Introdução
Distinguindo-se como uma alternativa conceptual aos modelos de saúde mental com foco em problemas e défices do desenvolvimento, a perspetiva do Desenvolvimento Positivo dos Adolescentes proporciona uma conceção do adolescente que tem como base as suas forças, define uma nova abordagem na investigação sobre o desenvolvimento do adolescente, assim como possibilita um diferente foco para políticas e programas que visam a saúde dos adolescentes (Benson, Scales, Hamilton, & Sesma, 2006; Bonell et al., 2016; Damon, 2004; Duncan, 2007; Lerner & Steinberg, 2009).
No âmbito desta perspetiva surge em 1990 o conceito de Recursos do Desenvolvimento - “Developmental Assets” ® - proposto pelo Search Institute (Benson, 1990) com o objetivo de descrever o que os adolescentes necessitam para um desenvolvimento bem-sucedido (Benson, 2006, 2007; Benson et al., 2006; Benson, Scales, & Syvertsen, 2011; Scales & Leffert, 2004). Este modelo associa características ecológicas positivas (recursos externos) a competências, capacidades e valores (recursos internos), assumindo que estes recursos constituem blocos de construção - “Building Blocks” - dinamicamente interligados (Benson et al., 2006, p.906) que, em combinação, previnem comportamentos de risco (Benson & Scales, 2009) e reforçam um desenvolvimento bem-sucedido - isto é, Thriving (Benson et al., 2006; Scales, Benson, Leffert, & Blyth, 2000). Refletindo a metateoria relacional, enquadrada pelas teorias sistémicas do desenvolvimento, conhecidas como Developmental Systems Theory (Ford & Lerner, 1992; Gottlieb, 1997; Lerner & Steinberg, 2009), central ao Modelo de Recursos do Desenvolvimento encontra-se a potencial plasticidade ontogenética que reconhece a existência de relações de interdependência reciproca entre os níveis biológico, individual e contextual de organização. Tal pressupõe que o desenvolvimento positivo pode ser promovido através de uma convergência entre recursos individuais e condições contextuais favoráveis (Benson et al., 2006) o que constitui de acordo com o modelo, «(…) the fusion of external (i.e., ecological) assets and internal assets (…)» (Benson, 2007, p. 38).
O modelo, cuja configuração original compreendia 30 Recursos do Desenvolvimento distribuídos em seis categorias, foi revisto em 1996 (Benson, 1997, 2006) resultando na identificação dos atuais 40 Recursos em oitos categorias que integram o modelo (Benson, 1997, 2006; Benson et al., 1998; Scales & Leffert, 2004), constituindo tanto uma estrutura teórica como um modelo de pesquisa aplicada. Estes 40 Recursos identificados organizam-se em 20 Recursos Externos e 20 Recursos Internos. Os Recursos Externos consistem em características do ambiente promotoras de saúde, isto é, experiências, relações, suporte e oportunidades proporcionadas por pessoas na família, escola, comunidade ou pares. Incluem quatro categorias: Suporte (suporte familiar, comunicação familiar positiva, relações com outros adultos, vizinhança atenciosa, ambiente escolar cuidador, envolvimento dos pais com a escola, Empowerment, (comunidade que valoriza os adolescentes, adolescentes como recursos, serviço aos outros, segurança) Limites e Expectativas (limites na família, escola e vizinhança, adultos como modelos de comportamento, influência positiva dos amigos, elevadas expectativas) e Uso Construtivo do Tempo (atividades criativas, programas para adolescentes, comunidade religiosa, tempo em casa).
Os Recursos Internos consistem em crenças, valores e competências e autoperceções que os adolescentes desenvolvem gradualmente ao longo do tempo em resultado de inúmeras experiências: o crescimento destes recursos um processo idiossincrático de autorregulação. Incluem também quatro categorias: Compromisso com a Aprendizagem (motivação para a aprendizagem, compromisso com a escola, trabalho de casa, relação com a escola, satisfação com a leitura), Valores Positivos (atenção, igualdade e justiça social, integridade, honestidade, responsabilidade, crenças de controlo), Competências Sociais (planear e tomar decisões, competência interpessoal e cultural, capacidade de resistência, resolução de conflitos pacífica) e Identidade Positiva (poder pessoal, autoestima, sentido de propósito, visão positiva do futuro pessoal) (para uma análise aprofundada do modelo consultar Benson, 2006; Benson et al., 2006; Benson et al., 2011; Scales & Leffert, 2004; Soares, Pais-Ribeiro, & Silva, 2017).
De salientar que para além do estudo conceptual e empírico relativamente aos elementos fundamentais de um desenvolvimento positivo durante a adolescência, a forma como o modelo de Recursos do Desenvolvimento está organizado reflete o propósito da sua utilização para fins educacionais e de comunicação pública (Benson et al., 2006).
O objetivo da presente investigação consiste em descrever analisar e discutir os resultados da utilização do modelo de Recursos do Desenvolvimento - “Developmental Assets”.
Método
Critérios de elegibilidade
Definidas as características específicas dos estudos e publicações a utilizar em revisão (Liberati et al., 2009; Pais-Ribeiro, 2014; Whittemore & Knafl, 2005), os estudos foram selecionados de acordo com os seguintes critérios: incluíram-se estudos que exploram o modelo de Recursos do Desenvolvimento no âmbito da perspetiva do Desenvolvimento Positivo na Adolescência; que examinam população adolescente (idade compreendida entre 10 e 19 anos); intervenções baseadas no modelo de Recursos do Desenvolvimento; sem restrições por tipo de setting; artigos publicados em Inglês, Português e Espanhol; sem restrições no que respeita à data de publicação; estudos com acesso a texto integral. Excluíram-se revisões da literatura, comentários, editoriais, sumários de conferências e dissertações.
Fontes de informação e estratégia de pesquisa
Como fontes de informação considerou-se a pesquisa de publicações acessíveis em bases de dados eletrónicas, nomeadamente Web of Science, ERIC, Science Direct e SciELO. A pesquisa decorreu durante o período de tempo entre Março a Maio de 2017. Na base de dados Web of Science (24/04/2017) foi seguido o seguinte procedimento: (1) utilização dos termos “Developmental Assets Adolescence”, com opção Search: All Databases, Timespan = All years (1900-2017), Search Language = Auto, obtendo-se como resultado um total de 57 publicações; (2) utilização dos termos “Developmental Assets Adolescent”, com opção Search: All Databases, Timespan = All years, Search Language = Auto, obtendo-se 204 publicações.
Na base de dados ERIC (02/05/2017): (1) utilização dos termos “Developmental Assets Adolescence”, obtendo-se 28 publicações; (2) utilização dos termos “Developmental Assets Adolescent”, obtendo-se 99 publicações.
Na base de dados Science Direct (13/05/2017): (1) utilização dos termos “Developmental Assets Adolescence”, obtendo-se 1350 publicações, sendo a pesquisa refinada utilizando-se os filtros: (developmental assets adolescence), [All Sources (Psychology)], AND LIMIT-TO (topics, "social, adolescent, youth, behavior, student, mental health, developmental, mental, risk, sexual, young people, health") AND LIMIT-TO (content type, "JL,BS","Journal"), obtendo-se 221 publicações; (2) utilização dos termos “Developmental Assets Adolescent”, obtendo-se 2131 publicações, sendo a pesquisa refinada utilizando-se os filtros: (developmental assets adolescent), [All Sources (Psychology)], AND LIMIT-TO (topics, "social, youth, adolescent, program, student, mental health, behavior, mental, community") AND LIMIT-TO (contente type, "JL,BS","Journal") obtendo-se 260 publicações.
Na base de dados SciELO (13/05/2017): utilização dos termos “Developmental Assets”, obtendo-se como resultado um total de 10 publicações.
Procedimento de seleção de estudos
Da pesquisa nas bases de dados Web of Science, ERIC, Science Direct e SciELO resultou um total de 879 publicações. Na fase inicial de seleção foram analisados os títulos e resumos identificados pela pesquisa sendo excluídas 755 publicações por não atenderem aos critérios definidos. Dezassete publicações foram adicionalmente excluídas, 15 em duplicado e 2 inacessíveis a texto integral. Foi examinado o texto completo das restantes 107 publicações e adotados os critérios de elegibilidade pré-definidos, tendo sido eliminados 74 estudos por não atenderam aos critérios de inclusão descritos. Vinte e nove estudos preencheram os critérios de elegibilidade e foram incluídos na revisão.
Na Figura 1 apresentamos o fluxograma no qual são descritas as fases do processo de seleção (Liberati et al., 2009).
Resultados
Nesta revisão foram incluídos 29 artigos publicados entre o período de tempo de 1998 a 2015. A pesquisa sobre o termo Developmental Assets permite identificar a publicação de investigação aplicada ao desenvolvimento dos adolescentes em 1998, pelo Search Institute (Benson et al., 1998; Leffert et al., 1998). Quatro anos mais tarde surgem investigações baseadas no modelo de outras fontes que não o Search Institute (Oman et al., 2002; Taylor et al., 2002). De uma forma geral, observa-se a adoção de diversos métodos quanto à identificação de recursos e sua avaliação, assim como utilização de técnicas de recolha de dados tanto quantitativas como qualitativas. Maioritariamente estudos de desenho observacional transversal, verificando-se a tendência mais recente de estudos de desenho longitudinal. Em menor número verifica-se a publicação de estudos de desenho prospetivo e experimental.
Apresentamos na Tabela 1Estudos Incluídos: Síntese Identificação de Recursos do Desenvolvimento, Método, Variáveis Adicionais e Resultados (Anexo), uma descrição sucinta dos estudos incluídos em revisão.
Discussão
Conceptualização e operacionalização do conceito recursos do desenvolvimento
Observa-se a publicação de investigação aplicada ao desenvolvimento dos adolescentes utilizando o modelo de Recursos do Desenvolvimento em 1998, pelo Search Institute, com os estudos de Benson et al. (1998) e Leffert et al. (1998). Estes surgem com o objetivo de descrever a experiência de Recursos do Desenvolvimento na população adolescente assim como a sua relação com resultados de um desenvolvimento positivo. Com o propósito de avaliar a experiência dos 40 recursos individuais o Search Institute desenvolveu o instrumento Profile of Student Life: Attitudes and Behaviors® (A&B) (Benson et al., 1998; Leffert et al., 1998) que constitui o instrumento mais utilizado na investigação, distinguindo-se pela clareza e simplicidade de interpretação dos dados para fins educacionais e de comunicação pública.
Na revisão verifica-se a adoção de diversos métodos quanto à identificação de recursos. Por exemplo, Theokas et al. (2005) utilizaram o questionário A&B numa amostra de estudantes no início da adolescência sugerindo uma redução dos 40 recursos a 14, agrupados em duas dimensões de ordem superior representando os recursos internos e externos propostos a priori pelo modelo (consultar Tabela 1).
Dando continuidade à pesquisa, o Search Institute desenvolveu o questionário Development Assets Profile (DAP). Trata-se de um instrumento útil, contudo não avalia a experiência da totalidade dos 40 recursos, centrado a sua avaliação nas categorias que refletem a essência dos recursos avaliados no instrumento A&B (Scales et al., 2013).
Na diversidade de métodos adotados nos vários estudos observa-se a tendência em centrar a atenção nas categorias de recursos identificadas no modelo (por exemplo, Murphey, Lamonda, Carney, & Duncan, 2004; Taylor et al., 2002; Taylor et al., 2005) constituindo, nas palavras de Taylor et al. (2002), uma avaliação indireta dos Recursos do Desenvolvimento.
Oman et al. (2002), no Health Science Center na University of Oklahoma, desenvolveram o instrumento Youth Asset Survey (YAS) no qual identificam 10 recursos do desenvolvimento (Tabela 1). Os autores desenvolveram a pesquisa sobre a relação entre os recursos e comportamentos de risco (Aspy et al., 2010; Atkins, Oman, Vesely, Aspy, & McLeroy, 2002; Cheney, Oman, & Vesely, 2015), de modo a que esta informação dirigida aos programas de prevenção proporcionasse o desenvolvimento de estratégias com foco nos recursos com maior impacto em proteger os adolescentes do envolvimento em comportamentos de risco. Posteriormente Oman et al. (2010) adicionaram sete recursos ao modelo, melhorando e expandindo a escala de recursos YAS.
Reininger et al. (2003) desenvolveram o instrumento Adolescent Health Attitude and Behavior Survey (AHABS) no qual são identificados 7 recursos (Tabela 1). A seção Youth Assets do AHABS foi desenvolvida com base nos constructos desenvolvidos pelo Search Institute, contudo, tende a se centrar em recursos externos. Embora a sua utilização para avaliar o impacto de recursos em diversas áreas na vida dos adolescentes pareça ser limitada, sugerindo-se útil para programas que visam um estudo aprofundado sobre o comportamento sexual nos adolescentes, Valois, Zullig, Huebner e Drane (2009) demonstram que também pode ser útil na pesquisa sobre o papel de recursos em resultados de um desenvolvimento positivo.
Observa-se que, adotando diversos métodos, os vários estudos salientam a importância de uma visão holística na identificação de recursos nos adolescentes, considerando tanto as características pessoais, como do contexto ecológico. É colocada a enfase na perceção do adolescente da experiência de recursos, notando-se a exceção de dois estudos que apresentam a avaliação da perspetiva parental (Aspy et al., 2010; Atkins et al., 2002). Destaca-se a importância de a identificação de recursos focar os diversos contextos da vida dos adolescentes, nomeadamente contexto familiar, social, escolar e comunitário.
Recursos do desenvolvimento e resultados no desenvolvimento
O pressuposto fundamental do modelo é o de que quanto maior o número de experiências positivas o adolescente revelar, maior a probabilidade de um desenvolvimento bem-sucedido (Benson et al., 2006; Benson et al., 2011). Isto é, central na teoria subjacente encontra-se o princípio de “the more assets, the better” (Benson, 2007, p.38), ou “vertical pile up of assets”, o qual sugere que os recursos são aditivos ou cumulativos. Este reflete a fusão de recursos de nível individual e ecológico e traduz-se na ideia de que um desenvolvimento bem-sucedido está relacionado com a experiência de ambos os recursos externos e internos (Benson, 2007; Benson et al., 2011). Neste sentido, importa analisar os dados da investigação empírica sobre a experiência de recursos e a sua relação com resultados no desenvolvimento.
A pesquisa com base nesta abordagem tende a explorar este princípio aditivo dos recursos, sugerindo que quanto maior o número de recursos o adolescente experimenta menor a probabilidade de revelar o envolvimento em comportamentos de risco (Aspy et al., 2010; Atkins et al. 2002; Benson et al., 1998; Leffert et al., 1998; Macedo, & Kublikowski, 2009; Murphey et al., 2004; Oman et al., 2002; Reininger et al., 2003) mesmo em contextos particulares (Chew, Osseck, Raygor, Eldridge‐Houser, & Cox, 2010). Esta relação pode ainda ser observada prospectivamente (Cheney, Oman, & Vesely, 2015), inclusive em adolescentes em contextos sociais particularmente desafiadores (Taylor et al., 2002).
Importa notar que, para além da pesquisa sobre comportamentos de risco ou negativos na adolescência, assim como sobre comportamentos adequados ou competência, observa-se a tendência de a investigação procurar focar o que define não apenas um desenvolvimento normal ou adequado, mas um desenvolvimento ótimo, isto é, Thriving (Sesma et al., 2013; Scales et al., 2000). Consistindo um conceito em estudo (consultar, por exemplo, Bundick et al., 2010; Lerner et al., 2010; Sesma et al., 2013; Scales, Benson, & Roehlkepartain, 2011), na revisão da literatura relacionada com o conceito de Developmental Assets observa-se a conceção de Thriving apresentada pelo Search Institute (Scales et al., 2000; Sesma et al., 2013) a mais frequentemente adotada na investigação. Alguns estudos procuram expandir o conceito adicionando indicadores na pesquisa (Alvarado & Ricard, 2013; Scales, Leffert, & Vraa, 2003), notando-se a atenção na adaptação do conceito ao contexto cultural particular ao qual esta se dirige (Taylor et al., 2005). Os dados sugerem uma relação positiva entre a experiência de recursos e comportamentos de Thriving (Alvarado & Ricard, 2013; Benson et al., 1998; Scales et al., 2000; Scales et al., 2003; Theokas et al., 2005) verificando-se que recursos e resultados de Thriving se encontram prospectivamente relacionados (Taylor et al., 2005).
A investigação tem também evoluído no sentido de incluir a avaliação de conceitos que se têm afirmado no âmbito da perspetiva do Desenvolvimento Positivo dos Adolescentes como indicadores de um desenvolvimento positivo (Park, 2004), destacando-se a perceção de satisfação com a vida (Oman, Vesely, Aspy, & Tolma, 2015; Santos & Gonçalves, 2016; Valois et al., 2009), saúde mental positiva (Filbert & Flynn 2010).
Sugere-se que os adolescentes que revelam a experiência de maior número de recursos tendem a revelar trajetórias desenvolvimentais positivas, apresentando melhores resultados em diversos indicadores comportamentais, académicos, psicológicos, socio emocionais e de bem-estar (Filbert & Flynn, 2010; Oman et al., 2015; Santos & Gonçalves, 2016; Scales et al., 2006; Taylor et al., 2002; Valois et al., 2009). Deste modo sugere-se que o número total de recursos que o adolescente experimenta tem consideráveis implicações na sua saúde e bem-estar, independentemente do resultado especificamente em estudo. Contudo, verifica-se que cada resultado não é afetado similarmente por exatamente os mesmos recursos, como se observa na Tabela 1, vários recursos específicos, ou subconjuntos de recursos, melhor predizem resultados concorrentemente (Aspy et al., 2010; Chew et al. 2010; Filbert & Flynn, 2010; Leffert et al., 1998; Scales et al., 2000; Taylor et al., 2002; Theokas et al., 2005; Murphey et al., 2004; Valois et al., 2009) e longitudinalmente (Cheney et al., 2015; Oman et al., 2015; Scales et al., 2006; Taylor et al., 2002; Taylor et al., 2005), com os recursos variando dependendo do resultado em estudo.
Experiência de recursos e diversidade
Por sua vez, importa analisar a relevância e adequação do modelo de Recursos do Desenvolvimento a todos os adolescentes. Nos vários estudos observamos que os elementos que constituem tanto os recursos externos como internos tendem a ter uma validade comprável entre género, grau de escolaridade, etnia, contexto geográfico, cultural e socioeconómico, embora frequentemente expressos ou experimentados de forma distinta nos diversos grupos estudados. Sugerem-se semelhanças e diferenças na forma como os diferentes recursos podem funcionar em diferentes grupos.
Observa-se uma relação entre recursos e diversos resultados de um desenvolvimento positivo, indicando que todos os adolescentes beneficiam das experiências, oportunidades, tipos de suporte e características pessoais incluídos tanto nos recursos externos e como internos, considerando-se contextos particulares (Chew et al., 2010; Filbert & Flynn, 2010; Taylor et al., 2002; Taylor et al., 2005) e diferentes grupos étnicos (Benson et al., 1998; Leffert et al., 1998; Scales et al., 2000; Scales et al., 2003; Valois et al., 2009).
Por sua vez, sugere-se distintos recursos mais fortemente relacionados a resultados específicos em diferentes grupos de adolescentes. Observam-se diferenças entre género na experiência de recursos e a sua relação com resultados, verificando-se que as raparigas tendem a revelar a experiência de um número superior de recursos (Aspy et al, 2010; Benson et al., 1998; Leffert et al., 1998; Macedo & Kublikowski, 2009; Scales et al., 2000; Scales et al., 2003; Valois et al., 2009). A experiência de recursos pode ser contextualmente influenciada pela idade e/ou grau de escolaridade, observando-se que os estudantes mais jovens tendem a apresentar a experiência de um número superior de recursos (Aspy et al, 2010; Benson et al., 1998; Leffert et al., 1998; Macedo & Kublikowski, 2009; Scales et al., 2000; Scales et al., 2003; Valois et al., 2009). Considerando-se diferentes grupos étnicos, sugere a existência de uma especificidade ou singularidade na experiência de recursos, observando-se que diversos recursos parecem estar mais fortemente relacionados a resultados específicos apenas para grupos particulares (Scales et al., 2000; Scales et al., 2003; Valois et al., 2009).
De uma forma sucinta, estes dois tipos de resultados, que representam aspetos de similaridade e diversidade, permitem a identificação de recursos relevantes para todos os adolescentes, ao mesmo tempo que destacam a importância de recursos específicos em adolescentes com diferentes características proporcionando a oportunidade do desenvolvimento de estratégias de promoção de um desenvolvimento positivo culturalmente relevantes, apropriadas ao género e idade, sensíveis às necessidades dos adolescentes atendendo às suas características particulares.
Aplicabilidade do modelo em programas de intervenção
A investigação sugere a utilidade do Modelo de Recursos do Desenvolvimento e da estratégia de Construção de Recursos em programas com foco no desenvolvimento positivo dos adolescentes. O modelo sugere a probabilidade de eficácia de uma dupla estratégia aplicada a políticas e programas, tanto em procurar construir todos os 40 recursos na ecologia dos adolescentes, assim como visar especialmente a promoção de grupos específicos de recursos dependendo dos objetivos projetados por programas, organizações ou comunidades (Benson 2006; Benson et al., 2006; Benson et al., 2011).
A revisão da literatura permite verificar a aplicabilidade do modelo como uma estratégia de um desenvolvimento positivo na adolescência em diferentes contextos e culturas. Atkiss et al. (2011) salientaram a importância da utilização de intervenções culturalmente sensíveis, notando que são as necessidades e recursos de cada contexto em particular que moldam as atividades de um programa. Os autores exploraram a eficácia da integração do modelo num programa piloto para adolescentes e verificaram que, ao nível individual, os adolescentes revelaram um aumento na experiência de recursos internos e externos através do envolvimento no programa. Scales et al. (2013), com a implementação do programa Kishoree Kontha em aldeias do Bangladesh, observaram que a intervenção contribuiu para um aumento significativo na experiência de recursos nas participantes do projeto, sugerindo a sua eficácia e utilidade do modelo como uma abordagem para promover um desenvolvimento positivo.
No estudo de Heinze (2013), observa-se a utilidade do modelo em contextos particulares, aplicado a adolescentes em abrigos de emergência, uma população que, como o autor sublinha, tradicionalmente é examinada a partir de uma perspetiva baseada em deficit. Neste estudo, os adolescentes admitidos em abrigos de emergência revelaram menor número de recursos comparativamente à população geral, verificando-se nos resultados recolhidos dos participantes no programa uma melhoria nos resultados de desenvolvimento positivo.
Acosta et al. (2013), Chinman et al. (2012) e Chinman et al. (2013) avaliaram a eficácia da intervenção Assets Getting To Outcomes (AGTO), uma abordagem para promover Recursos do Desenvolvimento, enquanto estratégia para um desenvolvimento positivo com objetivo de prevenção. Nestes estudos, os dados recolhidos da capacidade individual e de desempenho do programa sugerem que a capacidade dos profissionais prevê, em parte, o desempenho de programas de prevenção, verificando-se que a utilização da intervenção de suporte à implementação AGTO produziu melhorias na capacidade dos profissionais e consequentemente no desempenho do programa.
Dell et al. (2013) exploraram a aplicabilidade e utilidade do modelo de Recursos do Desenvolvimento na identificação de metas e objetivos de um programa, notando a importância da atenção em alinhar os serviços dos profissionais de saúde com um modelo teórico baseado na evidência para fins de avaliação, constituindo uma base necessária para medir o sucesso de uma intervenção.
Estes estudos sugerem a aplicabilidade do modelo como uma estratégia de um desenvolvimento positivo na adolescência, verificando-se que a identificação e avaliação de Recursos permite o desenvolvimento de programas baseados em estratégias de Construção de Recursos culturalmente específicas e inclusivas.
Conclusão
Nesta revisão observamos que o modelo de Recursos do Desenvolvimento que compreende um conjunto de experiências, relações, habilidades e valores, que constituem os “nutrientes” pessoais e ecológicos necessários para um desenvolvimento bem-sucedido (Benson et al., 2011), demonstra ser culturalmente válido, relevante, em diferentes contextos e características socioeconómicas.
Como observamos, os estudos sugerem os recursos pessoais e dos contextos ecológicos positivamente associados com resultados de um desenvolvimento saudável e inversamente relacionados com comportamentos problemáticos, sugerindo-se também que que vários recursos específicos melhor predizem resultados concorrentemente e longitudinalmente, recursos estes cuja contribuição depende do resultado particularmente em atenção.
Para além da importância de recursos específicos em resultados particulares, e embora se reconheça a utilidade de selecionar recursos específicos para incorporar em programas, importa notar que estas experiências são parte integrante de um conjunto global de recursos que propiciam um desenvolvimento saudável. Sugere-se que nenhum dos recursos opere isoladamente, isto é, por exemplo, alguns recursos podem funcionar como precursores de outros recursos (Leffert et al., 1998). Por este motivo, será necessária futura investigação para compreender a interação entre os recursos, as suas fontes de desenvolvimento e o seu papel enquanto mediadores ou moderadores de comportamentos.
Este modelo permite a identificação de recursos relevantes para todos os adolescentes, ao mesmo tempo que destaca a importância de recursos específicos em adolescentes com diferentes características. Esta variedade de relações sugere algo de distintivo em como alguns adolescentes experimentam ou expressam os recursos, salientando-se a importância de considerar diferenças na experiência de recursos ao procurar promover um desenvolvimento positivo nos adolescentes. Será necessária futura pesquisa para compreender como os adolescentes em distintos contextos e culturas experimentam de formas semelhantes e de formas distintas os recursos do desenvolvimento, salientando-se examinar quer as características únicas assim como as características comuns entre estes.
Sugere-se a aplicabilidade e utilidade do modelo no desenvolvimento de programas como uma estratégia de um desenvolvimento positivo. Os resultados dos estudos indicam que os adolescentes aumentam a experiência de recursos durante a participação num programa de promoção de um desenvolvimento positivo, apresentando uma maior probabilidade de revelar resultados de um desenvolvimento bem-sucedido. Serão necessários estudos longitudinais para explorar a relação entre o aumento da experiência de recursos ecológicos e individuais com resultados de um desenvolvimento positivo, assim como a eficácia de programas em promover a experiência destes recursos.
A perspetiva do Desenvolvimento Positivo dos Adolescentes centra a atenção nas relações entre o indivíduo e o contexto que estão associadas a trajetórias desenvolvimentais positivas ao longo da adolescência, “a década a adolescente” (Lerner & Steinberg 2009), e salienta que todos os adolescentes possuem forças que podem ser capitalizadas para promover um desenvolvimento saudável (Damon, 2004). O modelo de Recursos do Desenvolvimento, com foco numa abordagem de um desenvolvimento positivo dos adolescentes, proporciona uma abordagem holística na promoção de um desenvolvimento bem-sucedido em vários domínios do desenvolvimento, quer seja psicológico, físico e/ou socio-emocional, incluindo vários contextos, como a família, escola e comunidade, e compreendendo diversos resultados, desde a prevenção de comportamentos problemáticos à promoção de comportamentos de Thriving. Sugere-se a aplicabilidade e utilidade do modelo como estratégia de um desenvolvimento positivo na adolescência.
Como citar este artigo:
Soares, A., Pais-Ribeiro, J. L., & Silva, I. (2018). Recursos do Desenvolvimento na Adolescência - Revisão Integrativa.Ciencias Psicológicas,12(1), 45-57. doi: 10.22235/cp.v12i1.1594