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Ciencias Psicológicas

versión impresa ISSN 1688-4094versión On-line ISSN 1688-4221

Cienc. Psicol. vol.14 no.2 Montevideo  2020  Epub 04-Sep-2020

https://doi.org/10.22235/cp.v14i2.2033 

Artigos originais

O conhecimento vem dos rios: as representações sociais do envelhecimento entre idosos ribeirinhos

El conocimiento viene de los ríos: las representaciones sociales del envejecimiento entre los ancianos ribereños

Jefferson Luiz de Cerqueira Castro1 
http://orcid.org/0000-0002-7990-7611

Ludgleydson Fernandes de Araújo1 
http://orcid.org/0000-0003-4486-7565

1 Departamento de Pós-graduação em Psicologia, Universidade Federal do Delta do Parnaíba. Brasil


Resumo:

Objetivou-se apreender as Representações Sociais do envelhecimento para idosos de uma ilha fluvial brasileira. Trata-se de um estudo qualitativo-exploratório com amostra não-probabilística intencional. Utilizou-se questionários sociodemográficos e entrevistas semiestruturadas. Participaram 100 idosos ribeirinhos, pareados por sexo, com idades entre 60-89 anos (M= 70 anos; DP= 7). A partir da Classificação Hierárquica Descendente obtida através do software IRaMuTeQ, destacaram-se seis classes, as quais apresentaram representações sobre a concessão divina de envelhecer, o envelhecimento cronológico e implicações cumulativas, as perdas biopsicossociais, o impacto deste na funcionalidade, e o temor da dependência. Espera-se que o presente estudo contribua para intervenções sobre a o envelhecimento de idosos ribeirinhos e subsidie investigações futuras no campo gerontológico acerca dessa população.

Palavras-chave: envelhecimento; idosos; ribeirinhos; representações sociais; IRaMuTeQ

Resumen:

El objetivo fue aprehender las representaciones sociales del envejecimiento para los ancianos de una isla fluvial brasileña. Este es un estudio cualitativo-exploratorio con muestra no probabilística e intencional. Se utilizaron cuestionarios sociodemográficos y entrevistas semiestructuradas. Cien ancianos ribereños, emparejadas por sexo, con edades comprendidas entre 60-89 años (M= 70 años, DE= 7) participaron en el estudio. A partir de la Clasificación Jerárquica Descendente obtenida por el software IRaMuTeQ, se presentaron seis clases, que presentaron representaciones sobre la concesión divina del envejecimiento, el envejecimiento cronológico y las implicaciones acumulativas, las pérdidas biopsicosociales, su impacto en la funcionalidad y el miedo a la dependencia. Se espera que el presente estudio contribuya a las intervenciones sobre el envejecimiento de los ancianos ribereños y subsidie futuras investigaciones en el campo gerontológico sobre esta población.

Palabras clave: envejecimiento; ancianos; ribereño; representaciones sociales; IRaMuTeQ

Abstract:

This study aimed at understanding the Social Representations of aging of the senior citizens who live in a Brazilian river island. It is a qualitative-exploratory study with intentional non-probabilistic sample. Socio-demographic questionnaires and semi-structured interviews were used. Participants were 100 elderly people, paired by gender, aged between 60-89 years old (M= 71 years, SD= 7). From the Descending Hierarchical Classification obtained through the IRaMuTeQ software, six classes were presented. They showed representations on the divine grant of aging, chronological aging and cumulative implications, biopsychosocial losses and their impact on functionality, and fear of becoming dependent. It is hoped that the present study will contribute to interventions on the aging of the riverine elderly and subsidize further research in the gerontological field about this population.

Keywords: aging; elderly people; riverine population; social representations; IRaMuTeQ

É de conhecimento geral que o mundo está envelhecendo, e tal constatação tem alarmado os governantes e estudiosos da área, de forma que o envelhecimento populacional vem ganhando destaque nas agendas. O envelhecimento populacional pode ser caracterizado como o aumento da participação da população idosa no quadro geral de habitantes, o qual é seguido pelo aumento da idade média populacional. Este processo assume diferentes formas entre países desenvolvidos e nações em desenvolvimento, pois ao passo que nos primeiros esse processo foi lento, nos últimos iniciou-se de forma tardia e vem ocorrendo de forma intensa (Martins et al., 2016), como é o caso do Brasil.

Dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o 14.6% da população estão na faixa etária de 60 anos ou mais, o que compreende um pouco mais de 30 milhões de habitantes (IBGE, 2018). Ademais, esse aumento superou as projeções para o número de idosos, as quais estimavam um contingente de 29,3 milhões de pessoas idosas para 2020 no país (Simões, 2016).

Por esse lado, estima-se para 2025 uma população de 32 milhões de idosos no país (Vieira, Alves, Fernandes, Martins, & Lago, 2017), o que corresponderá a sexta maior população de idosos do mundo (Araújo, Castro, & Santos, 2018). Além disso, estima-se que a população idosa brasileira atinja a marca de 66.6 milhões no ano de 2050 (Simões, 2016). À guisa de comparação, atualmente a população idosa do Canadá representa o dobro do total de idosos brasileiros, todavia, na metade do século ambos os países estarão nivelados em relação a população idosa (Kalache, 2017).

O envelhecimento é um processo contínuo, natural e inevitável na vida dos seres vivos, definido por mudanças biopsicossociais e culturais que são impactadas por fatores intrínsecos como a genética e fatores extrínsecos como experiências angariadas e o meio ambiente (Souza, Carvalho, & Ferreira, 2018). Destarte, “o fenômeno natural do envelhecimento vai além da dimensão biológica, devendo ser compreendido também como fato histórico, social e cultural” (Peixoto, Lima, & Bittar, 2017, p. 209). Ainda, o processo de envelhecimento acarreta em mudanças em diferentes níveis, as quais podem ser atenuadas ou exacerbadas pelo ambiente (Nascimento, Cardoso, Santos, Magalhães, & Pinto, 2017). Nesse sentido, o paradigma life-span compreende o desenvolvimento como um processo que ocorre durante toda a vida; é multidimensional e multidirecional; é caracterizado por ganhos e perdas; evidencia plasticidade; ocorre em um contexto histórico-cultural; é contextual; e é multidisciplinar (Pereira, 2015).

Nesta direção, os povos ribeirinhos encontram algumas dificuldades em seu contexto, haja vista que não possuem acesso a serviços básicos, como serviços sanitários, de saúde e educação, bem como dificuldades na mobilidade, e a baixa influência política, o que faz com que estes sejam esquecidos pelo poder público e se encontrem em situação de vulnerabilidade (Nascimento et al., 2017). Esse fato chama a atenção, afinal se os ribeirinhos de forma geral estão desassistidos pelas políticas públicas, então, presume-se que os idosos ribeirinhos se encontram mais vulneráveis ainda, principalmente pela dificuldade de acesso a serviços em decorrência da distância (Meirelles, Brugnera, Bruna, & Fehr, 2016) acarretada pelo isolamento geográfico.

No que se refere aos ribeirinhos, pode-se definir esse povo como a população constituinte de um espaço a qual possui um modo de vida marcante que a distingue das demais populações de outros meios, como o rural e o urbano, de forma que o ribeirinho possui sua cosmovisão findada pela presença do rio (Silva, Farias, & Alves, 2016). O modo de vida, as atividades laborais e as relações sociais nessas regiões isoladas são primordialmente regidas pela natureza e pela cultura, passando a moderar os horários, as atividades e, por conseguinte os comportamentos dos moradores (Nascimento, Cardoso, Santos, Pinto, & Magalhães, 2019); isto posto, para os ribeirinhos o rio não é apenas um elemento físico constituinte do espaço, mas possui um simbolismo para estes, isto é, faz parte do seu modo de ser e viver (Silva et al., 2016).

Em face disso, o envelhecimento não é uma experiência homogênea, de forma que cada pessoa vivencia essa fase da vida conforme diferentes expectativas, desejos, valores e princípios, sendo interpretado de diferentes maneiras, de forma que é fortemente influenciado pela história de vida de cada sujeito (Nascimento, Cardoso, Santos, Magalhães, & Pinto, 2016). Em vista desse caráter dinâmico e idiossincrático do envelhecimento, torna-se relevante compreender como as representações sociais (RS) podem implicar na percepção deste processo que é o envelhecimento.

Não obstante, as RS auxiliam na compreensão das informações, das opiniões e atitudes dos indivíduos, sendo formas compartilhadas e identitárias de reconhecer o mundo, em uma tensão entre os atores sociais e suas subjetividades com as normas sociais de uma cultura específica (Torres, Camargo, Bousfield, & Silva, 2015). Em outras palavras, as representações podem ser caracterizadas como partilhadas e reproduzidas pelo social, munindo-se de uma constância e objetividade, permitindo a cristalização de ações de mão dupla entre os atores sociais, constituindo, assim, as instituições que dominam as representações que, por sua vez, impulsionam o indivíduo a se moldar a estas (Moscovici, 2012).

Vale destacar que o processo de formação das RS ocorre mediante dois processos sociocognitivos que ocorrem de forma simultânea: ancoragem e objetivação (Moscovici, 2012). A objetivação tem como objetivo transformar algo abstrato em quase concreto, assim une uma ideia não-familiar com a realidade, possibilitando a percepção de um universo inicialmente intrapsíquico em um universo acessível (Maia, Correia, & Oliveira, 2018). Por sua vez, a ancoragem mantém as ideias entrelaçadas na esfera intrapsíquica a partir da conversão do não-familiar em familiar, destinando tal elaboração para as estruturas já existentes (Moscovici, 2012).

Além do mais, a Teoria das Representações Sociais (TRS) possibilita a compreensão de uma determinada forma de conhecimento do mundo, em que os grupos sociais constroem e compartilham um montante de conhecimentos, conceitos, e explicações acerca de um tema específico, a partir das comunicações interpessoais que estabelecem no cotidiano (Brito, Belloni, Castro, Camargo, & Giacomozzi, 2018). Vale destacar que a TRS é utilizada nas mais diversas questões; primeiro, por ser uma teoria adaptável e versátil; segundo, por ser uma teoria psicossocial do senso comum; e, por último, devido a sua característica plurimetodológica (Rateau, Moliner, Guimelli, & Abric, 2012), permitindo explorar objetos distintos. Com efeito, o envelhecimento é um objeto socialmente construído, arreigado culturalmente e, por conseguinte, pode ser transformado e adaptado mediante o conhecimento (Soares et al., 2014).

Portanto, o interesse pelo contexto ribeirinho está ligado ao significativo número de pessoas envelhecendo nesses espaços, que no que lhe concerne, são findados de características ecológicas e socioculturais distintas. Em virtude disso, a presente pesquisa objetivou compreender sobre as representações sociais do envelhecimento para idosos que residem em um contexto ribeirinho de uma Ilha fluvial da região Nordeste do Brasil.

Materiais e Método

Tipo de Investigação

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, descritivo-exploratória, de corte transversal com amostra não-probabilística e por conveniência. Ainda, a presente pesquisa adota a Teoria das Representações Sociais, especificamente a abordagem sociogenética (Moscovici, 2012), como ferramenta teórico-metodológica, assim como o paradigma life-span do envelhecimento (Baltes, Staudinger, & Lindenberger, 1999) como compreensão de mundo.

Participantes

Os critérios de inclusão foram baseados em estudo prévio (Nascimento et al., 2016), e consistiram em: 1) ter 60 anos ou mais de idade; 2) residir no local; 3) não apresentar comprometimentos que afetem a capacidade comunicativa; 4) não possuir declínio cognitivo; 5) aceitar participar voluntariamente da pesquisa e assinar ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Destaca-se que os dados referentes a capacidade comunicativa e cognitiva foram rastreados através de auto-relato e relatos de familiares, bem como observações dos pesquisadores. Os critérios de exclusão foram adotados conforme a não adequação aos critérios estabelecidos para participação do estudo.

A população-alvo consistiu em 124 idosos, os quais são cadastrados no posto de saúde do Povoado Canárias (Ilha das Canárias, Araioses, Maranhão, Brasil). Dentre essa população, dois não atenderam ao critério 4); cinco não cumpriram o critério 3), e um não se adequou ao critério 1). Ainda, houve sete recusas; quatro apresentavam alguma doença incapacitante, impedindo assim a participação na pesquisa; três não se encontravam na localidade; um havia falecido durante o período de coleta; e um não pode ser localizado; de modo que 24 idosos não foram incluídos na amostra.

Instrumentos

Utilizou-se de questionários socioeconômicos e sociodemográficos, os quais continham questões referentes ao sexo, renda, escolaridade, religião, entre outros, com o intuito de caracterizar a amostra. A fim de compreender o fenômeno das RS, utilizou-se a entrevista semiestruturada, por permitir maior flexibilidade para possíveis intervenções e possibilitar investigação mais abrangente. A entrevista semiestruturada consistiu no seguinte questionamento: O que o(a) senhor(a) entende por envelhecimento? Vale destacar que o preenchimento dos instrumentos durou cerca de 40 minutos no total.

Procedimentos

Inicialmente, esta pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí, e aprovado sob o parecer 2.734.021, no qual todos os critérios para pesquisas realizadas com seres humanos foram obedecidos, de acordo com o disposto nas Resoluções 466/12 e 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde.

Após a aprovação, realizou-se um mapeamento do território sobre a população-alvo com auxílio dos Agentes Comunitários de Saúde, a fim de localizar os idosos para facilitar o processo de coleta de dados em domicílio. Os pesquisadores adotaram como critério a coleta no âmbito domiciliar a fim de promover um espaço de menos ansiedade durante a aplicação dos instrumentos, bem como devido às dificuldades de mobilidade dos idosos aos locais públicos.

Após a localização do idoso é feita a visita domiciliar. Antes da aplicação dos instrumentos é apresentado o TCLE ao idoso, sendo explicado pelo pesquisador o caráter da pesquisa, de forma que é enfatizado ao participante o caráter sigiloso e o anonimato em relação aos dados fornecidos, sendo garantidos que as informações só serão utilizados para fins científicos, bem como são esclarecidos os riscos e benefícios da pesquisa, ficando a incumbência do participante aceitar participar ou não, estando ciente de que depois que aceitar poderá desistir a qualquer momento sem prejuízos.

A aplicação dos instrumentos apresenta a seguinte ordem: aplicou-se os questionários sociodemográficos, a fim de caracterizar a amostra e servir de quebra-gelo para as outras aplicações; em seguida realizou-se a entrevista semiestruturada.

Análise dos Dados

Os dados provenientes dos questionários socioedemográficos foram submetidos a estatísticas descritivas com auxílio do software IBM SPSS 25.0, a fim de traçar o perfil da amostra.

Já as entrevistas semiestruturadas foram transcritas integralmente em um arquivo de texto; em seguida, construiu-se as linhas de comando com algumas variáveis sociodemográficas, sendo analisadas pelo programa IRaMuTeQ 0.7 alpha 2, o qual realizou a análise textual dos discursos, obtendo-se a Classificação Hierárquica Descendente (CHD), que se trata de uma análise a partir de cálculos estatísticos, como qui-quadrado e frequências, que permite a categorização de segmentos de texto em classes textuais, permitindo a construção de estrutura gráfica que aponta a relação entre os léxicos (dendrograma). É importante mencionar que as RS apreendidas pela CHD foram analisadas sobre o enfoque da abordagem sociogenética de Moscovici (2012).

Resultados

Participaram da pesquisa 100 idosos, pareados por sexo, com idades entre 60 e 89 anos (M= 70 anos; DP= 7), grande parte casados (61%), seguido de viúvos (26%), em sua preponderância católica (86%), predominando a coabitação com algum familiar ou amigo (88%), e em quase sua totalidade com baixa escolaridade (ensino fundamental incompleto - 53%; nenhuma escolaridade - 45%), sendo o maior grau de instrução o ensino fundamental completo (2%).

Dentre os idosos pesquisados, a maioria não trabalha (85%), praticamente todos já são aposentados (97%), sendo que um pouco acima de um quinto da amostra além de aposentado é pensionista (22%), e em sua maioria são responsáveis pelo sustento da família (66%), com renda de um salário mínimo (70%), seguido daqueles que recebem o montante de dois a três salários (24%).

O corpus geral foi constituído por 98 textos (entrevistas), separados em 98 segmentos de texto (ST), com aproveitamento de 71 STs (72.45%). É importante ressaltar que dentre os 100 participantes apenas 98 responderam integralmente a entrevista semiestruturada, de modo que 2 textos não foram aproveitados pelo software o que explica a retenção de 98 textos.

Emergiram 2.055 ocorrências (palavras), sendo 431 palavras distintas, de modo que destas 230 foram mencionadas uma única vez. O conteúdo analisado foi categorizado em seis classes: Classe 1, com 11 ST (15.49%); Classe 2, com 10 ST (14.08%); Classe 3, com 10 ST (14.08%); Classe 4, com 11 ST (15.49%); Classe 5, com 12 ST (16.9%); e Classe 6, com 17 ST (23.94%).

Vale mencionar que o corpus principal se subdividiu em quatro ramificações (ver Figura 1). O subcorpus A), “Envelhecimento como uma dádiva”, formado pela Classe 6 (O privilégio de envelhecer), a qual apresentou representações do envelhecimento como uma concessão divina que permite que aqueles que envelhecem alcancem uma maior expectativa de vida.

Já o subcorpus B, denominado “Envelhecimento: uma série de mudanças”, composto pelas Classes 1 (Envelhecimento cumulativo), 4 (Envelhecimento e funcionalidade), retrata esse processo ininterrupto, em que ocorrem algumas mudanças físicas e nos papéis sociais, que impactam as atividades desempenhadas pelos idosos, tendo como consequência uma redução destas. O subcorpus C, nomeado “Envelhecimento: um continuum”, constituído pela Classe 5 (Envelhecimento cronológico), apresenta uma concepção do envelhecimento como um processo contínuo no tempo, o qual resulta em um processo cumulativo, que tem como produto final o idoso.

Por outro lado, o subcorpus D, concebido como “Atitudes negativas frente o envelhecimento”, constituído pela Classe 2 (Perdas do envelhecimento) e pela Classe 3 (Envelhecimento e dependência), apresentam em seu conteúdo uma representação negativa do envelhecimento, a qual ancora-se nas perdas decorrentes desse processo, bem como em suas consequências, como a falta de autonomia dos sujeitos.

Para se obter uma melhor visualização das classes, elaborou-se um dendrograma com a lista de palavras de cada classe estabelecidas a partir do teste qui-quadrado. Nele emergem as evocações que compartilham vocabulário entre si e vocabulário distinto das outras classes. À posteriori serão descritas, operacionalizadas e ilustradas cada uma dessas classes expressas na Classificação Hierárquica Descendente (ver Figura 1). Para exemplificar o sentido das palavras no dendrograma são apresentados alguns enxertos dos discursos dos participantes, de modo que as palavras que emergiram na referida classe foram destacadas em negrito.

Figura 1: Representações sociais do envelhecimento ribeirinho. 

Classe 6 - O Privilégio de Envelhecer

A classe referida incluiu 23.94% (ƒ= 17) do total de segmentos de texto retidos do corpus, sendo a classe mais significativa, a qual é constituída por termos que abrangem o intervalo entre χ²= 9.95 (sorte) e χ²= 36.37 (Deus). Essa classe é formada por palavras como, “dar” (χ²= 16.4); “natural” (χ²= 13.46); “jovem” (χ²= 9.95); “etapa” (χ²= 9.95); “ter” (χ²= 14.93); “essa” (χ²= 9.95).

Mediante as informações apresentadas pelos respondentes, observa-se uma representação do envelhecimento ancorada na dimensão espiritual, o que é caracterizada pela objetivação da atribuição divina do envelhecimento; sejam os aspectos positivos (longevidade) ou os aspectos negativos do envelhecimento (doenças), para esses idosos, tudo é determinado por uma figura celestial. Ademais, os idosos destacam o privilégio de se envelhecer, como sendo uma sorte em alcançar uma idade avançada, tendo em vista que muitos perecem jovens e não conseguem chegar na velhice. Verificou-se um maior destaque dessas representações entre idosos não aposentados, evangélicos, solteiros, com renda inferior a um salário, e não pensionistas.

“É a sorte que Deus dá, quem tem a sorte de viver muito, mas hoje é muito difícil. A gente envelhecer é melhor porque a vida é comprida” (Participante 97, 68 anos, sexo masculino, casado).

“A gente tem que se conformar com a idade que vem chegando, é natural, até mesmo com as doenças que aparecem, tudo é a vontade de Deus” (Participante 91, 72 anos, sexo feminino, casada).

Classe 1 - Envelhecimento Cumulativo

Em uma das ramificações da Classe 6, deriva a referida classe, a qual compreende 15.49% (ƒ= 11) do total de segmentos de texto retidos do corpus, a qual é formada por palavras e radicais que compreendem o intervalo entre χ²= 3.92 (pessoa) e χ²= 18.52 (velho). Essa classe é formada por palavras como “ficar” (χ²= 10.59); “mais” (χ²= 7.31); “porque” (χ²= 6.41); “vez” (χ²=6.27); “passar” (χ²= 4.62); “a gente” (χ²= 4.6); “novo” (χ²= 4.33); “estar” (χ²= 7.56); “cada” (χ²= 6.6); “tempo” (χ²= 6.4).

Como foi esclarecido na classe anterior (O privilégio de envelhecer), os idosos vislumbram o envelhecimento como um presente de Deus, e derivada desta assume-se o envelhecimento como um contínuo que denota um processo cumulativo de tempo, ou seja, Deus permite que os idosos vivam mais concedendo mais anos em suas vidas, fazendo com que estes tornem-se cada vez mais velhos.

Portanto, a partir da análise realizada, verificou-se que os participantes ao serem questionados sobre o que entendem por envelhecimento representaram este como um processo cronológico, de modo que com o passar do tempo os sujeitos vão ficando mais velhos. Além disso, estes ancoram essa representação ao tornar-se velho, isto é, para esses idosos o envelhecimento é percebido somente a partir do estado de ser idoso, e não como um processo que ocorre desde o nascimento. Além do mais, os mesmos representam esse processo como sendo determinado e irreversível, ou seja, para esses idosos, o envelhecimento tem que acontecer e não se pode retornar a juventude. Ressalta-se que houve um maior destaque das RS da presente classe para os idosos de 65 a 69 anos, ou seja, idosos jovens.

“É uma coisa que a gente já sabe que está ficando velho e não vai ficar mais novo, cada vez que o tempo passa vai ficando mais velho” (Participante 62, 70 anos, sexo feminino, viúva).

A gente não tem que ficar novo, a gente tem que ficar velho mesmo. Cada ano que passa a gente vai envelhecendo mais” (Participante 72, 66 anos, sexo masculino, casado).

Classe 4 - Envelhecimento e Funcionalidade

A classe atual apresentou uma retenção de 15.49% (ƒ= 11) do total de STs analisados, apresentando o mesmo peso da classe anterior, a qual está pareada em sua ramificação. A mesma compreendeu as palavras entre o intervalo de χ²= 35.71 (querer) e χ²= 3.86 (trabalho). Além destas, a classe foi constituída pelas definidoras “quando” (χ²= 20.8); “não” (χ²= 8.81); “envelhecer” (χ²= 8.03); “força” (χ²= 6.27); “andar” (χ²= 6.27); “mão” (χ²= 6.27); “a gente” (χ²= 4.6); “fazer” (χ²= 15.22); “poder” (χ²= 6.41); “somente” (χ²= 5.96).

Ao se levar em consideração a classe anterior (Envelhecimento cumulativo) evidencia-se que o processo cumulativo de anos tem como produto final o sujeito envelhecido, o qual é retratado pelos respondentes nessa classe como “velho”. Consoante os dados mencionados, se evidenciou que, para os participantes do estudo, o envelhecimento está relacionado com a incapacidade funcional, a qual é ancorada, principalmente, nas perdas laborais. Por conta disso, os idosos representam o envelhecimento como um período de cisão entre o que se fazia e o que não se consegue mais desempenhar, o que traz à tona a questão da dependência durante o envelhecimento; pois como os idosos não conseguem mais realizar determinadas atividades as quais conseguiam outrora, portanto dependem de outras pessoas para realizá-las. Observou-se um destaque dessas representações entre idosos do sexo masculino e na faixa etária de 70 a 74 anos. A diferença de sexo pode ser explicada pela relação do homem ribeirinho com atividades mais duras, as quais são mais difíceis de serem realizadas em idades mais avançadas, o que condiz com a faixa etária supracitada.

“É quando a pessoa fica velha e já não pode fazer o que quer, não pode fazer nada, não pode enxergar. Envelhecimento é somente andar pela mão dos outros, é somente depender dos outros” (Participante 26, 70 anos, sexo masculino, casado).

Quando a gente envelhece não pode fazer o que fazia, a gente quer trabalhar na nossa área (pesca/roça) e não pode mais, aí a gente sente falta” (Participante 71, 66 anos, sexo masculino, casado).

Classe 5 - Envelhecimento Cronológico

A vigente classe obteve 16.9% (ƒ= 12) do total de STs classificados pelo corpus geral e compreendeu os termos entre o intervalo de χ²= 6.26 (envelhecer) e χ²= 26.18 (esperar). Além destes, a classe consistiu das formas, “ano” (χ²= 16.44); “dia” (χ²= 11.56); “passar” (χ²= 7.22); “envelhecer” (χ²=6.26); “cada” (χ²= 10.96); “aquele” (χ²= 10.19).

Em uma das ramificações da Classe 6 (O privilégio de envelhecer), e em proximidade de sentido com a Classe 1, percebe-se que os entrevistados representam o envelhecimento como algo já esperado, como sendo programado e universal, e que todos devem passar por ele. Além disso, as RS ancoram-se novamente na dimensão cronológica do envelhecimento - como se evidenciou na Classe 1, sendo objetivada no passar do tempo, e na cumulação de anos à vida dos idosos, o que contribui para que estes tornem-se mais velhos. Observou-se uma maior concentração dessas RS entre os participantes entre 60 e 64 anos de idade.

“O envelhecimento é algo que ficamos esperando acontecer. É uma coisa que não se renova; a cada dia que se passa fica mais velho” (Participante 29, 76 anos, sexo feminino, casada).

Depois que a gente envelhece a gente somente espera a morte, porque já passou aquele tempo todo, aí pra frente... né, meu filho?” (Participante 70, 87 anos, sexo feminino, viúva).

Classe 3 - Envelhecimento e Dependência

Esta classe apresentou 10.08% (ƒ= 10) do total de segmentos retidos pelo corpus geral, sendo constituída pelas palavras entre χ²= 4.42 (viver) e χ²= 19.31(ruim). Além das palavras supracitadas, a presente classe é composta por vocábulos como “muito” (χ²= 13.53); “vida” (χ²= 12.26); “coisa” (χ²= 7.81); “depender” (χ²= 7.16); “outro” (χ²= 7.85).

Derivada da Classe 5, a qual em seu conteúdo representa a passagem do tempo como marcador do envelhecimento, percebe-se que os participantes apresentam uma atitude negativa frente o envelhecimento, caracterizada pela dimensão valorativa de suas representações sociais. Essa percepção negativa do envelhecimento está diretamente relacionada à dependência, como observou-se na Classe 3, ou seja, para esses idosos o fato de ter que depender de alguém durante a velhice representa um marcador negativo do processo de envelhecimento. Vale mencionar que houve um maior destaque das RS da presente classe para os idosos de 65 a 69 anos, isto é, idosos jovens.

“É muito ruim a gente ser velho, porque a gente depender dos outros é muito ruim, né? É o final da vida da gente, né? Todo mundo vive com problema de saúde” (Participante 18, 62 anos, sexo feminino, casada).

“A gente envelhecer é muito ruim, a gente fica pela mão dos outros. É ter vivido muito, né? Já passou por muitas coisas boas e ruins para chegar onde está” (Participante 34, 68 anos, sexo masculino, solteiro).

Classe 2 - Perdas do Envelhecimento

A presente classe reteve 14.08% (ƒ= 10) do total de STs, possuindo o mesmo peso que a classe pareada em sua ramificação (Classe 3), sendo composta pelos vocábulos entre χ²= 4.52 (você) e χ²= 19.11 (acabar). Essa classe é composta por, além das já citadas, por palavras como “chegar” (χ²= 9.08); “idade” (χ²= 8.31); “nossa” (χ²= 7.16).

Observa-se uma proximidade com a classe anterior, tendo em vista que o processo de dependência na velhice causa prejuízos psicossociais aos idosos, bem como impacta negativamente a vivência do envelhecimento. Portanto, a partir dos dados elencados, percebe-se que os participantes representam o envelhecimento a partir de uma perspectiva negativa, associando-o às perdas do envelhecimento (físicas, sociais e emocionais), bem como uma ligação com a finitude, sendo estas ligadas ao marcador etário.

“É quando chega o tempo, a idade avançada, e muitos não chegam a viver muito, acabam morrendo” (Participante 24, 68 anos, sexo feminino, viúva).

“É a idade, né? A saúde vai se acabando, a animação que tinha não tem mais. As coisas boas da vida se acabam tudo” (Participante 25, 76 anos, sexo masculino, viúvo).

Nesse sentido, percebe-se o quão variado são as RS do envelhecimento construídas por esses idosos, variando desde percepções negativas do envelhecimento a aspectos espirituais.

Discussão

A representação social do religioso ou espiritual é quase sempre incluída nos discursos atribuindo diferentes valores como, de gratidão, de direção e benção divina, o que corrobora quão importante é acreditar em uma figura superior durante a velhice; além disso, as estratégias utilizadas pelos idosos embasadas na religiosidade, servem como um atenuante das situações negativas (Nascimento et al., 2016).

Assim, os idosos que possuem uma religião tendem a apresentar uma perspectiva mais espiritual sobre o envelhecimento; assim como aqueles solteiros, possivelmente por não possuírem um apoio social maior do que aqueles casados, agarram-se mais a fé para enfrentar o envelhecimento. De modo semelhante, idosos de baixa renda, por terem menos acesso a recursos, tendem vincular aspectos espirituais ao envelhecimento como forma de enfrentamento às vulnerabilidades sociais.

Nesse sentido, ao verificar que os idosos utilizam da espiritualidade como forma de enfrentamento diante de algumas perdas, se evidencia “a plasticidade do indivíduo ao longo de seu ciclo vital, de mudança e adaptação às situações novas, ao compensar as perdas funcionais, cognitivas e sociais acarretadas pelo envelhecimento cronológico” (Faria, Santos, & Patiño, 2017, p. 2).

Não obstante, os idosos ribeirinhos, apesar de se encontrarem em situação de vulnerabilidade, destacam alguns ganhos durante o processo de envelhecimento, o que reitera a perspectiva do life-span. Nesse aspecto, consoante o paradigma life-span¸ o desenvolvimento não finda na fase adulta, mas se estende por toda a vida, isto é, desde a concepção até o final da vida estão presentes processos adaptativos de aquisição, manutenção, transformação e desgaste nas estruturas e funções psíquicas (Luttigards, 2018).

O envelhecimento pode ser definido como um processo idiossincrático, ativo e progressivo, não sendo um processo isolado, porém uma soma de múltiplos determinantes, de forma que se inicia ao nascer e se propagará até a finitude (Arruda & Borges, 2016). Ainda, o envelhecimento diz respeito ao ato ou decorrência de envelhecer, que denota ficar velho; parecer velho; viver muito tempo (Vieira, Coutinho, & Saraiva, 2016); o que condiz com a percepção dos respondentes sobre o envelhecimento como e o tornar-se velho.

É importante ressaltar que essa indiferenciação entre alguns conceitos do campo da gerontologia é bastante comum nas pesquisas de representações sociais da velhice, do idoso e do envelhecimento, uma vez que o conhecimento do senso comum frequentemente não distingue estes objetos sociais, ancorando-os e objetivando-os de forma semelhante ou até mesmo igual (Biasus, Demantova, & Camargo, 2011).

Não obstante, envelhecer remete o efeito natural do tempo que faz com que todo ser vivo envelheça, modificando sua aparência física, bem como as funcionalidades do seu corpo (Arruda & Borges, 2016). O desempenho funcional, isto é, a condição que o sujeito possui de viver de forma autônoma e se relacionar em seu contexto decresce conforme a idade progride (Lima, Araújo, & Scattolin, 2016). Em face das condições de vida precárias nos países em desenvolvimento, o envelhecimento funcional antecede o cronológico, fato que é mais saliente nas populações mais carentes (Papaléo Netto, 2017), como é o caso da ribeirinha.

Tendo em vista que os idosos ribeirinhos possuem uma relação com o trabalho desde a infância, trabalho este braçal, muitas das vezes, os quais demandam bastante vigor físico; então, com o processo de senescência, ocorre uma redução gradual das atividades desempenhadas pelos sujeitos. Essa redução na funcionalidade dos idosos faz com que estes sintam-se velhos, pois para os idosos, ao não conseguir dar conta de suas atividades estes percebem que já envelheceram.

Em uma pesquisa realizada por Pereira, Firmo e Giacomin (2014), na cidade de Bambuí - MG, com o intuito de investigar os elementos que corroboram na construção dos significados da incapacidade funcional para os idosos, apresentou como categorias de análise dar conta/ não dar conta e, dar trabalho. De forma que, dentre os 57 idosos entrevistados, não dar conta refere-se às perdas ocasionadas pela velhice e dar trabalho representa uma condição de dependência na qual gera sofrimento ao idoso e o cuidador, mostrando que quando ainda é possível dar conta não se está velho, ao passo que quando não dar conta é significado como estar incapaz e dependente, tornando-se velho (Pereira et al., 2014).

Apesar dos achados, o modo de vida no contexto rural pode propiciar maiores índices de manutenção da capacidade funcional visto que a atividade física é conservada por mais tempo, mesmo que com menor frequência e intensidade; assim, a realização das tarefas domésticas, de subsistência (como cuidar dos animais, da horta), significam a continuidade do trabalho e papel social do idoso na família (Winckler, Boufleuer, Ferretti, & Sá, 2016).

Como é de conhecimento geral, o envelhecimento é um fenômeno característico do ciclo de vida, o qual é definido por mudanças biopsicossociais inerentes associadas ao decurso do tempo; assim não deve ser vislumbrado como uma casualidade de percurso, mas sim, como determinação de um programa de desenvolvimento e maturação em múltiplas dimensões (Silva, 2011). Não obstante, “o envelhecimento cronológico é a modificação sofrida ao longo do tempo, caracterizado como um fenômeno biológico que atinge o ser humano” (Arruda & Borges, 2016, p. 215). Desse modo, o envelhecimento é concebido como a etapa de todo um continuum que é a vida, iniciando com o nascimento e finalizando com a morte (Papaléo Netto, 2017).

Nas representações da sociedade, o envelhecimento está ligado a diversas perdas como, por exemplo, da autonomia, a debilidade física, as doenças, a incapacidade para o trabalho (Araújo & Carlos, 2018). Ao longo do curso da vida, as representações do envelhecimento são internalizadas de forma subjacente, moldando a percepção do sujeito em relação ao próprio envelhecimento (Swift, Abrams, Lamont, & Drury, 2017); ou seja, este sujeito, com uma visão estereotipada do envelhecimento acaba carregando esses estereótipos consigo durante a velhice, o que pode ser prejudicial durante essa etapa do ciclo do desenvolvimento.

Assim, essa autopercepção negativa do envelhecimento tem implicações prejudiciais no autocuidado e na saúde dos idosos (Mendoza-Núñez, Sarmiento-Salmorán, Marín-Cortés, Martínez-Maldonado, & Ruiz-Ramos, 2018). Essa visão pessimista do envelhecimento por parte dos entrevistados pode estar associada a algumas perdas (como a diminuição da saúde, da disposição) que acompanham o processo de envelhecimento, as quais incidem na autonomia dos mesmos, sendo a dependência o maior medo desse grupo etário.

Desse modo, e ao levar em consideração que as representações sociais se ancoram nas identidades sociais, culturais e experiências vividas no cotidiano (Jodelet, 2001), pode-se refletir que os idosos ribeirinhos associam à RS do envelhecimento, principalmente, conteúdos relacionados a perdas ou limitações porque estes possivelmente fazem parte de suas vivências cotidianas.

Conclusões

Em face aos dados apresentados, percebe-se um caráter heterogêneo nas RS do envelhecimento para os ribeirinhos, o que corrobora com a literatura. Todavia, em face a realidade ribeirinha observou-se algumas singularidades, pois apesar das perdas destacadas percebe-se que os idosos ribeirinhos se utilizam de aspectos espirituais para evidenciar os aspectos positivos de se envelhecer, dentre estes a longevidade. Não obstante, constata-se que apesar de se encontrarem em maior vulnerabilidade estes encaram o envelhecimento, de uma forma geral, como uma benção, o que pode ser reforçado pelo paradigma life-span, modelo teórico do envelhecimento adotado nesse estudo.

Assim, os idosos ao se adaptarem às condições desfavoráveis demonstram uma maior plasticidade, bem como seleção de recursos socioafetivos e otimização dos recursos presentes, como é o caso do religioso como forma de enfrentamento. Dentre os entraves metodológicos destaca-se acerca do processo de coleta de dados, o qual perfilou somente um dos povoados da Ilha das Canárias, pois em vista dos outros povoados se encontrarem mais distantes, o que dispenderia maior tempo de locomoção e seria mais oneroso, tornou inviável a pesquisa nesses outros territórios. Assim, se sugere que sejam realizados novos estudos com os idosos que residem nos povoados mais afastados da Ilha a fim de confirmar ou confrontar os dados apresentados.

Além do mais, por se tratar de uma pesquisa com amostra não-probabilística por conveniência, este estudo não permite a generalização dos resultados para todos os idosos ribeirinhos da Região Nordeste brasileira. Ademais, a presente pesquisa apresentou um delineamento, o que não permitiu estabelecer uma relação de causa e efeito a partir das RS apreendidas e as variáveis investigadas.

Ao se considerar a importância da temática para os estudos no campo da Gerontologia, a presente investigação marca um campo inaugural no âmbito das pesquisas de natureza psicossociais. De fato, os achados apontados neste estudo contribuíram para conhecer a percepção dos idosos ribeirinhos sobre o processo de envelhecimento e como estes o representam. Nesse ínterim, esse estudo pode abrir precedentes para pesquisas psicossociológicas no contexto ribeirinho. Em vista disso, sugere-se que sejam realizados estudos com idosos ribeirinhos abrangendo métodos mistos, avaliando a capacidade funcional e saúde autopercebida, dialogando com dados qualitativos sobre o envelhecimento.

Para além dos aspectos acadêmicos, o presente estudo pode subsidiar a reflexão sobre políticas de atenção à população idosa ribeirinha. Por esse lado, no que se refere a contribuição social deste estudo, recomenda-se o planejamento e a implementação de ações voltadas à assistência em saúde às pessoas idosas que vivem às margens dos rios, ao se considerar suas particularidades e necessidades, primando por uma vivência plena do processo de envelhecimento.

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Financiamento: Este estudo foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado Piauí (FAPEPI)

Como citar: Castro, J.L.C., & Araújo, L.F. (2020). O conhecimento vem dos rios: as representações sociais do envelhecimento entre idosos ribeirinhos. Ciencias Psicológicas, 14(2), e2033. doi: https://doi.org/10.22235/cp.v14i2.2033

Correspondência: Jefferson Luiz de Cerqueira Castro. Universidade Federal do Delta do Parnaíba, Departamento de Pós-graduação em Psicologia, Parnaíba-PI, Brasil. E-mail: jefferson.psico.ufpi@outlook.com. Ludgleydson Fernandes de Araújo; e-mail - ludgleydson@yahoo.com.br.

Participação dos autores: a) Planejamento e concepção do trabalho; b) Coleta de dados; c) Análise e interpretação de dados; d) Redação do manuscrito; e) Revisão crítica do manuscrito. J.L.C.C. contribuiu em c,d; L.F.A. em a,e.

Editora científica responsável: Dra. Cecilia Cracco

Recebido: 26 de Dezembro de 2019; Aceito: 04 de Setembro de 2020

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