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Enfermería: Cuidados Humanizados

versión impresa ISSN 1688-8375versión On-line ISSN 2393-6606

Enfermería (Montevideo) vol.13 no.2 Montevideo dic. 2024  Epub 01-Dic-2024

https://doi.org/10.22235/ech.v13i2.3939 

Artigos originais

Representações sociais de adolescentes escolares sobre paternidade e maternidade responsável

Representaciones sociales de adolescentes escolares sobre paternidad y maternidad responsables

Noemi Benevides Reis da Silva1 
http://orcid.org/0009-0000-4659-6004

Jardelson Rocha Oliveira2 
http://orcid.org/0000-0001-5764-2926

Michelle Araújo Moreira3 
http://orcid.org/0000-0002-3262-9503

Aretusa de Oliveira Martins Bitencourt4 
http://orcid.org/0000-0001-9053-4740

1 Universidade Estadual de Santa Cruz, Brasil

2 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano, Brasil

3 Universidade Estadual de Santa Cruz, Brasil, mamoreira@uesc.br

4 Universidade Estadual de Santa Cruz, Brasil


Resumo:

Objetivo:

Conhecer as representações sociais de adolescentes escolares sobre paternidade e maternidade responsável.

Metodologia:

Trata-se de um estudo qualitativo e exploratório, realizado com 23 adolescentes escolares entre 14 e 19 anos, de um Instituto Federal de Educação, no Brasil. Para a coleta de dados, utilizou-se um roteiro de entrevista semiestruturada, aplicado entre setembro e dezembro de 2022. Para a análise dos dados utilizou-se a técnica de conteúdo temática proposta por Bardin.

Resultados:

As representações sociais sobre a maternidade/paternidade responsável na adolescência revelaram reações e sentimentos negativos, como angústia, medo, insegurança e despreparo, pois este fenômeno acarreta adaptação e abdicação. Portanto, estudo possibilita a parceria entre profissionais de saúde, escola e familiares no apoio a adolescentes na prevenção da gestação, enfrentar desafios e optar por uma paternidade/maternidade consciente e segura.

Conclusões:

É crucial uma colaboração entre profissionais de saúde e escola para oferecer espaços de acolhimento, valorização e escuta nesta fase, além de uma assistência que promova o pleno desenvolvimento da(o)s adolescentes escolares.

Palavras-chave: saúde do adolescente; comportamento paterno; comportamento materno; representações sociais

Resumen:

Objetivo:

Conocer las representaciones sociales de adolescentes escolares sobre paternidad y maternidad responsable.

Metodología:

Se trata de un estudio cualitativo y exploratorio, realizado con 23 adolescentes escolares de entre 14 y 19 años, en un Instituto Federal de Educación en Brasil. Para la recolección de datos, se utilizó un guion de entrevista semiestructurada, aplicado entre septiembre y diciembre de 2022. Para el análisis de los datos, se empleó la técnica de análisis de contenido temático propuesta por Bardin.

Resultados:

Las representaciones sociales sobre la maternidad/paternidad responsable en la adolescencia revelaron reacciones y sentimientos negativos, como angustia, miedo, inseguridad e impreparación, ya que este fenómeno implica adaptación y renuncia. Por lo tanto, el estudio permite una colaboración entre profesionales de la salud, la escuela y las familias para apoyar a los adolescentes en la prevención del embarazo, enfrentar desafíos y optar por una paternidad/maternidad consciente y segura.

Conclusiones:

Es crucial una colaboración entre profesionales de la salud y la escuela para ofrecer espacios de apoyo, valoración y escucha en esta etapa, además de brindar una asistencia que promueva el pleno desarrollo de los adolescentes escolares.

Palabras clave: salud del adolescente; comportamiento paterno; comportamiento materno; representaciones sociales

Abstract:

Objective:

To understand the social representations of school-aged adolescents regarding responsible parenthood and motherhood.

Methodology:

This is a qualitative and exploratory study conducted with 23 school-aged adolescents, between 14 and 19 years old, from a Federal Institute of Education in Brazil. Data collection was carried out using a semi-structured interview guide, applied between September and December 2022. The thematic content analysis technique proposed by Bardin was used for data analysis.

Results:

Social representations of responsible parenthood/motherhood in adolescence revealed negative reactions and feelings, such as anxiety, fear, insecurity, and unpreparedness, as this phenomenon requires adaptation and sacrifice. Thus, the study enables collaboration between health professionals, schools, and families to support adolescents in preventing pregnancy, facing challenges, and opting for conscious and safe parenthood/motherhood.

Conclusions:

It is crucial to foster collaboration between health professionals and schools to provide spaces for support, recognition, and listening during this phase, in addition to offering care that promotes the full development of school-aged adolescents.

Keywords: adolescent health; paternal behavior; maternal behavior; social representations

Introdução

A adolescência compreende a faixa etária entre 10 e 19 anos, conforme define a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde (MS). Para além de uma definição etária é uma etapa onde ocorrem modificações biopsicossociais, com o advento da puberdade, que se intensificam os desejos, questionamentos, curiosidades, descoberta do próprio corpo e prazer sexual, de modo que, a gravidez torna-se uma possibilidade biológica e o comportamento paterno e/ou materno passa a ser exercido socialmente. 1

Em relação ao desenvolvimento e amadurecimento, as questões de gênero influenciam diretamente a sexualidade dos adolescentes, moldando suas ações. Suas concepções de gênero refletem o contexto social e político em que vivem, e suas experiências ajudam a formar sua identidade e visão de mundo. A construção dessa identidade é impactada por fatores como herança familiar, contexto religioso e sociocultural, mídia e convivência social. No entanto, alguns adolescentes começam a questionar e desafiar esses padrões, sugerindo mudanças nas concepções sobre masculinidade e feminilidade. 2

Dessa forma, no tocante à gravidez na adolescência, estima-se que ocorram 21 milhões de gestações a cada ano, em adolescentes de 10 a 19 anos em países de baixa e média renda, o que resulta em cerca de 12 milhões de nascimentos. 3) Assim sendo, esse cenário implica em desafios e garantia de direitos reprodutivos e sexuais.

Estudos sobre a gravidez na adolescência no Brasil mostram que esse fenômeno é influenciado por diversos fatores, especialmente econômicos, afetando principalmente adolescentes negras e pobres. A interseção entre classe social, gênero e raça expõe desigualdades que mantêm altos índices de gravidez nessa faixa etária, especialmente em regiões com grandes disparidades econômicas. 4

Nesse contexto, o fenômeno multicausal da gestação é naturalmente vinculado ao ser feminino em virtude de uma perspectiva histórico-social que colocava o homem distante do ambiente familiar. Nota-se uma tendência a naturalização na distinção das funções de homens e mulheres, particularmente no que diz respeito à vivência da sexualidade e reprodução. Percebe-se que, as mudanças na organização da dinâmica familiar que surgiram com a inserção da mulher no mercado de trabalho, alteram a imagem do ser feminino confinado à esfera doméstica e reprodutiva, bem como, do comportamento paterno reservado à noção de provedor/protetor que atribui também ao homem/pai funções de responsabilidade afetiva e cuidado com os filhos. 5

Constatou-se que o homem torna-se pai na circunstância em que a paternidade acontece, e que é possibilitado esse exercício de maneira satisfatória. 6 Esse fenômeno pode implicar em construções e reconstruções do papel de pai para o homem, que são comumente conseguidas mediante sua participação ativa no desenrolar da gravidez da sua parceira.

Em vista das constantes transformações sociais relacionadas ao cuidado parental, observou-se que o conceito de paternidade/maternidade responsável se modificou no decorrer das décadas. Considera-se atualmente uma paternidade mais participativa/ativa e desmistifica a ideologia da mulher que nasce naturalmente para ser mãe, esta concepção confere à maternidade um lugar de escolha que caminha junto ao desenvolvimento pessoal e laboral da mulher. 7) Diante disso, a paternidade/maternidade responsável também pode ser vivenciada na adolescência e traz repercussões na vida individual da(o) adolescente e no ambiente em que está inserido, uma vez que, esse fenômeno pode ser vivenciado de forma intergeracional e visto como uma referência seja positiva ou negativa para a(o) adolescente.

Ademais, estudos têm se voltado para analisar as vivências e percepções de adolescentes no intuito de compreender as implicações da gravidez na adolescência, consequências e responsabilidades, e propicia refletir sobre condicionantes relacionados à ocorrência da paternidade e da maternidade. 8) Posto que, em meio ao cotidiano da(o)s adolescentes, o comportamento materno/paterno surge seja quando exercem a parentalidade ou quando convivem com familiares e amigos que passam por essa situação.

Compreender as representações sociais (RS) pode influenciar diretamente na mudança de atitudes para a prevenção de gestações não planejadas e/ou de seus impactos na vida de mães e pais adolescentes. Essa perspectiva também pode ajudá-la(o)s a assumirem uma paternidade e maternidade consciente, responsável e com menor desigualdade de gênero entre os papeis. O reconhecimento dessas representações é crucial para desenvolver ferramentas que valorizem as experiências da(o)s adolescentes, especialmente os aspectos mais vulneráveis. Estudos que adotam a Teoria das Representações Sociais (TRS) como base teórica e metodológica têm potencial para serem eficazes. 9,10,11)

Com o intuito de identificar a produção científica no que se refere à paternidade e maternidade responsável de adolescentes escolares, realizou-se uma busca na literatura nacional e internacional. As produções discorriam, especialmente, sobre prevenção da gravidez na adolescência e o uso de métodos contraceptivos, promoção da educação em saúde, implicações e desafios da paternidade/maternidade na adolescência. Diante disso, evidencia-se que estudos voltados à temática são iniciantes nas ciências da saúde e, especialmente, na enfermagem, justificando maiores investimentos em pesquisas na temática.

Este estudo buscou responder ao seguinte questionamento: Quais as representações sociais de adolescentes escolares sobre a paternidade e maternidade responsável?

Almeja proporcionar aos adolescentes compreender as implicações sociais, culturais e ideológicas que a paternidade/maternidade responsável pode evidenciar a partir de suas representações. Do ponto de vista prático, possibilitará aos gestores, docentes, profissionais de saúde, de educação e de áreas afins uma melhor compreensão desse fenômeno, para elaboração de estratégias e planejamento de ações, além de vivências mais seguras concernentes a saúde sexual e reprodutiva de adolescentes escolares. Para tanto, objetivou-se: conhecer as representações sociais de adolescentes escolares sobre paternidade e maternidade responsável.

Método

Estudo com abordagem qualitativa e exploratória, que busca compreender fenômenos, com olhar subjetivo, sem restringir-se a estatísticas e gráficos; enfatiza o contexto natural e os atores como protagonistas. 12 Além disso, explora um problema e/ou cenários concedendo informações para uma investigação mais precisa, de forma a contribuir para formulação de hipóteses. 13

O estudo foi realizado em um Instituto Federal de Educação, uma escola pública de ensino médio integrado ao ensino técnico, localizado no Brasil. É uma escola de ensino médio e superior, focada na educação profissional e tecnológica. Ressalta-se que 286 estudantes pertenciam à faixa etária de 14 a 19 anos, distribuídos da seguinte forma: 109 no 1º ano, 96 no 2º ano e 81 no 3º ano. Desse grupo, 157 foram do sexo feminino, enquanto 129 foram do sexo masculino.

As(Os) participantes do estudo foram 23 adolescentes, em sua maioria de estudantes pertencentes às classes D ou E, ou seja, com renda de 1 a 3 salários mínimos ou até 1 salário mínimo, respectivamente. Portanto, encontram-se em vulnerabilidade socioeconômica. Todas(os) atenderam aos critérios de inclusão: qualquer sexo, regularmente matriculada(o) nas séries de primeiro ao terceiro ano do ensino médio em qualquer um dos cursos ofertados; se encontrem na faixa etária entre os 14 e 19 anos. O critério de exclusão foi completar 20 anos antes do término da coleta de dados.

Após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), procedeu-se ao primeiro contato com as(os) participantes, com o intuito de apresentar o tema, objetivos da pesquisa e verificação de interesse. Após a manifestação verbal de desejo em fazer parte do estudo, foi realizado contato com os pais ou responsável legal para os menores de 18 anos, através de ligação telefônica e/ou aplicativo de mensagem eletrônica como WhatsApp. Este contato aconteceu para esclarecimentos sobre a pesquisa e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) do responsável ou pais e do Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE). Para os maiores de 18 anos que aceitaram participar, procedeu-se à leitura e assinatura do TCLE.

A técnica utilizada para a coleta de dados foi um roteiro de entrevista semiestruturada, envolvendo um perfil e perguntas abertas relacionadas à temática pesquisada. Foram conduzidas pelo enfermeiro da escola que também foi o pesquisador, de forma individual, no consultório de enfermagem da escola, um ambiente seguro, privado e escolhido pelos(as) adolescentes. As entrevistas abordaram temas variados da SSR, como direitos sexuais e reprodutivos, paternidade e maternidade na adolescência, gravidez, aborto, acesso a informações e serviços de SSR, relações familiares, dentre outros.

A foi coleta realizada entre os meses de setembro e dezembro de 2022, de forma presencial em um consultório de enfermagem da escola, em turno oposto ao das aulas, até que houvesse saturação teórica dos dados. Destaca-se que para a definição do quantitativo das participantes utilizou-se o critério de amostragem aleatória simples. A coleta continuou até a saturação teórica, quando não surgiam novos elementos nas respostas. A predominância de participantes do sexo feminino reflete o perfil da população escolar, onde a maioria dos estudantes é mulher, além do fato de que as alunas utilizam mais os serviços de enfermagem da escola.

Todas as entrevistas foram gravadas em aparelho digital, com duração média de 21 minutos. A transcrição ocorreu no processador de texto Microsoft Word, sendo as questões abertas analisadas pela técnica de conteúdo temática proposta por Bardin, que descreve o conteúdo das mensagens e os indicadores coletados, através das etapas de pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados. 14

As limitações da pesquisa relacionam-se ao fato de que o período de coleta de dados coincidiu com a finalização do semestre letivo na escola, com grande número de atividades letivas como a realização de provas e trabalhos acadêmicos o que fez com que muitas(os) estudantes convidadas(os) optassem por não participar da pesquisa por receio de se sobrecarregarem, bem como a necessidade de autorização dos pais ou responsáveis para menores de 18 anos participarem da pesquisa, algo superado pela ampliação do período para coleta de dados, resultando em maior adesão por parte das(os) adolescentes escolares. Outra limitação na pesquisa pode estar relacionada à relação de poder adulto-adolescente presente entre o entrevistador e as(os) entrevistadas(os). Mesmo que o enfermeiro esteja presente no dia-a-dia das(os) estudantes, e tem estabelecido uma relação de confiança e havendo realizado diversos outros atendimentos de rotina antes das entrevistas, não se pode descartar por completo a influência desta relação nas respostas dos adolescentes e consequentemente nos dados obtidos.

A utilização exclusiva da entrevista semiestruturada trouxe algumas implicações metodológicas, como a variabilidade das respostas, onde as(os) participantes, por vezes, apresentaram discursos muito curtos ou muito longos, ou até mesmo desviaram do tema. Isso resultou em maior riqueza contextual, mas também em dificuldades para identificar as representações em algumas falas, tornando a análise mais demorada.

Outra limitação deste estudo está relacionada às características da amostra. O ambiente escolar facilita o contato próximo entre as(os) adolescentes que já participaram da coleta de dados e aquelas(es) que ainda participarão, possibilitando diálogos que podem influenciar as respostas nas novas entrevistas. Isso pode ter contribuído para a saturação dos dados em relação à amostra.

A pesquisa atendeu a todos os requisitos ético-legais para estudos com seres humanos, tendo sido aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), na Bahia-Brasil, sob o parecer n.º 5.569.071 e CAAE: 60911922.5.0000.5526, em conformidade com as Resoluções n.º 466/201215 e 510/2016.16 Para assegurar o anonimato da(o)s participantes, todas foram codificadas pela letra “E” seguida de número cardinal.

Resultados

Participaram do estudo, 23 adolescentes com idades variando entre 15 e 19 anos, sendo 16 do sexo feminino e sete do sexo masculino. No que concerne ao gênero, toda(o)s se identificaram como cisgênero.

Quanto à raça/cor, cinco se autodeclararam pretos, 12 pardos e seis brancos. No que se refere à religião, nove informaram ser católicos, oito evangélicos/cristãos, um da umbanda, um do candomblé Ketu e quatro declararam não possuir religião.

Em relação ao status de relacionamento, 12 da(o)s adolescentes manifestaram não ter relacionamento e 11 afirmaram possuir vínculo de cunho sexual/afetivo e/ou casual. A maioria da(o)s adolescentes referiu possuir renda satisfatória, embora recebam benefícios sociais oferecidos pelo governo brasileiro, a exemplo do Programa Bolsa Família e a atividade laboral dos pais ou responsáveis esteja concentrada no mercado informal.

Posteriormente a caracterização sociodemográfica da(o)s participantes, realizou-se a leitura atentiva das entrevistas semiestruturadas transcritas, da qual emergiu uma categoria temática: O olhar adolescente sobre paternidade/maternidade responsável: imaginário e concepções.

O advento da paternidade/maternidade responsável em adolescentes escolares promove diversas mudanças no cotidiano, sendo uma delas a possibilidade de interrupção dos estudos e adiamento dos projetos de vida, além da preocupação com a condição financeira e psicológica, como percebido a seguir:

A maternidade na adolescência é um pouco problemática porque acaba sendo precoce, pode atrapalhar os estudos e porque ter um filho é uma responsabilidade muito grande. Envolve muitas coisas e às vezes a maioria dos adolescentes não tem uma estabilidade financeira, o que é de extrema importância para alguém ter filhos. Tem que ter estabilidade mental, pois você vai tá criando uma criança. Muitos adolescentes não têm uma saúde mental muito boa, não tem emprego fixo ou não tem apoio da família, então é bem difícil (E18).

É por questão financeira e psicológica, acho que não estou apto a ter um filho agora (E3).

Acho que na adolescência a gravidez atrapalharia muito a vida dos adolescentes por eles terem outras responsabilidades, acho que é um assunto complicado (E17).

Tem aquela questão de quando você está na adolescência, você tem que estudar, tem que se dedicar a sua vida, então provavelmente na adolescência seria difícil (E8).

Analogamente, nota-se que além das dificuldades financeiras, emocionais e acadêmicas de adolescentes escolares, existe ainda uma marginalização da sociedade com a paternidade e maternidade responsável nesta fase da vida e uma pressão familiar, como destacado abaixo:

A sociedade marginaliza aqueles adolescentes que são pais ou mães e também esses próprios adolescentes vão enfrentar diversas dificuldades. Tem uma pressão familiar para que isso não aconteça nessa fase da vida para o meu próprio bem e da minha futura esposa, cônjuge, parceira e para o bem do meu filho ou filha (E10).

Na minha idade atual seria um baque, já que vivo com meus pais. Seria meio difícil, bem difícil para falar a verdade. Primeiro porque já basta me sustentar e ainda vai ter que sustentar outra pessoa, acho que seria bem chato (E7).

Não tenho condições de criar, não trabalho. Ficaria dependente da minha família, teria que sair da escola para trabalhar, para conseguir sustentá-lo (E21).

Ademais, as(os) adolescentes constatam que é necessário maturidade física, financeira e emocional para lidar com a gravidez, além da importância na escolha da parceria, para decidir se quer ter filhos, como sinalizado abaixo:

Eu acho uma coisa muito negativa porque não considero certo. São duas crianças cuidando uma da outra, tento não acontecer isso comigo porque acho uma responsabilidade muito grande, você tem a responsabilidade de estudar, não de cuidar de uma criança (E23).

Para ter uma família, para você construir, tem que ter uma maturidade maior, tem que ter alcançado algo que queira. Tem que saber também com quem você vai ter uma família, com quem vai ter um filho, se ele tá preparado ou não (E12).

Observa-se que as(os) adolescentes apontam a desigualdade de gênero no que tange à vivência da paternidade e maternidade responsável, momento em que a mulher é colocada na posição de cuidadora dos filhos, enquanto o homem permanece isento de tal tarefa, como identificado abaixo:

Acho que a mãe não vai ter como abandonar o filho, já o pai! (E19).

Nos casos da gravidez na adolescência, a mulher fica com os pais dela e às vezes o pai não faz papel de pai, fica tudo nas costas da mãe (E21).

Maternidade na adolescência é uma coisa muito grave por conta de família. Tem muitas que são indesejadas e tem o julgamento de várias pessoas e muitas vezes é colocada a culpa na menina, sendo que não é totalmente culpa dela (E6).

Acrescido a isso, tem-se que as experiências negativas de familiares próximos sobre a paternidade e maternidade responsável influenciam na opinião da(o)s adolescentes e revela aspectos da vida social e do próprio adolescer, conforme discursos a seguir:

Corajoso quem tem e quem quer ter filhos jovem. Eu acho que às vezes a gente pode agir por impulso, porque eu pensava que queria ter filho cedo, na adolescência. Sempre pensei porque meus pais me tiveram na adolescência, mas acho que a gente perde muita coisa que não vive e às vezes não tem como recuperar por causa dos filhos. Falo isso por conta dos meus pais que tiveram filhos na adolescência e hoje em dia tá tentando recuperar o tempo perdido, não indico, mas quem tiver... Parabéns, muito corajoso! (E20).

Não acho que seja boa coisa. Minha prima teve filho cedo, não terminou os estudos, o marido separou dela, traiu, e agora ela está em casa com o filho, não terminou o ensino médio e vejo que as condições dela não são boas. Então acredito que no ensino médio, na adolescência não seja boa coisa. Primeiro termina os estudos e faz sua faculdade, trabalha, tem sua casa, depois pensa em filhos (E16).

Em paralelo, o sentimento de despreparo e responsabilidade insuficiente para desempenhar a paternidade e maternidade, prioridades pessoais da adolescência e a autonomia de decidir se quer ou não ter filhos, tornam a decisão do aborto como uma possibilidade frente à gravidez, como evidenciado abaixo:

Eu ficaria em choque. Tenho consciência de que abortaria se não tivesse responsabilidade suficiente para lidar com uma vida. Isso seria uma escolha consciente e responsável. Tenho que ter o psicológico muito preparado para poder ter uma vida, porque precisa de responsabilidade e essa responsabilidade não vejo nesse momento (E14).

Não posso mentir. Tentaria aborto clandestino. Porque não tô nem um pingo preparada pra ter um filho agora, e isso mudaria tudo que pensei da minha vida, principalmente em questão de estudar, de terminar o ensino médio e ir pra faculdade e ter minha profissão. Acho que um filho ia atrapalhar muito isso, não seria uma coisa boa (E9).

Não quero ter filho tão cedo, sou muito nova, não tenho maturidade e sei que a gente não pode abortar, porque a gente não tem nenhum lugar aqui no Brasil que fale assim “está tudo bem, você pode abortar!” e mesmo se fosse uma coisa em relação a abuso sexual ou estupro, a gente não tem esse poder de dizer que não quer, e eu também não sei se seria capaz de aguentar uma gravidez por agora, porque sou muito fraca em questão de saúde (E20).

Por sua vez, a saúde mental também surge como um fator importante para maternidade e paternidade responsável visto que as(os) adolescentes acreditam que o bebê recebe sentimentos e fatores estressores da mãe pela conexão com o cordão umbilical, de modo que podem ser gerados traumas devido à preocupação excessiva, como verificado a seguir:

Acho que é muito arriscado e perigoso porque pode gerar danos futuros para o adolescente e filho. Pode gerar traumas na adolescência e na infância e tudo começa a partir da gestação, porque tudo que você passa a criança também sente, porque está ligada a um cordão umbilical e a mãe também tem consciência disso. Então, por isso que falam: "ah, não pode se estressar", mas não é só "não pode se estressar" é como eu vou fazer para ela não se estressar. Acho muito perigoso, arriscado e sensível ao mesmo tempo (E14).

Eu teria que refazer todos os meus planos de vida, teria que pensar em alguma forma de conseguir criar um novo ser humano e de dar uma base para que minha parceira tenha um bom período gestacional e juntamente com isso cuidar da minha própria saúde mental e isso seria muito atropelado, porque agora não tenho base para fazer isso, nem base financeira, nem base emocional (E10).

Desse modo, é possível constatar que as RS sobre paternidade e maternidade responsável na adolescência, são, majoritariamente, negativas. Elas perpassam pela fase da vida, condições financeiras, físicas e psicológicas, além das relações familiares e carreira acadêmica. O ser adolescente entra em conflitos devido a experiências simultâneas e o aproveitamento insuficiente dessa fase, trazendo sensações de espanto, desespero, medo e insegurança.

Discussão

O fenômeno da paternidade e maternidade na adolescência, geralmente é associado à pobreza e baixa renda. 17) Somado a isso, a possibilidade de interrupção dos estudos, inserção precoce no mercado de trabalho com baixas remunerações e modificação nos projetos de vida são temores relatados pelos adolescentes e marcam a vida social.

Um estudo brasileiro realizado com 25 adolescentes com idades entre 13 e 19 anos internadas em uma maternidade, revelou que a gravidez ocasionou evasão escolar, depressão e amadurecimento físico prematuro.18 Evidencia-se também a influência de fatores culturais sobre esse evento, principalmente quando o cenário é de desigualdade social, como o caso da pesquisa referida.

Em uma outra pesquisa realizada na comunidade quilombola com dez mães que vivenciaram a gravidez na adolescência, foram observadas repercussões significativas na trajetória educacional dessas jovens. O estudo revelou que sete delas não completaram o ensino fundamental, uma avançou para o ensino médio e apenas duas conseguiram prosseguir para o ensino superior. Esses resultados indicam que as implicações da gravidez na adolescência abrangem tanto aspectos educacionais quanto psicológicos.19 Por conseguinte, percebe-se que as implicações desse fenômeno perpassam pelos aspectos educacionais e psicológicos, especialmente em comunidades tradicionais, que a realidade local tem forte influência nas escolhas e oportunidades de vida.

Tais desigualdades também estão refletidas nas questões de gênero, momento em que há uma sobrecarga da mulher adolescente nessa fase. Nota-se ainda uma masculinidade para o papel de provedor, sendo direcionado à mulher o cuidado aos filhos e domesticação, comportamentos esses que podem ser reforçados pelas famílias. 20 Sendo assim, em função da cobrança social para que o homem exerça o papel maior de provisão, destaca-se que na adolescência surgem desafios para ingressar em trabalhos informais que os permita cumprir esses mandatos, ao mesmo tempo em que a pressão familiar para desenvolver uma responsabilização e independência financeira tensiona essa fase de conflitos entre ser pai-filho e adolescer.

Contudo, atualmente, observam-se mudanças de valores, nas quais a paternidade responsável vai além das preocupações financeiras e está relacionada à participação no cuidado e na educação dos filhos. 21

Em outro estudo, observou-se que adolescentes de ambos os sexos destacaram, de forma equitativa, a importância das funções de provedor e cuidador tanto para mães quanto para pais. Essas descobertas indicam que as representações da(o)s adolescentes sobre as concepções de maternidade e paternidade tendem a ser mais igualitárias e inclusivas em termos de gênero. 22

Acrescido a isso, a família constitui-se como uma rede de apoio fundamental e consistente nessa etapa de vida da(o) adolescente que vive ajustamentos e sentimentos contrastantes. 21) As relações familiares tornam-se essenciais ao lidar com as mudanças trazidas pela gravidez, auxiliando na adaptação a essa nova fase da vida. O envolvimento dos familiares, especialmente pais e responsáveis, pode contribuir significativamente para o bem-estar e desenvolvimento dos jovens, proporcionando uma rede de suporte crucial em momentos únicos e desafiadores.

Observa-se, neste estudo, a referência da(o)s adolescentes sobre a vivência da gravidez na adolescência na época de seus pais e mães. Esse público está em fase de descobertas e compreensão de si e do mundo e a escolha da parceria é considerada um fator importante, visto que, o sentimento de possível abandono por parte da parceria é relatado nas entrevistas. Estudos afirmam que essas vivências familiares de pais e mães adolescentes podem se perpetuar de forma consciente ou não em seus filhos quando adolescentes e/ou adultos. 23

Outro fator presente nos discursos da(o)s adolescentes foram os sentimentos de negação frente à possibilidade de uma gravidez, sendo o aborto considerado como opção viável. Tal fato é preocupante, pois o aborto muitas vezes é realizado clandestinamente em virtude da ilegalidade brasileira, sendo permitido apenas em casos de estupro, anencefalia do feto e risco à vida da mulher. 24)

Nesse sentido, pesquisa realizada com 21 mães adolescentes constatou que ocorre violência psicológica e/ou física praticada pela família ou parceiro como forma de rejeição à gestação e de culpabilizar o ser feminino, o que contribui com a decisão do aborto tornando um ato comum entre adolescentes que não desejam a gravidez ou não recebem o apoio familiar esperado, resultando em misto de sentimentos negativos. 24)

Outro fator que pode gerar desafios na gravidez na adolescência é a culpabilização pela gestação. Muitas adolescentes internalizam a ideia, baseada no imaginário coletivo, de que a gravidez é uma consequência exclusivamente de suas decisões, desconsiderando a responsabilidade de seus parceiros. Assim, acreditam que as oportunidades que perderão a partir de então são resultado unicamente de suas práticas sexuais. Há um medo ligado à morte, à sanção social e à mudança de estilo de vida que a maternidade impõe. 25

Em relação às RS da(o)s adolescentes sobre a paternidade, é notória a persistência de modelos tradicionais associados à masculinidade como fator determinante para definir o significado de ser pai e como desempenhar esse papel. A atribuição de responsabilidades como prover apoio financeiro e proteção familiar é um elemento motivador significativo tanto no processo, quanto nas experiências vivenciadas pelos homens adolescentes nesse papel. 26

Assim, a paternidade na adolescência pode incluir representações de recusa e rejeição a essa experiência. Destaca-se ainda que, um estudo realizado em uma comunidade na África do Sul, ressaltou os dilemas e desafios educacionais, familiares e financeiros enfrentados por cinco pais adolescentes com idades entre 17 e 19 anos. Sentimentos de despreparo e medo estimularam-nos a considerar a possibilidade de que suas parceiras interrompessem a gravidez. No entanto, as parceiras optaram por prosseguir com a gestação. Após o nascimento dos filhos, os adolescentes terminaram seus relacionamentos, mantendo contato apenas devido às responsabilidades de co-parentalidade. 27

Ademais, a saúde mental da(o)s adolescentes que vivenciam a paternidade e maternidade precoce, por vezes é afetada negativamente. Nota-se preocupação, insegurança e despreparo quanto aos cuidados com a criança, discriminação social e conflitos de identidade peculiar dessa fase, o que gera interferência na estabilidade emocional. 1

Com base nesses achados, constata-se que as RS da(o)s adolescentes escolares sobre a paternidade e maternidade responsáveis geralmente envolvem sentimentos, sensações e reações negativas. Eles associam a gravidez na adolescência à interrupção de seus projetos de vida, à marginalização social como cidadãos, à dificuldade em construir sua identidade masculina ou feminina diante do cuidado parental, à descoberta de prazeres e à busca pelo reconhecimento e status em seus grupos sociais.

É essencial reconhecer que a gravidez pode ocorrer acidentalmente durante a adolescência, mesmo com o uso de métodos anticoncepcionais, mas também pode ser intencional ou desejada. Nesse contexto, é responsabilidade dos profissionais de saúde, em colaboração com as instituições de ensino, oferecer acolhimento, escuta qualificada e planejamento reprodutivo aos adolescentes. As(os) adolescentes devem ter acesso a recursos que facilitem a tomada de decisão responsável e consciente, considerando as implicações diárias do cuidado parental e respeitando seus direitos sexuais e reprodutivos. 28

Diante da complexidade dos fatores que influenciam a paternidade e maternidade responsáveis na adolescência, incluindo aspectos contextuais e históricos que moldam as representações desses papeis, o entendimento das RS desempenha uma função significativa na compreensão de como as(os) adolescentes lidam com os desafios relacionados a reprodução como aspecto da sexualidade. Os resultados deste estudo também apontam para a importância da educação em saúde no ambiente escolar como uma estratégia eficaz para promover o autocuidado e o cuidado com as parcerias nas relações afetivas e sexuais de maneira a minimizar e/ou evitar complicações relacionadas à paternidade/maternidade precoce, gravidez indesejada, interrupção da gestação e conseguintes agravos sobre a saúde mental.

O conhecimento das RS sobre paternidade e maternidade responsável chama a atenção para a importância do ambiente escolar como agente modificador das realidades. A escola é fundamental para o planejamento e elaboração do projeto de vida das(os) adolescentes, pois ajuda a fortalecer objetivos e planos para o futuro, além de melhorar as condições de trabalho e qualidade de vida por meio do estudo. Portanto, é crucial desenvolver projetos que levem as(os) adolescentes a entenderem sua importância no mundo, reconhecendo seu papel como protagonistas de suas próprias histórias. 29

Através dos resultados apresentados é possível perceber um receio em relação à paternidade e maternidade na adolescência como uma potencial interrupção dos planos de vida, especialmente no que tange aos estudos e à inserção precoce no mercado de trabalho. Essa apreensão não é infundada, pois, na realidade, muitas mães e pais adolescentes acabam enfrentando esses desafios, resultando em impactos significativos em suas trajetórias de vida.

Em face do exposto, torna-se evidente a necessidade de programas e politicas públicas que possam identificar e atender às vulnerabilidades sociais e econômicas dessas mães e pais adolescentes ao oferecer suporte financeiro e oportunidades de qualificação profissional, permitindo uma inserção mais robusta e bem remunerada no mercado de trabalho. Além disso, é crucial que essas estratégias garantam as condições de permanência na escola até a conclusão dos estudos para assegurar os direitos reprodutivos, promover um desenvolvimento pessoal e profissional mais equilibrado, mitigar os efeitos adversos da paternidade e maternidade precoces e quebrar ciclos de pobreza e exclusão social.

A escola é um terreno fértil para desenvolver atividades e programas que abordem as fragilidades no acesso a informações sobre prevenção da gestação na adolescência e os impactos da paternidade e maternidade nessa fase da vida. Para isso, a qualificação em saúde sexual e reprodutiva dos profissionais que atuam na escola é essencial e deve ir além dos professores.

A promoção de um ambiente mais acolhedor e seguro para a discussão de questões voltadas à sexualidade e reprodução necessita de atuação diversificada. Deve envolver também pedagogos, assistentes sociais, psicólogos, coordenadores, orientadores educacionais, entre outros sujeitos estratégicos da comunidade escolar. Esta frente multidisciplinar possibilita às(aos) estudantes contar com apoio diverso aumentando as possibilidades de maior envolvimento da comunidade escolar na identificação e intervenção precoce de situações de risco, redução de estigmas, suporte para suas preocupações, dúvidas e vulnerabilidades.

Outro ponto estratégico é a inclusão de profissionais de saúde como membros permanentes do quadro funcional da escola. Pois, suas funções vão além do básico, promovendo aprendizados cientificamente embasados e reflexões críticas sobre o tema. Além disso, é valioso destacar a importância de que suas ações de educação em saúde no contexto escolar devem estimular o protagonismo e a formação das(os) próprias(os) adolescentes como multiplicadoras(es) de informações entre seus pares a fim de garantir a assimilação através da identificação com os contéudos trabalhados.

Além disso, a criação de ferramentas e tecnologias de educação em saúde, como cursos e projetos que envolvam a família dos adolescentes é categórico para desenvolver vínculos sólidos e fortalecer laços já existentes. Essas ferramentas devem estar focadas em melhorar a qualidade das informações compartilhadas no ambiente familiar e minimizar desencontros e conflitos nas relações. Também devem atuar para que os conhecimentos e experiências familiares relacionadas ao tema não sejam omitidos devido a tabus, preconceitos ou inabilidade dos pais e responsáveis em lidar com o assunto.

Para tanto, a escola deve ser uma aliada no fortalecimento e desenvolvendo de atividades educativas com foco não apenas na promoção e prevenção da gravidez na adolescência, mas considerando também suas subjetividades, dimensões biopsicossociais e demandas individuais.

Conclusões

As RS das(os) adolescentes sobre a paternidade/maternidade responsável revelaram-se predominantemente negativas, pois eles percebem que assumir esse novo papel social implica em adaptações e abdicações. Portanto, é fundamental uma abordagem abrangente que assegure seus direitos reprodutivos e sexuais e ofereça um ambiente de valorização e escuta para que possam expressar suas simbologias e experiências. Isso é essencial para que possam atravessar a adolescência de forma leve e segura, garantindo seu desenvolvimento integral.

A forte relação entre as RS sobre maternidade/paternidade responsável e os medos e anseios das(os) adolescentes indicam a importância no desenvolvimento de estratégias coletivas que atuem sobre o ônus de ser pai e mãe na adolescência durante o período escolar. É perceptível, através dessas simbologias, que a permanência na escola e bom desempenho acadêmico, bem como o pleno desenvolvimento social podem ser comprometidos diante de uma gestação não planejada.

Este estudo possibilita a sensibilização e parceria entre profissionais de saúde, escola e familiares para a elaboração e execução de ferramentas que auxiliem as(os) adolescentes não somente na prevenção da gestação e/ou no enfrentamento dos seus desafios, mas também para a escolha por uma paternidade/maternidade consciente, segura e embasada, se esse for o desejo.

Embora não seja o foco deste estudo, sugerimos que trabalhos futuros incluam uma análise dos dados por raça/cor, a fim de possibilitar a discussão através de diferentes recortes de realidades além dos explorados nessa pesquisa. É necessário ainda ampliar os estudos que investigam os meios de acesso e a utilização das informações sobre a paternidade e maternidade responsável, bem como avaliar o impacto dessas informações em diferentes grupos de adolescentes. É importante também compreender como esses aspectos podem ser influenciados pelos nichos sociais, como família e escola.

Os estudos voltados a essa temática ainda são focados especialmente na prevenção, contracepção e suas implicações, portanto, recomenda-se o desenvolvimento de mais estudos sobre empoderamento, desenvolvimento de autoconfiança e corresponsabilização em adolescentes escolares que experieciam a paternidade/maternidade. Outro fato relevante é que nenhum(a) dos(as) participantes deste estudo é pai ou mãe. Portanto, é importante que investigações futuras incluam em suas amostras adolescentes que já vivenciaram as implicações da paternidade ou maternidade responsável e sua relação com a vida acadêmica, a fim de demonstrar a integralidade e os impactos dessa experiência a partir desses sujeitos.

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Disponibilidade de dados: O conjunto de dados que embasa os resultados deste estudo não está disponível.

Como citar: Silva NBR, Oliveira JR, Moreira MA, Bitencourt AOM. Representações sociais de adolescentes escolares sobre paternidade e maternidade responsável. Enfermería: Cuidados Humanizados. 2024;13(2):e3939. doi: 10.22235/ech.v13i2.3939

Contribuição de autores (Taxonomia CRediT): 1. Conceitualização; 2. Curadoria de dados; 3. Análise formal; 4. Aquisição de financiamento; 5. Pesquisa; 6. Metodologia; 7. Administração do projeto; 8. Recursos; 9. Software; 10. Supervisão; 11. Validação; 12. Visualização; 13. Redação: esboço original; 14. Redação: revisão e edição. N. B. R. D. S. contribuiu em 1, 3, 5, 6, 10, 11, 12, 13, 14; J. R. O. em 1, 2, 3, 5, 6, 7, 8, 10, 11, 12, 13, 14; M. A. M. em 1, 2, 3, 5, 6, 7, 8, 10, 11, 12, 13, 14; A. D. O. M. B. em 3, 12, 13, 14.

Editora científica responsável: Dra. Natalie Figueredo

Recebido: 07 de Março de 2024; Aceito: 02 de Outubro de 2024

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