-se tão somente de um só enunciado apesar da presenta de uma pausa longa (855 ms). Nestes três enunciados é então a entonação que permite o estabelecimento de uma ligação semântica e sintática entre as duas palavras que o compõem.
No que diz respeito ao alongamento final, ele é consistentemente realizado por ANA na última sílaba da primeira palavra em todos os enunciados N1+N2, enquanto que, como para MAD, ele não é sistematicamente realizado na última sílaba da segunda palavra (somente no enunciado Bom dia Mãe mamãe, ‘Bonjour maman’, exemplo 17).
4. Construções com verbo seguido de nome (V+N)
Focalizando agora os enunciados V+N de MAD, observa-se que a criança produz 31 durante todo o período estudado e, entre eles, somente três possuem pausa. O único enunciado do tipo V+N produzido aos 18 meses é um destes Levar # Poulpo (exemplo 18, ‘Porte # Poulpo’, Gráfico 8). Neste enunciado, que ocorre pouco tempo depois do exemplo do Gráfico 6, MAD levanta o banco sobre o qual estava o livro que conta a história de Poulpo. Sua mãe a questiona sobre para onde ela vai e MAD responde Levar # Poulpo (exemplo 18, ‘Porte # Poulpo’). Cada palavra é realizada com alongamento na última sílaba e conserva assim sua individualidade.
É a entonação que garante então a ligação entre as duas palavras, com uma subida entonacional que se realiza na primeira palavra (M*), seguida por descida entonacional que se realiza em continuidade na segunda palavra (D%). Este contorno garante a ligação entre o verbo e seu complemento, apesar da presença de uma pausa curta (105 ms) entre os dois.
Em adição, uma proeminência marcada por um aumento da altura, da duração e da intensidade é realizada no verbo, provavelmente permitindo à criança focalizar-se na palavra mais importante, dando destaque ao predicativo em relação ao objeto.
Dos 31 demais enunciados deste tipo 28 são produzidos sem a presença de pausa. No nível da acentuação, observa-se em três enunciados produzidos aos 22 meses Tirar mamãe (exemplo 19, ‘ Enlever maman, Gráfico 9), Tirar casaco (exemplo 20, ‘Enlever manteau’) e Procurar correio (exemplo 21‘Chercher courrier’), um alongamento da segunda sílaba do verbo (o alongamento silábico é indicado em negrito no texto), frequentemente associado a uma inflexão da entonação ascendente, bem como um alongamento da segundo sílaba do nome. Parece então que neste tipo de enunciado, mesmo se a pausa desaparece, a presença de uma subida entonativa e de um alongamento final no verbo contribuem para a manutenção de uma certa distância entre as duas palavras.
Este não é o caso para os demais enunciados onde o alongamento final afeta somente a última palavra como nos exemplos: Toma mãmae (exemplo 22, ‘Tiens maman’), Espera mãmae (exemplo 23, ‘Attends maman’), Quero Malchance10 (exemplo 24, ‘Veux Malchance’), Quebrado Mamãe (exemplo 25, ‘Cassé maman’), Senta Gilles (exemplo 26, ‘S’assoit Gilles’), E (uma) pena (exemplo 27, ‘C’est dommage’), É Marie (exemplo 28, ‘C’est Marie’).
Do mesmo modo que MAD, a maioria dos enunciados V+N são realizados por ANA sem a presença de pausa. Assim, de 23 enunciados produzidos entre 18 e 25 meses, somente 5 contém pausa e sua proporção diminui ao longo do tempo, seguindo, portanto a mesma tendência descrita para MAD. Aos 21 meses, dois enunciados de três são realizados com pausa: Toma # mamãe (exemplo 29, ‘Tiens # maman’) e Dar # esponja (exemplo 30, ‘Donne # éponge’). Estes dois enunciados são produzidos com uma subida entonativa na primeira palavra (LH), seguida de pausa (de 202 ms no primeiro enunciado e 478 ms no segundo), o que permite a focalização da ação em curso. No primeiro enunciado, a criança dá uma peça de quebra cabeça a sua mãe e no segundo solicita que este lhe dê uma esponja. A presença de uma pausa entre o predicativo e o complemente permite colocar em destaque a ação em curso.
A entonação difere na segunda palavra mamãe (‘maman’), esta é produzida com subida entoativa (M%), provavelmente para atrair a atenção da mãe e esponja (‘éponge’) com uma descida entoativa (D%). A despeito da pausa, a entonação estabelece uma ligação entre o predicativo e o complemente em cada um deste enunciados. Um pouco mais tarde, aos 22 meses, observa-se outro enunciado produzido com uma pausa de 291 ms: Vem # mamãe (exemplo 31, ‘Viens # maman’). Neste enunciado, a criança dá uma ordem a sua mãe. Ela solicita que a mãe a acompanhe pegando sua mão. A pausa aqui também permite destacar o verbo, produzido com contorno LHL em um registro de voz grave.
No enunciado É vovô (exemplo 32, ‘C’est # papi’) produzido aos 24 meses, a observadora pede a ANA que lhe entregue sua fantasia. A criança hesita e diz que se trata de seu papi (vovô). Sua hesitação se exprime por meio do alongamento da sílaba que corresponde ao verbo é (‘est’, 611 ms) e pela inserção de uma pausa curta entre as duas palavras (151 ms). Por fim, no último enunciado Comer # Kirikou11 (exemplo 33, ‘Manger # Kirikou’) produzido com uma pausa aos 25 meses, ANA pede a sua mãe que dê de comer a uma boneca que representa a personagem de desenho animado Kirikou.
Como nos demais enunciados, ANA insere uma pausa entre o verbo e o nome (313 ms). Aqui também, observa-se subida entonativa (M*) no verbo, bem como em Kirikou, que é realizada com contorno DM%. A subida entonativa final permite exprimir sua solicitação para a mãe, que a executa imediatamente depois. Nos enunciados aqui analisados, a pausa tem papel expressivo, permitindo que a criança coloque o predicativo em posição de destaque.
No que diz respeito a acentuação, destaca-se proeminência nos verbos que são quase sempre monossilábicos para ANA (21 de 31). Na segunda palavra, o alongamento final somente se realiza raramente (4 de 23), quando comparamos com os resultados de MAD (20 de 31). Seria necessário ampliar a janela de análise para ANA afim de poder analisar se este parâmetro viria a se estabilizar mais tarde para ela.
5. Síntese
Nosso objetivo aqui era refinar a descrição das primeiras combinações infantis de duas palavras, concentrando-se em três categorias diferenciadas pelo seu grau de complexidade formal e conceitual os enunciados N1+N1, N1+N2 e V+N. Deste modo, procuramos determinar o efeito da maturação sintática na estrutura desses enunciados, estudando as produções de duas meninas entre 18 e 25 meses de idade.
Nossos resultados mostraram diferenças significativas na realização das três categorias de enunciados. Assim, os enunciados N1+N1 foram sistematicamente produzidos com uma pausa ao longo do período estudado pelas duas meninas, enquanto nos enunciados N1+N2 e V+N, a proporção de enunciados produzidos com uma pausa diminuiu progressivamente em função da idade.
Os enunciados N1+N1 mostraram-se muito interessantes quando estudados em MAD, visto que são relativamente numerosos aos 18 meses em relação aos demais enunciados, parecendo representar importante etapa para esta criança no momento de entrada na combinação de palavras. A maioria destes seguimentos são produzidos com duas palavras individualizadas a nível prosódico pela presença de uma pausa, pela realização de alongamento final e de contornos de entonação distintos em cada uma das palavras. Estes diferentes índices prosódicos combinam-se então para manter uma certa separação entre as duas palavras de cada seguimento.
Realizando estas análises, foi possível observar que nos enunciados de duas palavras o contorno de entonação contribui para o estabelecimento de uma ligação entre elas, mesmo se a pausa entre as palavras é longa (mais de 900 ms). Esta primeira constatação permite o questionamento do critério baseado na duração da pausa, adotado por certos autores para diferenciar duas holófrases de um único enunciado. Assim, a partir do limite fixado em 400 ms por Branigan (1979) e em 500 ms por Veneziano et al. (1990), as duas palavras corresponderiam a duas holófrases.
Em oposição, afirmamos o risco em fixar tais critérios sem considerar os demais parâmetros prosódicos e, particularmente, a entonação e a acentuação, como observamos nas análises aqui realizadas. De fato, em certos casos foi possível mostrar neste trabalho como duas palavras podem estar separadas por uma pausa superior a 500 ms e mesmo assim terem relação estabelecida entre elas através da entonação, mesmo em enunciados do tipo N1+N1 (ver exemplo do Gráfico 4).
No início do período estudado, os enunciado N1+N2 são realizados com pausa pelas duas crianças. Em MAD, observa-se exemplo muito interessante (Gráfico 5, exemplo 12) no qual a entonação permite o estabelecimento de ligação entre as duas palavras fazendo referência a uma relação complexa entre uma operação de predicação implícita (ler um livro) e o objeto (bebê), apesar da presença de uma longa pausa. Os enunciados seguintes são produzidos sem pausa e o alongamento final, que era inicialmente realizado nas duas palavras, será ao fim do período estudado realizado unicamente na segunda palavra. No que diz respeito a entonação, com o desaparecimento da pausa, ela permite a integração dos dois contornos, até então distintos, dentro de um mesmo contorno de entonação, que se torna mais complexo com um maior número de inflexões no contorno de F0. A conjunção destes três parâmetros prosódicos (desaparecimento da pausa entre as duas palavras, contorno de entonação único e alongamento final) contribuem para a garantia da coesão entre as duas palavras dentro do mesmo enunciado. Esta coesão se torna mais forte com a idade. É igualmente possível que em certos casos a pausa corresponda a localização de uma palavra funcional que a criança não é ainda capaz de realizar. Neste sentido, elas possuiriam função similar aos preenchedores.
Para ANA, os enunciados N1+N2 são mais complexos do que para MAD, visto que possuem mais inflexões de F0. Nos enunciados realizados com pausa, é a entonação que permite o estabelecimento de ligação semântica e sintática entre as duas palavras, como a ligação entre o predicativo e o sujeito. Os enunciados V+N se tornam cada vez mais numerosos com o avançar dos meses para as duas crianças estudadas, a proporção de pausas é relativamente baixa. Para MAD, do mesmo modo que para os enunciados do tipo N1+N2, observa-se em um primeiro momento uma individualização prosódica de cada palavra do enunciado (presença de uma pausa e alongamento final em cada palavra), mas é novamente o contorno de entonação que permite o estabelecimento de uma ligação entre as duas palavras. Assim, quando há a presença de pausa entre o verbo e o complemento, é a entonação que garante a ligação estre as duas palavras. Do mesmo modo, é a localização das diferentes proeminências entonacionais que possibilita dirigir a focalização da atenção do interlocutor para o predicativo em detrimento do objeto, ou o inverso. O mesmo acontece com ANA, de modo que a entonação permite a construção de uma ligação entre o predicativo e o complemento, mesmo na presença de uma pausa. Observa-se igualmente a presença de pausa que corresponde a hesitação, uma única ocorrência observada no corpus estudado. Se os enunciados V+N são bem estruturados a nível prosódico para MAD, eles o são bem menos para ANA, no que diz respeito a presença de um alongamento ao fim do enunciado.
Este não é ainda estabilizado aos 25 meses, sendo interessante prosseguir com o estudo dos enunciados seguintes observando se o alongamento final vai se estabilizar.
6. Conclusão
As crianças fazem uso dos sinais prosódicos desde muito cedo para marcar a coesão (alongamento final da última sílaba da segunda palavra / contorno simples que inclui ambas as palavras, sem pausas entre elas) e a separação (alongamento final ao fim de cada palavra, contornos de entonação distintos, presença de uma pausa) de duas palavras. Mas, é possível observar também categorias intermediárias, menos estruturadas, sem pausas, com contornos de entonação complexos e um alongamento final que não é produzido sistematicamente. Em geral, os resultados de nosso estudo mostram que o critério de pausa é muito importante na construção da primeira sintaxe, entretanto este deve ser estudado em conjunto com outros índices prosódicos, como o alongamento da última sílaba de cada palavra e o contorno de entonação. Na ausência de palavras gramaticais, são estes diferentes índices que contribuem para reunir e reforçar a coesão prosódica e semântica dentro dos enunciados de duas palavras, sendo necessário estudá-los em conjunto. Além disso, eles confirmam a existência de um período de transição quando as crianças usam SSWUs antes de produzirem a maioria dos enunciados de duas palavras, o que confirma o trabalho de Herr-Israel e McCune (2011).