1. Introdução
A mudança na expressão do futuro nas línguas românicas segue uma tendência geral observada desde o latim de substituição de formas verbais sintéticas por estruturas analíticas.2 A forma sintética latina para expressar o futuro do indicativo amabo ‘amarei’, foi substituída pela forma analítica amare habeo, no latim falado, que acabou por se contrair, em português (port. amar hei > amarei), assim como em francês (je aimerai), no espanhol (amaré) e no italiano (ameró). Essa tendência de substituir formas verbais sintéticas por construções analíticas se manteve nas línguas românicas, tendo como sua manifestação mais expressiva o passado composto, em que a forma sintética do passado é substituída por uma perífrase formada com o particípio passado do verbo principal precedido pelo auxiliar haver ou ser, a depender da natureza semântica do verbo principal, como exemplificado para o francês, nos exemplos (1) e (2), italiano, nos exemplos (3) e (4), e espanhol, nos exemplos (5) e (6), com a perífrase na letra a. e o passado simples na letra b.:
1. a. Jean a travaillé dans le commerce.
b. Jean travaillait dans le commerce.
2. a. Marie est partie.
b. Marie partait.
3. a. Giovanni ha lavorato nel commercio.
b. Giovanni lavorò nel commercio.
4. a. Maria è partita.
b. Maria partì.
5. a. Juan ha trabajado en el comercio.
b. Juan trabajó en el comercio.
6. a. María ha salido.3
b. María salió.
Em francês e italiano, esta mudança está praticamente concluída, mantendo-se o uso do passado simples nos estilos mais rebuscados e literários, ou para uma referência contrastiva a um passado mais remoto, no plano da oralidade. No espanhol, pode-se divisar uma situação de variação estável, com uma alternância entre o uso da forma sintética e da perífrase, embora o quadro seja bastante diversificado em diferentes áreas do espanhol.
No português não ocorreu essa mudança em relação ao pretérito perfeito, embora o pretérito-mais-que-perfeito tenha sido substituído completamente pela perífrase (e.g., Maria já tinha saído quando eu cheguei .), mantendo a forma sintética apenas nos estilos mais rebuscados e literários (e.g., Ela já se fora quando eu cheguei .). Porém, está ocorrendo de forma bastante intensa no português brasileiro (PB) outra substituição de uma forma verbal sintética por uma perífrase verbal que também se observa em outras línguas românicas, como o francês, o espanhol e o italiano, porém em uma intensidade menor do que no PB.
Trata-se da expressão do futuro sintético (já resultante da contração de uma forma analítica, como visto acima) por uma perífrase formada pelo auxiliar ir no presente com verbo principal no infinitivo. Nesse processo de variação/mudança, o futuro do indicativo também pode ser expresso por forma simples do presente do indicativo.
Assim, em francês, observam-se as seguintes variantes: a forma sintética (je chanterai demain); a perífrase (je vais chanter demain) e o uso do presente para expressar o futuro (je chante demain). Haveria uma diferenciação semântica na alternância entre o emprego da forma simples e da analítica, quanto ao comprometimento do falante com o ato enunciado, sendo que a perífrase é muito mais usada na fala, enquanto a forma sintética predomina na escrita (Oliveira 2006: 34-37).
Em espanhol, o futuro também pode ser expresso pelas mesmas variantes:4
Segundo Fleischman (1982: 82 apudOliveira 2006: 35), a forma perifrástica teria surgido em espanhol, bem como em francês e português, entre os séculos XIII e XVI, difundindo-se na fala coloquial a partir do século XV e atingido os estilos mais formais nos séculos XVI e XVII. Assim, há hoje uma preferência pela perífrase em todas as variedades coloquiais do espanhol, embora sua frequência seja mais acentuada nas variedades americanas do que na Espanha (Aaron 2007, 2010; Laca 2017).
Em italiano, parece que a introdução da forma perifrástica andare a + infinitivo (vado a partire domani), em substituição à forma sintética ainda estaria em um estágio inicial, e não há muitas informações sobre essa língua, sabendo-se, contudo, que o presente também pode ser usado para expressar o futuro (Oliveira 2006: 41-43).
Já no português brasileiro, a mudança se encontra em um estágio bastante avançado, como têm sido constatado pelas análises sociolinguísticas, podendo-se dizer que, em algumas variedades do PB, a forma sintética caiu em desuso, na modalidade oral da língua, sendo conservada apenas na escrita ou em estilos mais formais de fala (Santos 1997; Gibbon 2000; Silva 2002; Costa 1997; Oliveira 2006; Poplack e Malvar 2006; Alves 2012; Tesch 2011 etc.).
Para além da substituição da forma sintética (o futuro simples, e.g., trabalharei) pela forma analítica (a perífrase formada de ir, flexionado no presente, + infinitivo: vou trabalhar), análises com amostras de língua mais recentes, como o estudo de Rocha (2012), identificaram também o uso com formas do gerúndio em perífrases verbais que expressam futuro (e.g., vou estar trabalhando amanhã). Mas tais estruturas, assim como a perífrase com o auxiliar ir no futuro (e.g., irei trabalhar amanhã), são de uso muito pouco frequente, sendo restritas a certos jargões profissionais, como a linguagem do telemarketing, o que tem dado ensejo a certas avaliações sociais negativas, em relação ao que se tem denominado gerundismo.
Assim, a forma que tem predominado amplamente na fala dos brasileiros é a construção formada com o auxiliar ir no presente do indicativo (que, nesse caso, se gramaticalizou totalmente como um verbo auxiliar que indica apenas o tempo futuro), seguida do infinitivo do verbo principal: vou trabalhar amanhã.
Em um amplo estudo sociolinguístico sobre o fenômeno, que conjuga uma abordagem em tempo real de longa duração, baseada em textos escritos, com uma abordagem em tempo aparente de curta duração, baseada em textos escritos e orais, Oliveira (2006) traça um panorama do fenômeno no Brasil, desde o século XIII até a década de 1990. Em seu estudo de tempo real de longa duração, utilizando somente textos escritos, a autora só encontrou formas da perífrase verbo ir + infinitivo, a partir do século XIV; mesmo assim os percentuais se mantêm muito baixos até o século XVII, começando a subir ligeiramente a partir do século XVIII, até atingir 16% do total de ocorrências no século XX.
O uso do presente para expressar o futuro também é observado desde o século XIV, em valores percentuais próximos aos da perífrase, porém não acompanha o crescimento desta no século XIX e atinge apenas 6,8% do total de ocorrências no século XX. Entre os séculos XIII e XVIII, a alternância na expressão do futuro se dava mais entre a forma sintética e a perífrase haver de + infinitivo (e.g., hei de trabalhar muito amanhã), que carrega um certo valor aspectual volitivo, com um amplo predomínio do futuro simples, durante todo esse período. No século XX, a perífrase com haver cai em desuso, correspondendo a apenas 1,9% do total de ocorrências. Esses dados podem ser vistos na Tabela 1.
O estudo de tempo real de curta duração utilizou, tanto textos escritos quanto textos orais. Estes últimos foram extraídos das amostras de fala coletadas, nas décadas de 1970 e 1990, pelo Projeto da Norma Urbana Culta (Projeto NURC), nas cidades do Rio de Janeiro e Salvador, acrescidos de textos escritos provenientes de editoriais de jornais dessas cidades. No geral, a perífrase (vou trabalhar) predomina amplamente na fala, enquanto o futuro simples (trabalhei) se conserva fortemente na escrita. Como se pode ver nas tabela 2 e tabela 3 abaixo.
A amostra do NURC da década de 1970 contém elocuções formais (EFs) e diálogos entre informante e documentador (DIDs)5, sendo as primeiras, como o nome diz, em princípio, vazadas em um registro mais formal do que os últimos. Porém, essa suposta diferença de formalidade não afeta a frequência de uso da perífrase, que corresponde a 72 e 73% do total de ocorrências, respectivamente. A frequência de uso do presente para expressar o futuro se altera um pouco conforme o nível de formalidade, sendo um pouco mais usado nas EFs (19%) do que nos DIDs (16%). O uso do futuro simples também é maior nas EFs (17% contra apenas 11% nos DIDs), refletindo a influência do nível de formalidade no emprego dessa variante. As demais variantes estão praticamente ausentes da fala, observando apenas três ocorrências da perífrase com verbo ir no futuro, nos DIDs. Nos textos escritos dos jornais, o futuro simples predomina amplamente, com 88% do total de ocorrências, em face de apenas 6% de uso da perífrase verbo ir + infinitivo.
As perífrases com haver e com o verbo ir no futuro, e mesmo o uso do presente para expressar o futuro, estão presentes apenas de forma residual na escrita, oscilando entre 1 e 2% apenas.
A amostra do NURC da década de 1990 só contém DIDs. E seus resultados indicam um aprofundamento da mudança no sentido da substituição da forma simples do futuro pela perífrase formada pelo verbo ir no presente + infinitivo. Comparando os resultados das amostras de fala de 1970 e 1990, constata-se que o uso da perífrase sobe de 73 para 82%, enquanto uso do presente se mantém praticamente inalterado (16% vis-à-vis 15%); e as demais variantes não aparecem mais na década de 1990. Entretanto, o destaque maior fica para os resultados da linguagem escrita, na qual a frequência de emprego da perífrase sobre significativamente de 06 para 23%, enquanto o uso do futuro simples cai de 88 para 64%. Igualmente significativo é o crescimento do emprego do presente simples para expressar o futuro, que atinge 12% do total de ocorrências.
No geral, o estudo de Oliveira (2006) revela que a substituição da forma simples do futuro pela forma analítica estava muito avançada na língua oral, no final do século passado, com uso da perífrase superando a marca de 80% do total de ocorrências. Contudo, mantém-se uma significativa clivagem no que concerne à modalidade de uso da língua, com uma forte conservação do uso do futuro simples na escrita, embora, com avanço da mudança, a perífrase também tenha conquistado mais espaço nesses níveis mais formais de uso da língua.
Por outro lado, o uso do presente para expressar o futuro se mantém constante, na proporção de uma forma do presente para cada cinco perífrases que se empregam para expressar o futuro, na linguagem oral. Na escrita, a proporção cairia de 2 para 1 em favor da perífrase. Isso indica que, se o uso da perífrase é restringido pelo nível de monitoramento da fala, o emprego do presente não parece sofrer essa restrição.
As análises sociolinguísticas realizadas neste século confirmaram o avanço da mudança em favor da perífrase na expressão do futuro. É o caso do estudo de Tesch (2011), que também conjugou dados da linguagem escrita com a linguagem oral. Para esta última, usou a amostra do Projeto O português falado na cidade de Vitória-ES (PortVix). Tesch utilizou um conjunto de 22 entrevistas de tipo sociolinguístico, com informantes dos sexos masculino e feminino, três níveis de escolaridade (ensino fundamental, médio e universitário) e quatro faixas etárias (de 7 a 14 anos, de 15 a 25, de 26 a 49 e de 50 anos em diante). Nessa amostra, as ocorrências do futuro simples são residuais correspondendo a apenas 0,4% de um total de 1.077 ocorrências; ou seja, foram apenas quatro ocorrências de formas como trabalharei. Isso indica que o futuro simples não faz mais parte do vernáculo da comunidade. A perífrase (vou trabalhar) corresponde a 80,5% do total de ocorrências, enquanto o uso do presente para expressar o futuro atinge quase 20% do total de ocorrências (19,1%). Não houve ocorrências de perífrase com o verbo ir no futuro.
Para a análise da língua escrita, foi montada uma amostra diacrônica com base em edições do jornal A Gazeta, da capital capixaba, nas décadas de 1930 e 1970 e no ano de 2008.
Na década de 1930, as formas do futuro simples predominam amplamente, correspondendo a quase 90% do total de ocorrências (88,1%), mas a perífrase vou trabalhar já aparece com um percentual de 6,9%, com o presente exibindo um percentual um pouco menor de 04%.
A perífrase com verbo ir no futuro (irei trabalhar) fica com somente 01% do total. Na década de 1970, já se observa uma queda no emprego das formas do futuro simples, para 81,8% do total, ao passo que se elevam as frequências de uso da perífrase e do presente, com os percentuais de 10,6 e 6,8%, respectivamente; o emprego da perífrase com o verbo ir no futuro continua residual (0,8%). Já a amostra colhida no ano de 2008 revela uma diferença muito significativa, com as formas do futuro simples correspondendo a apenas um pouco mais da metade do total de ocorrências (54,3%), o restante se distribui praticamente entre as formas do presente e da perífrase (vou trabalhar), com uma frequência ligeiramente maior para o presente 23,3% vis-à-vis 20,1% da perífrase; a frequência de uso perífrase com verbo ir no futuro elevou-se ligeiramente, correspondendo a 2,4% do total de ocorrências.
Diante desse cenário, assume-se aqui que a substituição da forma verbal do futuro simples pela perífrase constituída pelo verbo ir no presente + o infinitivo do verbo principal estaria em um estágio muito avançado no Brasil, podendo-se pensar que ela estaria praticamente concluída na fala vernacular de muitas variedades do PB, conquanto o uso do futuro simples se conserve na escrita e nos registros mais formais de fala, não obstante a implementação da mudança tenha feito com que o uso da perífrase também avance nesses níveis mais formais de uso da língua. Por outro lado, esse processo de mudança comporta um nicho estrutural que corresponde ao emprego do formas do presente do indicativo para expressar o futuro. As outras formas de perífrase para expressar o futuro seriam de uso marginal.
Definir o uso do presente como um nicho estrutural no processo de mudança que afeta a expressão do futuro significa que essa variante ocupa um espaço constante no espectro da variação, porque não seria afetada por fatores sociais ou ao nível de formalidade do discurso, mas seria circunscrita por aspectos estruturais bem definidos, compreendendo tanto fatores formais, quanto semânticos. Essa natureza explicaria a sua manutenção constante, não obstante o amplo avanço da perífrase na expressão do futuro. Diante disso, este artigo buscará constatar a natureza desse nicho estrutural, identificando precisamente os fatores que condicionam o emprego das formas do presente do indicativo para expressar o futuro, com base em uma análise variacionista de base quantitativa, sobre uma amostra de fala vernácula, com 48 entrevistas, coletada no âmbito do projeto A Língua Portuguesa do Semiárido Baiano, sediado no Núcleo de Estudos de Língua Portuguesa - NELP, da Universidade Estadual de Feira de Santana, com moradores da zona rural e urbana do município de Feira de Santana, no interior do Estado da Bahia, opondo falantes de nível superior de escolaridade a falantes com pouca ou nenhuma escolaridade, distribuídos equitativamente pelos dois sexos e por três faixas etárias.
Os resultados gerais processamento quantitativo dos dados, feito com o R, no pacote Rbrul (Johnson 2009) revelaram um cenário muito semelhante ao encontrado por Tesch (2011).
A perífrase com verbo ir no presente + verbo principal no infinitivo correspondeu a um pouco mais de 80% do total de ocorrências (82,5%), enquanto o uso do presente manteve o percentual de 15,9%. O uso do futuro simples foi residual, com somente 0,8% de frequência de uso, assim como as outras formas de perífrase que também não atingiram sequer um por cento do total de ocorrências.
Diante disso, este artigo vai buscar comprovar as seguintes hipóteses: a substituição da forma do futuro simples (trabalharei) pela perífrase (vou trabalhar) estaria praticamente concluída no vernáculo da comunidade, entretanto, mantem-se constante o emprego do presente, na proporção de uma forma dessa variante para cada cinco formas de expressar o futuro empregadas pelo falante. Essa variante não seria afetada por fatores extralinguísticos, mas por fatores estruturais bem definidos.
Para cumprir esses objetivos, este artigo se estrutura da seguinte maneira. A seção 2 descreve o enquadramento teórico e metodológico da análise; seguida por uma terceira seção, que apresenta e interpreta os resultados quantitativos da análise variacionista do fenômeno. A conclusão sintetiza os achados obtidos, caracterizando o nicho estrutural que integra o processo de mudança que afeta a expressão do futuro verbal no português brasileiro.
2. Enquadramento teórico e metodológico
O Paradigma Variacionista se instaura como programa de pesquisa linguística, com base na ideia de que é possível analisar o processo diacrônico da mudança linguística a partir da análise sincrônica da variação que se observa em qualquer momento do devir histórico da língua (Weinreich et al. 2006; Labov 2008, 1994, 2001a, 2001b, 2010). Essa possiblidade foi descortinada pela concepção de que a variação linguística não é fenômeno randômico, mas condicionado pela configuração estrutural da língua, pelas características sociais dos falantes e pelas situações em que a língua é usada. Consequentemente, a matéria de estudo da pesquisa sociolinguística é a língua em uso, precipuamente o que Labov (2008) denominou vernáculo, ou seja, a fala mais espontânea, que os indivíduos empregam no seu dia a dia, nas situações de maior informalidade.
Para possibilitar a análise sistemática da variação linguística, Weinreich et al. (2006), formalizaram a categoria analítica da variável linguística, que possibilitou o isolamento de cada fenômeno dentro da estrutura linguística, nos termos de uma variável dependente, que é formalizada analiticamente como uma função de outras variáveis da estrutura linguística, bem como as variáveis de natureza social, denominadas variáveis independentes ou explanatórias. A variável dependente compreende o conjunto de formas que se usam alternativamente para expressar um determinado conteúdo informacional, nos mesmos contextos linguísticos; ou seja, uma variável é um conjunto de variantes.
E a escolha que o falante faz entre as variantes disponíveis na língua em cada ocorrência do fenômeno variável não é aleatória, mas condicionada pelos valores específicos das variáveis linguísticas e sociais independentes naquela ocorrência específica, devendo-se destacar que esses fatores linguísticos e sociais atuam simultaneamente em cada ocorrência do fenômeno.
Para mensurar essa correlação simultânea entre a variável dependente e todas as variáveis explanatórias, foram desenvolvidos programas informáticos de cálculo probabilístico (Naro 2003; Guy e Zilles 2007), que adquiriam tanta importância que o paradigma passou a ser chamado também Sociolinguística Quantitativa. A análise sistemática da distribuição dos valores de uma variável dependente na estrutura linguística e social permite ao analista identificar os fatores linguísticos e sociais que estão impulsionando ou retardando o processo de mudança, bem como fazer um diagnóstico se a variação observada na língua está estabilizada ou reflete um processo de mudança em curso, pois a mudança implica variação, mas a variação não implica necessariamente mudança (Labov 1981, 1994, 2001b).
A amostra de fala aqui analisada foi coletada entre os anos de 2007 e 2012, no município de feira de Santana, no interior do Estado da Bahia, tanto na zona rural, quanto na zona urbana, contrastando falantes com nível superior de escolarização e falantes com pouca ou nenhuma escolaridade. Os informantes foram distribuídos equitativamente por três faixas etárias (de 25 a 35 anos; de 45 a 55 anos: acima dos 65 anos de idade) e pelos dois sexos. Para compor a base de dados, foram elicitadas todas as ocorrências de formas verbais com valor de futuro em 48 entrevistas, sendo 12 com informantes com nível de escolaridade superior e 36 informantes com pouca ou nenhuma escolaridade, sendo 12 destes da zona rural e os 24 restantes da zona urbana do município.
As variantes linguísticas empregadas na expressão de futuro se dividem em duas formas sintéticas e cinco perifrásticas, que são apresentadas no Tabela 4:
Assim, a variável dependente para esta análise do futuro foi incialmente constituída com as variantes apresentadas Tabela 1, com exceção das construções ir futuro + VP infinitivo (e.g., irei falar) e o futuro progressivo (e.g., estarei falando), que não foram encontradas na amostra de fala analisada. A não ocorrência dessas duas formas pode constituir mais uma evidência das restrições que a língua impõe atualmente às formas sintéticas de futuro, visto que ambas são formadas com os auxiliares ir e estar no futuro simples.
3. Análise quantitativa do fenômeno variável
O resultado geral da variável dependente confirmou o amplo predomínio da perífrase (vou trabalhar), com mais de 80% do total de ocorrências (82,5%), seguido do uso do presente, com 15,9. Os usos do futuro simples, do presente progressivo e das perífrases com gerúndio, revelaram-se bem marginais, já que nenhuma dessas variantes atingiu sequer 01% do total de ocorrências, como se pode ver na Tabela 5.
Esses resultados ratificam a hipótese de que a substituição do futuro simples pela perífrase estaria praticamente concluída no vernáculo da comunidade de fala, sendo sua ocorrência residual, provavelmente por influência da escolarização. Dessa forma, além do futuro perifrástico, a única variante que os falantes usam com representatividade numérica para expressar futuridade é a forma do presente do indicativo. Grosso modo, pode-se dizer que a cada seis referências a uma ação ou processo no futuro, o falante feirense emprega cinco perífrases e uma forma do presente com valor de futuro. Diante disso, esta análise se concentrou nos condicionamentos que determinam o emprego do presente com valor de futuro, sendo essa variante tomada como valor de aplicação no processamento quantitativo dos dados, em oposição à perífrase (vou trabalhar). As demais variantes foram excluídas da base de dados, em face de sua insignificância numérica.
Assim definida, a variável dependente apresentou os seguintes valores:
Para escrutinar os contextos linguísticos e extralinguísticos que afetam potencialmente do emprego das formas verbais do presente na expressão do futuro, foram formalizados, além das variáveis sociais definidas na composição da amostra de fala, 23 grupos de fatores linguísticos, dos quais o Rbrul selecionou como relevantes os 10 grupos apresentados no Tabela 7 por ordem de relevância estatística.
Os resultados percentuais e dos pesos relativos das variáveis selecionadas na segunda rodada serão apresentados e analisados nas subseções a seguir, sendo que, por razões lógicas e de limitação de espaço, só serão analisados os resultados das variáveis que se mostraram mais levantes em termos estatísticos e as que a relação empiricamente motivada com o fenômeno se mostrou mais explícita.
3.1. Ocorrência com ‘ir’ como verbo referencial
O primeiro grupo de fatores selecionado pelo Rbrul como mais determinante, em termos estatísticos, foi formado isolando as ocorrências em que o verbo ir figurava como verbo referencial, ou seja, o verbo que indica a ação proferida pelo falante, podendo ser empregado na forma simples do presente do indicativo, ou como verbo principal, tendo como auxiliar sua versão gramaticalizada, como exemplificado, respectivamente, a seguir:
Trata-se de um grupo binário em que se opõe a ocorrência com ir como verbo referencial à ocorrência com outros verbos como verbo referencial, como exemplificado a seguir;
12. A chega: “Ó, da próxima vez, a gente tenta fazer de tal forma que é mais fácil”.
13. Quando construir uma família, vou tentar construir diferente da minha.
Sendo ir o auxiliar da perífrase, seu emprego como verbo principal nessa estrutura seria inibido devido à reiteração vou ir; combinação que é estigmatizada em algumas regiões do Brasil.
Assim, a alta ocorrência do verbo ir no presente com valor de futuro configura a “estratégia de esquiva”, para evitar a reiteração que é avaliada negativamente, no plano da avaliação subjetiva das variantes linguísticas (Oliveira 2006: 186).
Considerou-se também que ir é, inerentemente, um verbo de movimento que carrega os traços de duratividade, dinamicidade e direcionalidade (ou deslocamento). Estando ele já funcionando como auxiliar na perífrase de futuro, inibiria a combinação dessa com verbos principais que apresentem as mesmas características semânticas (Gibbon 2000).
Os resultados do processamento quantitativo dos dados dessa variável estão apresentados na Tabela 8:
Os resultados confirmaram cabalmente a hipótese, pois, sendo o verbo ir o verbo que indica a ação verbal, a frequência de emprego dessa variante se multiplica por seis nesse contexto, passando de 16% para 96,4%, com o peso relativo de .947, que se aproxima de um nível categórico. Portanto, pode-se afirmar que o emprego do verbo ir como verbo referencial é fator estrutural que disparadamente favorece o emprego do presente como expressão do futuro, sendo um dos principais responsáveis pela manutenção dessa variante ao longo do tempo.
3.2. Presença de constituinte de valor temporal
A ‘Presença de constituintes de valor temporal’ foi o segundo grupo de fatores selecionado como estatisticamente relevante pelo programa Rbrul. A variável foi estruturada em quatro valores: (i) contexto pragmático-discursivo; (ii) oração adverbial; (iii) advérbio ou locução adverbial; e (iv) ausência de informação de futuro na frase. Além do contexto discursivo pragmático (i), os constituintes (ii) e (iii) forneciam a informação de futuro em um constituinte realizado na frase, em oposição à (iv), em que essa informação não é fornecida, quer contextualmente, quer na frase, fora da forma verbal.
A presença da informação de futuro, seja contextual, seja formal, favoreceria naturalmente o uso do presente, que não é uma forma que contém em si a informação de futuridade. Os resultados quantitativos foram os seguintes:
No geral, os resultados quantitativos confirmaram a hipótese, pois a ausência da informação de futuro na frase inibe fortemente o emprego da variante do presente. Sua frequência cai, nesse contexto, de 16% para menos de 10% (9,8%), com peso relativo de somente 0.198. Por outro lado e curiosamente, o emprego do presente é mais favorecido quando a informação de futuro é dada contextualmente do que quando ela é dada formalmente por um constituinte da frase. No primeiro caso, a frequência sobre para 43,3%, com peso relativo de 0,771. Quando a informação de futuro é dada por uma oração adverbial, a frequência sobe para 34,5%, mas o peso relativo de .587 indica apenas um pequeno favorecimento. E quando a informação de futuro está contida em um advérbio ou locução adverbial, o peso relativo fica próximo a neutralidade, em 0,491, embora a frequência de uso da variante se eleve de 16% para 30,5%.
Esses resultados indicam, por um lado, a prevalência do efeito do contexto discursivo-pragmático sobre o efeito da estruturação formal da frase. Por outro lado, os resultados indicam que a ausência de informação de futuro fora da forma verbal inibe fortemente o uso da forma do presente para expressar o futuro.
3.3. Paralelismo discursivo
O terceiro grupo de fatores mais relevante da análise diz respeito ao princípio do paralelismo formal, que postula uma tendência à repetição de uma opção formal na cadeia da fala (Schiffrin 1981), e tem sido aplicado nas análises sociolinguísticas do PB a partir dos trabalhos de Scherre (1991 e 1998) e Scherre e Naro (1993). Esses autores distinguem a repetição da mesma escolha linguística no interior da oração, o chamado paralelismo formal, da repetição numa sequência de orações, o chamado paralelismo discursivo, distinguindo-se os seguintes valores: (i) uma forma verbal isolada; (ii) a primeira referência a uma ação no futuro em uma sequência de orações que se referem a essa ação; (iii) uma referência a uma ação no futuro antecedida por uma referência a essa ação expressa por uma perífrase verbal; e (iv) uma referência a uma ação no futuro antecedida por uma referência a essa ação expressa por uma forma do presente. Os resultados apresentados na Tabela 10 indicam que o paralelismo discursivo não parece ser um fator relevante na utilização do presente com valor de futuro.
Segundo o princípio do paralelismo discursivo, o falante deveria repetir a forma do presente após empregar essa variante com valor de futuro, porém os pesos relativos revelaram exatamente o contrário. O presente é muito mais empregado quando é precedido por uma perífrase, em uma cadeia de expressões de futuro, com a frequência se elevando enormemente de 16% para 75%, com peso relativo de 0,944. Embora esse fator tenha tido uma quantidade pequena de dados, ele é compatível com os resultados da variável anterior. Sendo o presente uma forma que não indica o tempo futuro, essa variante necessitaria de um contexto em que a futuridade estivesse expressa de alguma forma, o que aconteceria, nesse caso, com a perífrase que a precede, na cadeia da fala. Por outro lado, o contexto em que a ocorrência é antecedida por uma forma de presente é um dos fatores que mais desfavorece o uso do presente para expressar o futuro, com a frequência dessa variante caindo a menos da metade, com peso relativo de apenas 0,198.
Esse resultado constitui um contraexemplo para o princípio do paralelismo formal no nível discursivo proposto por Scherre (1991; 1998) e Scherre e Naro (1993), o que não chega a ser muito surpreendente dado o caráter mecanicista de tal princípio, pois como reconhece a própria Scherre (1998: 49), trata-se de uma “repetição meramente mecânica”.
3.4. Predicação verbal
A predicação verbal foi a outra variável selecionada pelo script Rbrul como relevante na segunda série de processamento que não havia sido elencada na primeira rodada.
A variável foi estruturada com os seguintes valores: verbos bitransitivos; copulativos, transitivos diretos, transitivos indiretos. Os resultados quantitativos revelaram que os verbos bitransitivos, os copulativos e os verbos transitivos diretos, nessa ordem decrescente foram os fatores que favoreceram o uso das formas de presente, ao passo que o uso do presente foi desfavorecido com os verbos transitivos indiretos e com os verbos intransitivos, como se pode ser nos pesos relativos da tabela 11.
A análise dos resultados revela que os verbos que selecionam mais argumentos são os que favorecem a produção das formas de presente. A predicação verbal segue aqui, o padrão já observado para o futuro perifrástico, pois a transitividade verbal é, reconhecidamente, um fator favorecedor das estruturas analíticas de futuro (Alves 2012).
3.5. Animacidade do sujeito
Nesta variável, a expectativa era que a animacidade do sujeito, sobretudo os animados humanos, liderassem o favorecimento à produção das formas de presente expressando futuro. Os resultados apresentados na Tabela 12 confirmaram a hipótese, mais no sentido negativo, pois as ocorrências de sujeito animado constituíram a grande maioria e ficaram um pouco acima da média, em termos de frequência de uso do presente para expressar o futuro. Porém o peso relativo de 0,711 indicou um alto favorecimento dessa variável - cf. Tabela 12.
Isso se dá em função dos pesos relativos serem estabelecidos contrastivamente. Como o sujeito inanimado se revelou um fator altamente desfavorável ao emprego do presente, com peso relativo de 0,289, isso elevou o peso do fator sujeito inanimado.
Esses resultados podem ser interpretados no sentido de que no caso dos sujeitos animados, nomeadamente os humanos, o nível de assertividade da proposição se eleva, favorecendo o uso da forma de presente que reforça essa conotação.
3.6. Categoria semântica do verbo principal
Essa variável diz respeito às propriedades aspectuais que são lexicalmente incorporadas às raízes dos verbos independentemente do contexto sintático em que cada verbo se encontra. Utilizamos para isso a classificação de Vendler (1967), que categoriza os verbos em 4 grupos: verbos de estado, de atividade, realizações e produções.
A hipótese adotada foi a de que o uso das formas do presente seria favorecido principalmente pelos verbos de atividade, devido ao caráter mais imediato da ação vis-à-vis as produções, estados e realizações.
Os resultados apresentados na Tabela 13 confirmaram amplamente a hipótese adotada, com a grande elevação da frequência do uso do presente do indicativo com verbos que denotam atividade, bem superior às demais categorias, o que se refletiu no peso relativo de 0,697.
3.7. Síntese da análise variacionista
Como foi dito no início desta seção, o uso do presente para expressar o futuro não se mostrou sensível à influência de variáveis sociais (nenhuma variável social foi selecionada pelo Rbrul como estatisticamente significativa), sendo apenas determinado por variáveis estruturais, principalmente o emprego do verbo ir como verbo principal e a presença de uma referência à futuridade da ação, fornecida contextualmente ou por um outro constituinte da frase. Outras variáveis, direta ou indiretamente ligadas a essas duas determinações principais, também se mostraram relevantes, e, no plano mais psicolinguístico, o grau de assertividade da proposição também se mostrou um fator favorecedor do uso das formas do presente.
Portanto, o uso do presente se revelou um nicho estrutural que se encaixa no processo de variação e mudança que afeta a expressão do futuro no português brasileiro.
4. Considerações finais
A substituição da forma simples do futuro por uma perífrase formada pelo verbo ir no presente ligada à forma do infinitivo do verbo principal se encaixa em uma tendência geral observada nas línguas românicas de substituição de formas verbais sintéticas por construções analíticas, que remonta à origem dessas línguas, a partir das variedades do latim falado na região da România. Já no chamado latim vulgar, a forma sintética do futuro amabo ‘amarei’, foi substituída por forma analítica de valor aspectual volitivo que tomava o verbo habere como auxiliar (amare habeo), em grande parte da România (Câmara Jr. 1979: 130). Essa construção, por sua vez, acabou por se contrair, em português (port. amar hei > amarei), assim como em francês (je aimerai), no espanhol (amaré) e no italiano (ameró), reconstituindo uma forma sintética de expressão do futuro, já que, sincronicamente, os falantes perderam a percepção de sua composição original.
Porém, desde o surgimento do português até o século XVIII, essa forma sintética (amarei) enfrentava a concorrência de uma forma analítica, também com valor aspectual volitivo, formada com o auxiliar haver: hei de amar. Essa construção, entretanto, caiu em desuso a partir do século XIX. Por outro lado, entre os séculos XIV e XV, inicia-se um processo de gramaticalização do verbo ir, que passa a funcionar como auxiliar de futuro em combinação com o infinitivo do verbo referencial: vou amar. Essa mudança, que também ocorre no francês, no espanhol e mais timidamente no italiano, implementa-se mais amplamente no Brasil, onde, na fala vernacular, a forma simples do futuro (amarei) tornou-se apenas residual, conservando-se apenas na escrita e nos registros mais formais da língua oral, conquanto o emprego da perífrase esteja avançando nesses domínios também.
Por outro lado, paralelamente à emergência da perífrase vou amar, observa-se também o uso do presente do indicativo para expressar futuridade. Embora em uma frequência menor do que a da perífrase, o uso do presente se mantém constante, até os dias atuais, numa proporção média de uma forma dessa variante para cada cinco formas da perífrase. Este artigo buscou demonstrar que esse uso da forma verbal do presente do indicativo constitui um nicho estrutural no processo de mudança que atinge a expressão do futuro no português brasileiro. Isso significa dizer que o uso do presente não seria, em princípio, sensível à influência de fatores sociais, sendo empregado em um contexto linguístico muito bem delimitado.
A primeira evidência em favor dessa caracterização decorre do fato de, em uma ampla análise variacionista de uma amostra de fala vernacular de indivíduos com alta ou pouca e nenhuma escolaridade da zona urbana e rural, do município de Feira de Santana-Bahia, nenhuma variável social foi selecionada como estatisticamente relevante.
Em contrapartida, alguns fatores linguísticos determinaram muito radicalmente o emprego do presente para expressar o futuro.
Na amostra analisada, o futuro simples e outras perífrases verbais (e.g., irei trabalhar; vou estar trabalhando) não ocorreram, ou ocorreram de forma muito residual, de modo que o futuro verbal praticamente só foi expresso pela perífrase vou trabalhar e pelo presente do indicativo, com a primeira variante sendo empregada em 82,5% dos casos, e a última, em 15,9%, totalizando em conjunto 98,4% do conjunto de ocorrências. Contudo, a frequência do emprego do presente para expressar o futuro se multiplica por seis, quando o verbo que indica a ação verbal é o próprio verbo ir, passado para 96,4% do total de ocorrências. Isso significa dizer, nos termos estabelecidos por Labov (2003), que os falantes evitam a reiteração vou ir em um nível semicategórico, sendo essa reiteração avaliada muito negativamente entre os falantes. Nesse sentido, vale um reparo à afirmação de que o uso do presente não seria sensível a fatores extralinguísticos. Nesse caso, a avaliação social das variantes linguísticas se situa obviamente no plano extralinguístico. Porém, esse fator está muito bem delimitado no já citado nicho estrutural, no qual o uso do verbo ir como verbo que indica a ação expressa pelo verbo parece ser determinante para interditar o emprego da perífrase para indicar o futuro.
Outro fator linguístico que também se mostrou determinante para o uso do presente foi a presença ou ausência da informação de futuridade fora da forma verbal, quer contextual, quer formalmente. A frequência de uso do presente dobra, quando a informação de futuridade é fornecida por um advérbio, locução ou oração adverbial, e quase triplica, quando essa informação é fornecida contextualmente. Há uma explicação funcional para isso. Como não expressa o tempo verbal, a frequência de uso do presente se reduz bastante, se a frase não conta com a informação de futuridade, reduzindo-se de cerca de 16 para menos de 10%, nesse contexto. Por fim, a animacidade também favoreceu o uso do presente, na medida em que, ao se referir a si mesmo ou um ser animado, sobretudo um ser humano, a assertividade da proposição seria maior, e o emprego do presente teria essa conotação de maior certeza em relação a realização da ação expressa pelo verbo.
A substituição do futuro simples pela perífrase vou trabalhar está praticamente concluída no vernáculo do PB, porém, nesse processo de mudança, conserva-se um nicho estrutural ocupado pelo emprego do presente com valor de futuro. No plano mais geral de uma teoria da mudança linguística, o conceito de nicho estrutural implica que uma mudança encaixada na estrutura social da comunidade de fala pode admitir uma terceira variante que emerge e se mantém apenas em função de restrições linguísticas, como no caso em tela, no qual o uso presente está fortemente correlacionado à reiteração vou ir, que surge com a gramaticalização do verbo ir como auxiliar de futuro e praticamente interdita a perífrase nesse contexto. Sendo, o domínio do presente delimitado por fatores estruturais, uma perspectiva para ampliar a compreensão dos seus limites seria aprofundar a análise de fatores de natureza semântica como a animacidade do sujeito. Tais valores semânticos, como a iminência da ação verbal ou o grau de certeza sobre a realização da ação expressa pelo verbo, são variáveis que podem ser mais exploradas em futuras análises para completar a compreensão da delimitação desse nicho estrutural constituído pelo emprego das formas do presente do indicativo para expressar o futuro verbal.