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Lingüística
versión On-line ISSN 2079-312X
Lingüística vol.29 no.1 Montevideo jun. 2013
Lingüística
Vol. 29-1, junio 2013: 115-142
ISSN 2079-312X en línea
ISSN 1132-0214 impresa
PERCURSOS DA GEOLINGUÍSTICA NO BRASIL
THE COURSE OF GEOLINGUISTICS IN BRAZIL
Suzana Alice Marcelino CARDOSO
Universidade Federal da Bahia (Brasil)/CNPq
Jacyra Andrade MOTA
Universidade Federal da Bahia (Brasil)/CNPq
O artigo tem como objetivo fornecer uma visão geral dos estudos dialetais no Brasil, considerando que a Geolinguística em nosso país dá seus primeiros passos no começo do século XX, época em que esse ramo dos estudos linguísticos avançava na Europa e já apresentava resultados estimulantes para seguidores interessados na área. Para tanto, apresenta-se uma breve visão da história dos estudos dialetais no Brasil com as diferentes fases em que pode ser dividida, e se indicam os caminhos seguidos, a metodologia adotada e os resultados já alcançados. Destaca-se o Projeto Atlas Linguístico do Brasil, projeto interinstitucional, em andamento desde 1996, que se encontra, presentemente, em fase final de constituição do corpus e de preparação para a publicação do primeiro volume de cartas, com os dados das 25 capitais brasileiras que constituem a sua rede de pontos. A título de ilustração, são trazidos resultados a que tem conduzido a pesquisa.
Palavras-chave: Dialetologia brasileira. Geolinguística. Atlas Linguístico do Brasil.
Key words: Brazilian Dialectology. Geolinguistics. Linguistic Atlas of Brazil.
The present article has the purpose of presenting an overview of studies of dialects in Brazil, considering that Geolinguistics in this country started getting off the ground only in the early 20th century, at which time the field of linguistic studies advanced in Europe and already presented stimulating results for followers interested in this area. Therefore, a brief overview of the background of dialect studies in Brazil together with its different phases in which it can be divided is presented. Also the paths that were pursued as well as the adopted methodology and the already attained results are depicted. Emphasis is given to the project “Linguistic Atlas of Brazil. Presently it is in the final phase of establishment of the corpus and of preparing for the publication of the first volume of maps. By way of illustration, the research has led to results which are demonstrated.
(Recibido: 31/01/13; Aceptado: 28/02/13)
1. INTRODUÇÃO
A Geolinguística no Brasil dá os seus primeiros passos no momento em que esse ramo dos estudos linguísticos avançava na Europa e já apresentava resultados estimulantes para seguidores interessados na área. A partir de então, vem a Geolinguística em nosso país trilhando por veredas diversas e assentando os passos para consolidação dos estudos dialetais em terras brasileiras. Apresenta-se, neste artigo, uma visão dos estudos dialetais no Brasil, os caminhos que vêm sendo perseguidos e resultados já alcançados. Para dar cumprimento a esse desiderato, inicia-se com uma breve visão da história dos estudos dialetais no Brasil, indicando-se as fases do seu percurso, delineiam-se os veios da metodologia seguida e dos resultados alcançados e, por fim, trata-se do Projeto Atlas Linguístico do Brasil.
2. BREVE VISÃO HISTÓRICA
Costuma-se definir como marco inicial dos estudos dialetais no Brasil a contribuição escrita por Domingos Borges de Barros, Visconde de Pedra Branca, diga-se um baiano nascido em Santo Amaro da Purificação, datada de 1826 e produzida a pedido do geógrafo vêneto, Adrien Balbi, para compor a Introduction do seu Atlas Ethnographique du Globe. O Visconde de Pedra Branca faz um breve estudo no qual compara o português do Brasil com o português de Portugal, apresentando, do ponto de vista do léxico, casos de não coincidências entre esses dois usos da língua, seja pela presença de formas registradas no Brasil e não existentes além-mar, seja pelos novos valores semânticos que assumiram, na terra conquistada, formas do português ainda vigentes em território luso. Assim, traz à consideração dois conjuntos de palavras, agrupadas em “Noms qui ont changé de signification” - 8 palavras - e “Noms en usage au Brésil et inconnues en Portugal” - 50 formas -, as primeiras seguidas da significação em Portugal e no Brasil, e as demais com o sentido de que se revestem no português brasileiro.
A partir desse momento, dá-se por iniciados os estudos dialetais do Brasil, cuja história compreende diferentes momentos, como têm assinalado Nascentes (1952, 1953), Cardoso e Ferreira (1994) e Mota e Cardoso (2006).
Nascentes (1952, 1953), tomando como marcos o trabalho do Visconde de Pedra Branca (1826) e a publicação de O dialeto caipira de Amadeu Amaral (1920), estabelece apenas duas grandes fases, por ele, assim, definidas:
Pode-se dividir a história dos estudos dialectológicos no Brasil em duas fases: a primeira, de 1826, ano no qual o brasileiro Borges de Barros publicou um estudo no livro de Adrien Balbi, até 1920, ano da publicação do livro O dialeto caipira de Amadeu Amaral; a segunda, de 1920 aos nossos dias (Nascentes 1952: 181)[1].
Em 1994, Cardoso e Ferreira apresentam uma formulação tripartida, que tem como base identificar as três diferentes tendências dominantes em cada uma das épocas consideradas. Da natureza dos fatos trazidos para delimitação pelas autoras, depreende-se que o estabelecimento de apenas duas fases por Nascentes decorre de ter ele apresentado a sua proposta em 1952 e, justamente a partir dessa data, terem-se incrementado os estudos e a produção no campo da Geolinguística no Brasil.
A primeira fase (Cardoso e Ferreira 1994) vai de 1826 a 1920, data da publicação de O dialeto caipira de Amadeu Amaral. Os trabalhos produzidos estão voltados para o estudo do léxico e para suas particularidades no português do Brasil. Como se vê dos títulos que, a seguir, como ilustração, são citados, são dicionários, vocabulários e léxicos regionais, como o Glossário de vocábulos brasileiros, tanto dos derivados como daqueles cuja origem é ignorada, publicado pelo Visconde de Beaurepaire-Rohan na Gazeta Literária, de 1883 a 1884, que foi, posteriormente, em 1889, transformado no Dicionário de vocábulos brasileiros (1976); O tupi na geografia nacional, de 1901, obra de Theodoro Sampaio (1983) que se detém na contribuição das línguas Tupi ao português do Brasil; Glossário paraense, publicado em 1905, com o subtítulo Coleção de vocábulos peculiares à Amazônia e especialmente à Ilha de Marajó, de Vicente Chermont de Miranda, Dicionário de brasileirismos, 1912, de Rodolfo Garcia.
A esse conjunto de obras de caráter lexicográfico, junta-se um primeiro estudo de natureza mais ampla e de cunho gramatical, O idioma do hodierno Portugal comparado com o do Brazil, escrito pelo brasileiro José Jorge Paranhos da Silva (1879), que trata dos diferentes aspectos da variação do português do Brasil versus o português de Portugal. Dedica, de maneira singular, a sua obra
Aos moços que, se tendo ido formar em Coimbra, dizem que querem outra vez ser considerados como nascidos no Brasil, offereço esta comparação da nossa maneira de falar com a dos actuaes Portuguezes (Silva 1879: Dedicatória).
Nessa Dedicatória deixa clara a constatação que faz da existência de diferenças entre o português europeu e o português brasileiro e assinala a dificuldade dos brasileiros que, indo estudar em Portugal, assimilavam novos hábitos linguísticos e retornavam ao Brasil com tais marcas. Reconhece, pois, duas regiões dialetais, ainda que desse modo não as denomine. O livro está constituído das seguintes partes: Dedicatória, Introdução, Parte 1ª - PRONUNCIA DOS VOCABULOS (formada por quatro capítulos, seguidos de uma conclusão e de notas) e Parte 2ª - EXPRESSÃO DO PENSAMENTO (também composta por quatro capítulos, seguidos de uma conclusão e de notas).
As considerações que nos traz Paranhos da Silva nesse seu, por ele denominado, “opúsculo” levantam questões relativas ao português, naquela sincronia, focadas nos diferentes níveis de abordagem da língua.
O segundo momento compreende o período que vai de 1920 a 1952 (Cardoso e Ferreira 1994). Tendo como marco inicial a publicação por Amadeu Amaral de O dialeto caipira, estende-se essa segunda fase até 1952, momento em que se dão os primeiros passos para o sistemático desenvolvimento da Geolinguística em território brasileiro. Caracteriza-se pela produção de estudos voltados para a observação de uma área determinada, com uma metodologia de abordagem dos fenômenos orientada para o exame da realidade observada in loco. Surgem os primeiros trabalhos de caráter monográfico, dos quais se distinguem os produzidos por Amaral, Nascentes e Marroquim, obras que imprimem uma nova ótica ao exame da realidade linguística brasileira.
O dialeto caipira, publicado em 1920, revela a preocupação de Amaral com o processo de dialetação do português brasileiro, sobre o qual assim se manifesta na “Introdução” da obra:
Fala-se muito num “dialeto brasileiro”, expressão já consagrada até por Autores notáveis de além-mar; entretanto, até hoje não se sabe ao certo em que consiste semelhante dialetação, cuja existência é por assim dizer evidente, mas cujos caracteres ainda não foram discriminados (Amaral 1976: 43).
Estudando uma área do Estado de São Paulo, aquela identificada como a do falar caipira, Amaral chama a atenção para a necessidade de “observadores imparciais, pacientes e metódicos”, capazes de assumir uma postura metodológica que os levasse à observância da realidade in loco, eliminando “por completo tudo quanto fosse hipotético, incerto, não verificado pessoalmente” (Amaral 1976: 43).
O segundo estudo, O linguajar carioca em 1922, que compõe essa significativa trilogia que marca a segunda fase, é publicado por Antenor Nascentes em 1922. O autor preocupa-se, inicialmente, em definir o que entende por falar brasileiro e em procurar situar o linguajar carioca no conjunto desses falares. Discute o processo de dialetação do português do Brasil e apresenta uma divisão dos falares brasileiros a que declara ter chegado depois de haver realizado “o ardente desejo de percorrer todo o Brasil, do Oiapoque ao Chuí, de Recife a Cuiabá” (Nascentes 1953: 24). Essa divisão, primeira a ser proposta em base estritamente linguística, é a única de que, até o presente, dispõe a Dialetologia brasileira.
A terceira obra que completa esse tripé, A língua do Nordeste de Mário Marroquim, publicada em 1934, responde a uma das suas próprias inquietações:
Não está ainda feito o estudo do dialeto brasileiro. A enorme extensão geográfica em que o português é falado no Brasil dá a cada região peculiaridade e modismos desconhecidos nas outras, e exige, antes da obra integral, que se fixe e defina nossa diferenciação dialetal, trabalhos parcelados, feitos com critério e honestidade, sobre cada zona do país (Marroquim 1996: 9).
E procura, ele próprio, responder a esse apelo, produzindo o circunstanciado estudo sobre a língua de Alagoas e Pernambuco, área sobre a qual se debruça.
Às três obras postas em destaque, reúnem-se outras que caracterizam essa segunda fase, as quais se distribuem, segundo o enfoque que as domina, em quatro grupos diferenciados (Cardoso e Ferreira 1984): (i) léxicos e glossários regionais que permanecem sendo produzidos e dão, em consequência, continuidade ao que predominou na fase anterior, (ii) obras de caráter geral que analisam as questões numa perspectiva mais ampla e globalizante; (iii) estudos de caráter regional, abordando, particularmente, aspectos de uma área geográfica e fenômenos específicos de uma dada região; (iv) estudos específicos sobre a contribuição africana.
A terceira fase tem como marco um ato do Governo brasileiro, a publicação do Decreto n.° 30.643, de 20 de março de 1952, que, ao definir as finalidades da Comissão de Filologia da Casa de Rui Barbosa, que vinha de ser criada, assentava como a principal delas a elaboração do atlas linguístico do Brasil, como consta do parágrafo 3°:
3º - A Comissão de Filologia promoverá pesquisas em todo o vasto campo de filologia portuguesa-fonologia, morfológicas, sintáticas, léxicas, etimológicas, métricas, onomatológicas, dialetológicas bibliográficas, históricas, literárias, problemas de texto, de fontes, de Autoria, de influências, sendo sua finalidade principal a elaboração do Atlas Lingüístico do Brasil (grifo nosso).
Sobre esse empreendimento manifestou-se Hampejs, em artigo de 1958, declarando que
Um atlas lingüístico está sendo projetado no Brasil (sua abreviatura é ALB), impulsionado por Sever Pop nas conferências de agosto e setembro de 1954, pronunciadas no Centro de Pesquisas Rui Barbosa: desse modo, a dialectologia, que no Brasil tem estado até agora dominada pelos “dilettanti”, será de agora por diante dirigida cientificamente. Nada obstante, o Governo brasileiro não proporcionou, contudo, uma subvenção adequada para esse atlas “lingüístico, folclórico e onomástico”[2].
Não bastaria a letra da lei para que, de fato, se passasse a ter outro momento na história dos estudos dialetais no Brasil. Era necessário que uma nova visão se introduzisse na abordagem dos fenômenos da variação linguística no país, trabalho feito por figuras pioneiras dos estudos dialetais no Brasil, das quais se destacam Antenor Nascentes, Serafim da Silva Neto, Celso Cunha e Nelson Rossi, que se empenharam na implantação de um novo momento para a Dialetologia brasileira: o início dos estudos de Geografia Linguística.
Antenor Nascentes publica as Bases para a elaboração do atlas lingüístico do Brasil, obra em dois volumes saídos o primeiro em 1958 e o segundo em 1961, na qual estabelece, como o próprio nome sugere, passos fundamentais para o início do trabalho nesse campo. Defensor da criação de “uma mentalidade dialetológica” (1957, p. 9), exortação com que abre a “Introdução” do seu Guia para estudos dialectológicos, Serafim da Silva Neto pugnou, a cada momento, pela necessidade e pela urgência de se estudarem os falares brasileiros. Foi, por outro lado, um grande incentivador da realização do atlas linguístico do Brasil, sem deixar, porém, de enfatizar a importância dos estudos dialetais nas suas diferentes manifestações. Celso Cunha, comprometido com as questões relativas a uma política de conhecimento da língua portuguesa, defendia a execução do atlas linguístico do Brasil, reconhecendo, porém, que a impraticabilidade de realização de um atlas nacional indicava o caminho de construção de atlas regionais.
O primeiro passo concreto, no campo da Geolinguística, vem a ser dado por Nelson Rossi, que publica, com a co-autoria de Carlota Ferreira e Dinah Isensee[3], em 1963, o Atlas Prévio dos Falares Baianos. Ao caracterizar o âmbito da Dialetologia, a cujo estudo se dedicou intensamente, Rossi chama a atenção para a natureza eminentemente “contextual” de que se reveste, ao afirmar:
Convirá, porém, nunca esquecer que a Dialectologia é essencialmente contextual: o fato apurado num ponto geográfico ou numa área geográfica só ganha luz, força e sentido documentais na medida em que se preste ao confronto com o fato correspondente - ainda que por ausência - em outro ponto ou outra área (Rossi 1967: 89).
Inicia Rossi a sua empreitada dialetológica na Bahia, tornando-se pioneiro na aplicação da Geografia Linguística no Brasil e colocando-se entre os que, com maior rigor científico e precisão metodológica, se empenharam na implantação dos estudos dialetais.
A terceira fase da história dos estudos dialetais tem, assim, como marca identificadora, o começo dos estudos sistemáticos no campo da Geografia Linguística. Não ficam ausentes desse período estudos de natureza teórica, a produção de léxicos regionais e de glossários, bem como a elaboração de monografias sobre regiões diversas. Destaca-se, porém, como marca dessa terceira fase, o surgimento de atlas linguísticos regionais. Dessa forma, foram produzidos no período que se estende de 1952 a 1996, marco do início da quarta fase, cinco atlas, dos quais se dá um breve perfil.
Atlas Prévio dos Falares Baianos (APFB), primeiro atlas linguístico produzido em terras brasileiras, tem como autor Nelson Rossi e co-autoras Carlota Ferreira e Dinah Isensee e foi feito e publicado entre 1960 e 1963. Recobre todo o Estado da Bahia, com uma rede de 50 localidades, que se distribuem pelas diferentes áreas geográficas e culturais, e um total de 100 informantes. O questionário linguístico utilizado é de pouca extensão e tem um total de 179 perguntas (numeradas de 1 a 164, mas com algumas delas desdobradas em a, b e c), selecionadas a partir de material recolhido anteriormente em quatro localidades, onde foi aplicado um questionário experimental de cerca de 3.600 itens. O atlas constitui-se de um conjunto de 209 cartas, assim distribuídas: 198 cartas linguísticas, 44 das quais são resumos das cartas fonéticas, e 11 cartas introdutórias que fornecem dados complementares de caráter geral. As cartas linguísticas vêm acompanhadas de notas e ao lado dos dados estritamente linguísticos, trazem dados etnográficos, muitos deles acompanhados de ilustrações de objetos segundo a descrição que apresentavam os informantes ou pela exibição que deles faziam.
Atlas Lingüístico de Sergipe (ALS), embora, por dificuldade de financiamento, publicado somente em 1987, quanto à recolha de dados e preparação de cartas, se segue imediatamente ao APFB e tem os seus originais prontos para impressão desde 1973. Foi executado pelo grupo de pesquisadores da Bahia, tendo como autores Carlota Ferreira, Jacyra Mota, Judith Freitas, Nadja Andrade, Suzana Cardoso, Vera Rollemberg e Nelson Rossi. Tem uma rede de 15 pontos, com um total de 30 informantes, aos quais foi aplicado um questionário com cerca de 700 perguntas. Constitui-se de um conjunto de 171 cartas linguísticas, sendo 12 duplas - as cartas Bahia-Sergipe -, pois conjugam aos dados recolhidos em Sergipe, os da Bahia que não haviam sido cartografados no APFB.
Os atlas da Bahia e de Sergipe seguiram uma mesma orientação, com modificações em Sergipe que refletem avanços nos passos metodológicos. Com eles, passa-se a ter uma visão, de certo modo extensa, do que se constitui a área dos “falares baianos” (Nascentes 1953), visão essa que se torna mais ampla se conjugada ao que se registra ao Norte de Minas Gerais, também área dos “falares baianos”. Do ponto de vista das variáveis consideradas, o ALS apresenta um primeiro passo na direção da pluridimensionalidade, identificando-se como o primeiro atlas linguístico brasileiro bidimensional, com informações sistematicamente cartografadas também quanto ao sexo dos informantes.
Esboço de um Atlas Lingüístico de Minas Gerais tem como autores José Ribeiro, Mário Zágari, José Passini e Antônio Gaio, e foi concebido em quatro volumes dos quais se publicou o primeiro em 1977. A metodologia seguida utilizou-se de inquéritos aplicados diretamente nos pontos selecionados e de inquéritos por correspondência. Os inquéritos in loco foram realizados em 116 municípios, aos quais se agregou a pesquisa por correspondência, em 302 localidades, feita com a finalidade de comprovar, no domínio do léxico, a validade ou não de isoléxicas traçadas a partir de dados colhidos diretamente. Constitui-se de setenta e três cartas, quarenta e cinco das quais são cartas onomasiológicas, com dados exclusivamente lexicais ou léxico-fonéticos, recobrindo as áreas semânticas “tempo” e “folguedos infantis”, e as demais fornecem isófonas e isoléxicas de fenômenos destacados.
Atlas Lingüístico da Paraíba (ALPB), de autoria de Maria do Socorro Silva de Aragão e Cleusa Palmeira Bezerra de Menezes, está concebido em três volumes, dos quais os dois primeiros foram publicados em 1984. Conta com uma rede de 25 pontos, escolhidos como base, e mais três outros, considerados municípios-satélites, para cada uma das localidades inquiridas, que servem como instrumento de controle dos dados registrados e, por isso, não figuram nas cartas. Em cada localidade foram inquiridos um mínimo de três informantes e um máximo de dez, todos eles com idade compreendida entre 30 e 75 anos. Apresenta um conjunto de 149 cartas lexicais e/ou fonéticas.
Atlas Lingüístico do Paraná (ALPR), de autoria de Vanderci de Andrade Aguilera, foi publicado em 1994, em dois volumes. Conta com uma rede constituída por 65 localidades em cada uma das quais foram inquiridos, sistematicamente, um homem e uma mulher, com idade variando entre 30 e 60 anos. Apresenta um conjunto de l91 cartas linguísticas, das quais 92 são lexicais, 70 fonéticas e 29 oferecem traçados de isoglossas. Aguilera teve a louvável preocupação de ampliar as possibilidades de uma análise comparativa dos dados do ALPR com os dos atlas já publicados e, em função disso, introduziu, no questionário utilizado, perguntas comuns aos outros atlas, do que resultou a apresentação de cartas coincidentes com as dos demais. Apresenta também dados bidimensionais, identificando o sexo dos informantes, em todas as localidades.
Esses atlas publicados atestam o caráter da terceira fase e mostram a afirmação da Geografia Linguística na história dos estudos dialetais no Brasil.
A delimitação de uma nova fase, um quarto período, proposto por Mota e Cardoso (2006), que se inicia a partir da implantação do Projeto Atlas Linguístico do Brasil, em1996, e estende-se até a presente data, fundamenta-se no fato de que
Do ponto de vista metodológico, essa nova fase coincide com a incorporação dos princípios implementados pela Sociolinguística a partir da década de 60 do século passado, abandonando-se a visão monodimensional - monoestrática, monogeracional, monogenérica, monofásica, etc. - que predominou na geolinguística hoje rotulada de “tradicional” (Mota e Cardoso 2005: 6).
Mota e Cardoso tomam, assim, o último período da divisão de Ferreira e Cardoso (1984), o que se inicia em 1952, e estabelecem um corte, em 1996, data a partir da qual demarcam o começo do quarto período. Mais uma vez, como aconteceu com a divisão tripartida de Ferreira e Cardoso, os passos da história determinam e delimitam novos momentos. Nesse caso específico, a retomada da ideia de realização de um atlas linguístico geral do Brasil no que diz respeito à língua portuguesa e a concretização de um projeto específico com esse objetivo constituem-se no marco divisório e no ponto de partida para o quarto período da história dos estudos dialetais no Brasil.
O período do final do século XX, quando se dão os primeiros passos para a construção do projeto ALiB, como foi concebido e como se vem desenvolvendo, vai coincidir, nas universidade brasileiras com a implementação da pesquisa na área da Geolinguística, como se comprova com a elevação do número de publicações, comunicações a congressos, trabalhos de Pós-Graduação - Teses e Dissertações.
Para o entendimento desse novo perfil histórico, Mota e Cardoso assim se manifestam:
Analisando o crescimento da atividade nessa área, verifica-se, na maioria dos casos, uma ligação estreita com o Projeto ALiB, quer em função do caráter institucional desse Projeto, quer pela ação deliberada dos membros do Comitê Nacional que o coordena, no sentido de ampliar o interesse pela Geolinguística e agregar um maior número de pesquisadores, de modo a superar as dificuldades inerentes a um projeto de âmbito nacional (Mota e Cardoso 2006: 21).
De referência aos atlas regionais, se até 1996, existiam apenas cinco atlas publicados, a partir de então esse número vem crescendo, tendo atingido em 2012 um total dez atlas publicados, o que significa mais cinco atlas do que o existente àquela época, como se descreve a seguir.
Atlas Linguístico-Etnográfico da Região Sul do Brasil (ALERS), de autoria de Walter Koch, Cléo Altenhofen e Mário Klassmann, do qual se publicaram, em 2002, dois volumes - v. 1-Introdução e v. 2 Cartas fonéticas e morfossintáticas (1ª. edição) -, republicados, em segunda edição, em 2011, acompanhados da 1ª edição do volume de Cartas semântico-lexicais. Tem uma rede de pontos formada por 275 localidades para a área rural e 19 pontos para a área urbana, contando em cada ponto com informantes dos dois gêneros. O questionário aplicado tem na parte relativa à fonética-fonologia a particularidade de reservar um conjunto de perguntas para aplicação em todos os pontos e outra destinada às regiões de colonização não-portuguesa.
Atlas Lingüístico Sonoro do Pará, edição em CD, organizada por Abdelhak Razky em 2004. Trata-se do primeiro atlas sonoro referente ao português do Brasil. Traz dados de 10 localidades com resultados de inquéritos com aplicação do questionário fonético-fonológico do Projeto ALiB a 40 informantes, distribuídos em duas faixas etárias, pertencentes aos dois gêneros e com grau de instrução até a 4ª série do Curso Fundamental.
Atlas Linguístico de Sergipe - II (ALS-II) publicado por Suzana Alice Marcelino Cardoso, em 2005, contempla os dados de 15 localidades referentes ao campo semântico HOMEM, segmento do corpus constituído para o estado de Sergipe e ainda inédito porque não incluído no ALS. Apresenta 108 cartas de caráter pluridimensional, com resultados cartográficos que apontam a variação diatópica e diassexual. Constitui-se de dois volumes, um relativo às cartas linguísticas, e outro que, além das questões introdutórias, contem análise de fatos e comentários às cartas.
Atlas Linguístico do Mato Grosso do Sul (ALMS), coordenado por Dercir Pedro de Oliveira, foi publicado em 2007 e apresenta o resultado da pesquisa empreendida em 32 municípios, com um total de 125 informantes distribuídos por duas faixas etárias, pelos dois gêneros e dois níveis de escolaridade. Traz um conjunto 217 cartas linguísticas distribuídas entre cartas fonéticas, cartas semântico-lexicais e cartas morfossintáticas.
Atlas Lingüístico do Ceará (ALECE), coordenado por José Rogério Fontenele Bessa, foi publicado em 2010. Recobre 69 pontos e conta com documentação recolhida a 268 informantes de faixa etária entre 30 e 60 anos, de ambos os sexos e analfabetos ou de instrução primária até a 4ª série. Apresenta um conjunto de 240 cartas que contemplam dados de natureza fonética e semântico-lexical.
A esses atlas regionais publicados somam-se outros produzidos como Teses de Doutorado, a saber: (i) Atlas Linguístico do Amazonas, defendida por Maria Luíza de Carvalho Cruz, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 2004; (ii) Atlas Fonético do entorno da baía de Guanabara, defendida por Luciana Gomes de Lima, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 2006; (iii) Atlas Geolinguístico do Litoral Potiguar, defendida por Maria das Neves Pereira, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2007; (iv) Atlas Linguístico do Paraná II. defendida por Fabiane Cristina Altino, na Universidade Estadual de Londrina, em 2007; (v) Micro-atlas Fonético do Estado do Rio de Janeiro: uma contribuição para o conhecimento dos falares fluminenses, defendida por Fabiana da Silva Campos Almeida, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 2008; (vi) Atlas Linguístico do Centro-Oeste Potiguar, defendida por Moisés Batista da Silva, na Universidade Federal do Ceará, 2012.
Essa quarta fase coincide com a incorporação dos princípios implementados pela Sociolinguística, a partir da segunda metade do século passado, levando a percorrer um caminho pluridimensional e abandonando, assim, a visão monodimensional - monoestrática, monogeracional, monogenérica, etc. - que predominou na Geolinguística que se costuma denominar, hoje, de “tradicional”.
Essa quarta fase mostra a superação no Brasil - do que se verifica também em outras áreas, sobretudo da România - da, no dizer de Mota e Cardoso (2006: 22), “verdadeira ou suposta crise da Geolinguística românica contemporânea” a que, com muita pertinência, se referem Radtke e Thun:
Os resultados principais de nosso Simpósio, que surpreenderam a alguns participantes, podem ser assim resumidos: a geografia linguística está se convertendo em uma abarcadora ciência da variação. (...) Que mantenha, então, o olhar para o realizável e que conserve a tradição empírica que a salvou de todas as crises, verdadeiras ou supostas[4] (Radtke e Thun 1996: 49).
Destaca-se, nas considerações sobre essa quarta fase, a relevância do projeto Atlas Linguístico do Brasil que, a esse período serve de marco e se caracteriza pela metodologia adotada. Sobre os caminhos metodológicos seguidos pela Dialetologia brasileira se passa a tecer as considerações que seguem.
3. CAMINHOS METODOLÓGICOS
Os estudos de Dialetologia, como é sabido, orientam-se, no seu início, por uma metodologia definida como monodimensional, ou seja, centrada no exame da variação diatópica, ainda que, de maneira assistemática e não considerada na informação cartográfica, recolha dados a informantes de ambos os sexos, de diferentes faixas etárias e de escolaridade variada, aspectos sociais para os quais estiverem atentos os iniciadores dos estudos dialetais, como se pode ilustrar com as palavras do Abbé Rousselot, referindo-se à variação etária: “O conhecimento da idade dos falantes observados é indispensável para que se possam comparar as divergências existentes entre o falar dos jovens e aquele dos idosos, e determinar o seu ponto de origem” (apud Pop 1950: 43)[5]. A essas palavras se pode acrescentar o que diz em relação à necessidade de considerar-se o estrato social dos falantes:
É preciso ter cuidado para não os confundir. O “patois” dos senhores dá explicação para certas anomalias que se encontram na linguagem do povo, mostra, também, de que lado vêm as influências estrangeiras que atuam sobre os “patois”. Mas ele não é o “patois” do país[6] (apud Pop 1950: 43).
No curso da história, foram se processando mudanças metodológicas caracterizadas, particularmente, pela ampliação do espectro de interesses a perscrutar, fazendo aflorar a perspectiva pluridimensional que focaliza, além da variação diatópica, e em nível de igualdade, a variação social, em especial a diagenérica, a diageracional, a diastrática, entre outras.
Essa mudança de eixo metodológico se fez sentir, também, na Dialetologia brasileira que se apresenta com trabalhos produzidos tanto na perspectiva monodimensional, como pluridimensional.
Fato a destacar-se, nesse percurso, diz respeito ao primeiro atlas linguístico publicado no Brasil, o Atlas Prévio dos Falares Baianos - APFB (1963) que, embora classificado entre as produções monodimensionais, apresenta peculiaridades que facultam uma abordagem dos dados focalizando aspectos sociolinguísticos. Assim, na cartografia dos dados, o APFB traz em cada ponto das cartas linguísticas a identificação dos informantes, utilizando-se de índices literais (A, B, C). Ora, essa identificação permite ao consulente recorrer à introdução, identificar o informante e traçar-lhe o perfil social. Um exemplo ilustrará o que se vem de afirmar. Tomando, aleatoriamente uma carta, a Carta 99 - FEITICEIRO, no ponto10, estão transcritas as respostas mandraqueiro e macumbeiro, identificadas, respectivamente, pelos índices A e B. Consultando-se, na parte introdutória às cartas, o item “Informantes”, encontram-se as informações gerais para cada um, das quais se selecionam as que se apresentam a seguir:
Informante A: Parece ter 25 a 30 anos. Sexo feminino. Profissão: doméstica. Casada. Analfabeta.
Informante B: 30 anos. Sexo masculino. Açougueiro e pequeno comerciante. Casado. Analfabeto.
Com a descrição fornecida para cada informante pode-se proceder a uma abordagem de cunho sociolinguístico, explorando, por exemplo, as variáveis sexo e faixa etária. Embora não seja um atlas pluridimensional, o APFB tem a peculiaridade de, graças à metodologia seguida na realização dos inquéritos linguísticos e na confecção das cartas, permitir incursões de natureza sociolinguística.
Os dois atlas que se seguiram imediatamente ao APFB são atlas monodimensionais: o Esboço de um Atlas Linguístico de Minas Gerais - EALMG (1977) e o Atlas Linguístico da Paraíba - ALPB (1984). As cartas linguísticas oferecem informações exclusivamente diatópicas: indicam-se as ocorrências registradas em cada ponto da rede sem, porém, fornecer a identificação do informante.
A perspectiva pluridimensional se inaugura com o Atlas Linguístico de Sergipe - ALS (1987) e o Atlas Linguístico do Paraná - ALPR (1994), sobre os quais assim se manifestou Thun:
Os primeiros representantes de um atlas sistematicamente pluridimensional são o Atlas Lingüístico de Sergipe, Bahia 1987, de Carlota da Silveira FERREIRA et alii, o micro atlas araneano contido na monografia de Otto WINKELMANN (1989) e o Atlas Lingüístico do Paraná (ALP), Curitiba 1994, de Vanderci de Andrade AGUILERA, obras que têm o grande mérito de já estarem publicadas. Esses três atlas são bidimensionais. Os dois atlas brasileiros acrescentam à dimensão diatópica a variável diassexual que se estende, em princípio, a todos os pontos da rede[7] (Thun 2000a: 375).
Esses atlas inauguram a pluridimensionalidade no tratamento de dados geolinguísticos. As cartas linguísticas trazem a indicação formal/visual do sexo dos informantes. Assim, o ALPR se serve dos símbolos usados pela biologia para indicação de sexo masculino e feminino - ♂ e ♀ -, colocados após as formas cartografadas, e o ALS se serve dos índices literais A e B, o primeiro para indicar as respostas das mulheres e o segundo, a dos homens.
Dos atlas em andamento, destaca-se neste artigo o Atlas Linguístico do Brasil, cujo projeto elaborado entre 1996-1998 apresenta, no que se refere à metodologia, a opção pelo tratamento pluridimensional.
4. A METODOLOGIA DO PROJETO ATLAS LINGUÍSTICO DO BRASIL
O Projeto ALiB está direcionado para atingir quatro grandes objetivos: (i) a descrição da realidade espacial e, consequentemente, a busca de definição de áreas dialetais demarcáveis através de isoglossas; (ii) o fornecimento de dados que possam contribuir para o aprimoramento do ensino-aprendizagem da língua materna; (iii) a indicação de caminhos que explicitem a interface entre os estudos geolinguísticos e os demais ramos do conhecimento, sobretudo trazendo elementos da língua que possam aclarar questões de outra ordem do saber cientificamente organizado; e (iv), por fim mas não em último lugar, o reconhecimento, ou melhor, a apresentação do português brasileiro como instrumento social de comunicação diversificado, possuidor de várias normas de uso mas dotado de uma unidade sistêmica.
Com tal concepção, buscou-se o caminho de uma metodologia que permitisse alcançar o alvo colimado, para a construção da qual se destacam: a estrutura organizacional do Projeto, a rede de pontos, o perfil dos informantes, os questionários linguísticos, a realização de inquéritos linguísticos experimentais, a formação de inquiridores e as reuniões nacionais de coordenação.
Preliminarmente, mister se faz informar sobre a estrutura organizacional do Projeto ALiB que é coordenado por um Comitê Nacional constituído por um Diretor Presidente , um Diretor Executivo e Diretores Científicos. Para recobrir todo o país, estabeleceu-se uma rede de pontos constituída de 250 localidades, distribuídas por todo o território nacional, levando-se em consideração a extensão de cada região, os aspectos demográficos, culturais, históricos e a natureza do processo de povoamento da área. Diferentemente do que tem sido feito de maneira geral em trabalhos de natureza dialetal, não se consideraram prioritários critérios como antiguidade e grau de isolamento com relação a centros mais desenvolvidos na região, incluindo-se, assim, cidades de grande e médio porte e, inclusive, todas as capitais, à exceção apenas de Brasília (Distrito Federal) - em vista da data de sua criação - e Palmas - capital do recém-criado Estado de Tocantins, cidade ainda em formação, sem habitantes nela nascidos. Foram, ainda, consideradas questões referentes aos limites internos e internacionais e analisados os pontos sugeridos por Nascentes, os quais, reconhecida a pertinência, foram mantidos.
O perfil dos informantes procura atender a questões espaciais, por isso devem ser filhos da localidade pesquisada e de pais também da área, mas também inclui o controle de variáveis sociais tais como idade, gênero e escolaridade. O número total atinge a casa dos 1.100 informantes, distribuídos equitativamente por duas faixas e contemplando os dois gêneros. Nas capitais de Estado, são acrescentados mais quatro informantes de nível universitário, observadas as mesmas correlações de gênero e faixa etária. Quanto à escolaridade, devem ser alfabetizados, tendo cursado, no máximo, até a quarta série do ensino fundamental, salvo o que já se disse de referência às capitais, e possuidores de uma profissão definida, que não requeira grande mobilidade e que se encontre inserida no contexto social local. Na impossibilidade de documentarem-se três diferentes faixas etárias, o que acarretaria um aumento de custos, optou-se pelo registro de informantes de faixas mais distanciadas. Tal opção procura atender às possibilidades de melhor confronto entre usos por diferentes faixas etárias e, também, propiciar a análise da variação e da mudança linguísticas.
De referência ao questionário linguístico, está prevista a aplicação de três tipos de questionário direcionados, especificamente, cada um deles, para os aspectos:
· fonético-fonológico - 159 perguntas, às quais se juntam questões de prosódia, voltadas para a apuração da realização de frases afirmativas, interrogativas e imperativas;
· semântico-lexical - 202 perguntas;
· morfossintático - 49 perguntas.
A esses três tipos de questionários, acrescentam-se:
· questões de pragmática - 4 perguntas;
· temas para discursos semidirigidos - relato pessoal, comentário, descrição e relato não pessoal;
· perguntas metalinguísticas - 6 perguntas;
· texto para leitura - a “Parábola dos sete vimes”.
A dimensão do projeto - cobrir uma área de 8.511.000 km2 - e a necessidade de não se estender no tempo, prolongando-se por muitos anos têm exigido medidas que possam viabilizar a sua execução sem prejuízo dos princípios metodológicos definidos.
Ao adotar os parâmetros da Geolinguística pluridimensional contemporânea, o Projeto ALiB segue a trilha da, denominada por Thun, “nouvelle geólinguistique” por ele assim caracterizada:
A nova Geolinguística se caracteriza pela ampliação de seu campo de observação e por um trabalho de maior profundidade. Passa da análise da superfície, constituída pela dimensão diatópica, para a do espaço linguístico voltado para a consideração de outras dimensões como a diastrática e a diafásica.
Ela não emprega mais toda a sua energia na busca do dialeto rural puro, mas entra igualmente nas cidades, analisa os dialetos regionais, focaliza situações de contato, questiona também os grupos demograficamente móveis[8] (Thun 2000b: 408).
A “nouvelle géolinguistique”, a que se refere Thun, busca unir ao princípio da diatopia, pelo qual se vem regendo a Dialetologia desde os seus primórdios, princípios sociolinguísticos que, juntando-se ao primeiro, vão ensejar cartas linguísticas que permitem ao leitor não só saber onde se diz tal coisa, mas que tipo de falante - homem-mulher, jovem- velho, escolarizado-não escolarizado - é responsável por aquele enunciado.
O Projeto ALiB busca seguir as diretrizes apontadas por Thun no trecho que vem de ser citado, destacadamente: o alargamento do campo de observação, a não observação exclusiva dos dialetos rurais e a inclusão do controle de variáveis sociolinguísticas, como as dimensões diastrrática, diageracional, diagenérica, diafásica.
No que concerne ao o alargamento do campo de observação, embora em termos absolutos possa parecer reduzida, a rede de pontos está constituída de 250 localidades, distribuídas, geograficamente, por todo o território nacional, levando em conta a densidade demográfica de cada região e de cada Estado, com os ajustes necessários nos casos de áreas com densidade muito baixa, como a região norte e centro-oeste, ou demasiadamente elevada, como na região sudeste, principalmente em São Paulo. Além desse critério, foram considerados a importância de cada uma delas na região e no Estado, os dados de sua formação, a posição com relação aos limites interestaduais e internacionais.
Buscando incluir cidades de grande e médio porte, inclusive as capitais de Estado, o Projeto ALiB não se restringe às áreas rurais, mas volta-se, também, para as áreas urbanas.
Para atender à variação social, os informantes, em número de quatro em cada ponto - exceto nas capitais de Estado, onde são oito -, estratificam-se, como já dito anteriormente, quanto ao gênero - quinhentos e cinquenta homens e quinhentos e cinquenta mulheres -, à faixa etária - a primeira de 18 a 30 anos e a segunda, de 50 a 65 anos - e, nas capitais, ao nível de escolaridade - fundamental e universitário.
O confronto entre os registros de fala mais monitorada, nas respostas monovocabulares, obtidas através de perguntas diretas, com as elocuções mais espontâneas, surgidas por iniciativa do próprio informante, em comentários livres, ou por sugestão do inquiridor, na parte final da entrevista, permite o exame da variação diafásica ou estilística.
Para a análise do que se identifica como variação diarreferencial, incluem-se seis questões de natureza metalinguística, e se apresenta, finalizando a aplicação dos questionários, um pequeno texto para leitura, com vistas a ampliar o espectro das considerações diafásicas.
5. OS DADOS DO ALiB E A VARIAÇÃO NO PORTUGUÊS DO BRASIL
A aplicação da metodologia descrita vem permitindo avaliar a pertinência do método na construção do Projeto ALiB. A título de ilustração, apresentam-se alguns resultados no campo da morfossintaxe e da fonética.
5.1 ASPECTOS MORFOSSINTÁTICOS
A Tabela 1, que a seguir se reproduz, apresenta os resultados referentes ao plural de degrau, tomando como base os inquéritos linguísticos realizados nas capitais de estado, nas cinco regiões. Como se vê, além da variação diatópica, mostram-se os resultados no que concerne à variação diastrática, tomando por base o grau de escolaridade.
Como preliminar ao exame dos dados, necessário se faz destacar a variação que se observa na formação do plural dos nomes terminados em –au, -éu, como degrau, chapéu, de que resultam alternâncias de uso como degraus/degrais, chapéus/chapeis. Tal variação e a opção por uma variante em -ais e -éis se explica pela semelhança estrutural entre palavras do tipo degrau e animal, ou chapéu e coronel, no português do Brasil, onde se verifica, de forma generalizada, a semivocalização do /l/ final. Em decorrência dessa similitude que se cria com relação ao singular, o plural tende a se pautar por um único modelo e, assim, o plural dessas formas que, historicamente, tinham, por exemplo, a terminação –ales, no latim, de que resultou –ais no português, interfere nas demais motivando o aparecimento de um novo padrão morfológico com a introdução da variação morfemática –s x -is para os casos do tipo degrais, chapeis.
O exame dos dados, como se mostra na Tabela 1, aponta três variantes - degraus, degrais e degrau - e as implicações sociais do seu uso. A primeira, considerada forma padrão, está majoritariamente presente na realização dos universitários; a segunda, não padrão, comparece nos dois tipos de informante, mas com maior índice entre os que só têm o curso fundamental; e, por fim, a última das variantes se mostra típica dos informantes não-universitários, apresentando índices de frequência mais elevados em todas as regiões, exceto no Nordeste, onde é a variante degrais que se destaca entre esses informantes. O registro de maior ocorrência de degrais no Nordeste entre os informantes de menor escolaridade, enquanto nas demais regiões prevalece a realização com morfema zero - degrau - para esse mesmo tipo de informante, induz a pensar que na concepção desses falantes nordestinos:
· o plural “deve ter” uma marca mórfica explícita;
· o morfema zero não se alça, como em todas as demais regiões, à posição de relevância.
Por outro lado, o resultado de falantes de nível universitário mostra que a realização degrais atinge a casa dos 20% pelo menos em duas regiões — Norte e Sudeste. Esse dado pode ser visto como um leve, mas significativo indício, da penetração dessa variante na área dos reconhecidos “falantes cultos”.
Tabela 1 - ALiB: Plural de degrau por região/nível de escolaridade (no ocorrência/%)
5.2 ASPECTOS FONÉTICOS
Para exemplificar a variação no nível fonético-fonológico utilizam-se os dados referentes às realizações dento-alveolares ou palatais para o <s> que se encontra em coda silábica, tanto em posição interna, em vocábulos como estrada, casca, desvio, rasgar, como em final absoluto, como em luz, arroz, três, analisados por Jacyra Mota, Cláudia de Jesus e Grace Kelly Evangelista[9] (2010). O corpus, extraído das respostas válidas às questões do questionário fonético-fonológico (QFF) e do questionário semântico-lexical (QSL) do Projeto ALiB, foi submetido ao pacote de programas VARBRUL, em sua versão GOLDVARB[10], e os dados são apresentados em pesos relativos.
As 25 capitais brasileiras que integram o corpus do Projeto Atlas Linguístico do Brasil (ALiB) mostram comportamentos distintos quanto às variantes alveolares e palatais em coda silábica, apresentando-se como mais palatalizantes ou como mais alveolarizantes, ao lado de áreas intermediárias, com a presença de ambas as variantes.
Representam o grupo das mais palatalizantes, citadas em ordem decrescente quanto ao valor em peso relativo da posição medial de vocábulo: Rio de Janeiro, Belém, Florianópolis, Macapá e, com índices menos elevados de palatais, Recife, Manaus, Cuiabá e Salvador.
No grupo de capitais com baixos índices de variantes palatais, situam-se: São Luís, Teresina, Fortaleza, João Pessoa, Maceió, Campo Grande, Goiânia, Vitória, São Paulo, Belo Horizonte e Curitiba. Em Porto Alegre registram-se apenas 4 ocorrências de um mesmo vocábulo (estilingue), o que corresponde a 1% de ocorrências e 0,00 de peso relativo.
Consideram-se representantes de áreas intermediárias, cinco capitais que apresentam pesos relativos significativos (a partir de 0,55) para as variantes palatais, apenas em posição medial, em geral, nos contextos mais favorecedores (diante de [t, t□, t□]). Incluem-se aí, em ordem decrescente, considerando os índices encontrados para a posição medial: Boa Vista, Rio Branco, Porto Velho, Aracaju e Natal.
As variáveis sociais analisadas mostram o caráter mais ou menos estigmatizado das variantes palatais, ou a progressão de mudança em direção às alveolares, fatos observados a partir da predominância das variantes palatais entre os informantes menos escolarizados - como em Macapá, Salvador, Rio Branco, Natal e Aracaju - ou mais idosos - como se verifica em Florianópolis, Manaus, Cuiabá, Boa Vista, Rio Branco, Maceió, São Luís e Teresina.
A carta /S/ em coda silábica. Distribuição diatópica nas capitais do projeto ALiB, a seguir, reúne os resultados dos dois contextos - posição medial de vocábulo -favorecedora das realizações palatais - e posição final antes de pausa.
À GUISA DE CONCLUSÃO
A Dialetologia brasileira tem apresentado crescimento na sua produção e no interesse manifesto pelo corpo acadêmico. O perfil da metodologia seguida sinaliza para os avanços que vem atingindo e os atlas publicados e os em curso mostram o desenvolvimento que vem tendo a Geolinguística no Brasil a partir da segunda metade do século XX e com a publicação do APFB. Já existe, como se pode depreender, uma vasta área do território nacional retratada em cartas linguísticas, com dados postos para análise, oferecendo a possibilidade de identificação de possíveis áreas e limites geolinguísticos. Com base em tais dados, numerosos trabalhos têm sido publicados em revistas especializadas ou apresentados em reuniões científicas e alguns ensaios de identificação de áreas dialetais vêm sendo possíveis. É de acrescentar-se, ainda, o interesse crescente pelos estudos dialetais que se vem refletindo, sobretudo, na produção de dissertações de Mestrado e teses de Doutorado e na iniciativa de realização de atlas regionais, o que revela uma tendência para o levantamento, a descrição e a análise do português brasileiro que vão permitir um real conhecimento da língua majoritariamente falada no país e mostram a importância dos atlas regionais para o conhecimento do português do Brasil.
REFERÊNCIAS
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[1] On peut diviser l’histoire des études dialectologiques au Brèsil en deux phases: la première, de 1826, année dans laquelle le brésilien Borges de Barros fait paraître une étude dans le livre d’Adrien Balbi, jusqu’à 1920, année de la publication du livre O dialeto caipira, de Amadeu Amaral; la deuxième, de 1920 à nos jours (Nascentes 1952: 181).
[2] Un atlas lingüístico se está proyectando en el Brasil (su abreviatura es ALB), impulsado por Sever Pop en las conferencias de agosto y septiembre de 1954, dadas en el Centro de Pesquisas Rui Barbosa: de este modo la Dialectología, que en el Brasil ha estado hasta ahora dominada por los “dilettanti”, será en adelante dirigida cientificamente. Sin embargo, el Gobierno brasileño no ha proporcionado todavia una subvención adecuada a esse atlas “lingüístico, folklórico y onomástico” (Hampejs 1958: 130).
[3] Trata-se de Dinah Callou, conhecida professora da UFRJ que muito tem atuado nas áreas da Sociolinguística, principalmente, e da Dialetologia, que assumiu esse sobrenome em razão do seu casamento.
[4] El resultado principal que también habrá sorprendido a algunos participantes de nuestro Simposio puede sintetizarse con las seguintes palabras: la geografia linguística está en vias de convertirse en una abarcadora ciência de la variación. (...) Que mantega entonces la mirada en lo realizable y que guarde la raigambre empírica que la han salvado de todas las crisis, verdaderas o sugeridas (Radtke e Thun 1991: 49).
[5] La connaissance de l’âge des sujets observés est indispensable afin de pouvoir comparer les divergences existant entre le parler des jeunes et celui des vieillards, et déterminer leur point de départ (apud Pop 1950: 43).
[6] Il faut bien se garder de les confondre. Le patois des messieurs donne l’explications de certains anomalies qui se rencontrent dans le langage du peuple; il montre aussi de quel côté viennent les influences étrangères qui agissent sur les patrois. Mais il n’est pas le patois du pays (apud Pop 1950: 43).
[7] Les premiers représentants d’un atlas linguistique systématiquement pluridimensionnel sont l’Atlas Lingüístico de Sergipe, Bahia 1987, de Carlota da Silveira FERREIRA et alii, le microatlas aranéen contenu dans la monographie de Otto WINKELMANN (1989) et l’Atlas Lingüístico do Paraná (ALP), Curitiba 1994, de Vanderci de Andrade AGUILERA, ouvrages que ont le grand mérite d’être déjà publiés. Ces trois atlas sont bidimensionnels. Les deux atlas brésiliens ajoutent à la dimension diatopique la variable diasexuelle que s’étend, en príncipe, à tous les points de réseau (Thun 2000a: 375).
[8] La nouvelle géolinguistique se caractérise par l’élargissement de son champ d’observation et par un travail en profondeur plus poussé. Elle passe de l’analyse de la superficie, constituée par la dimension diatopique, à celle de l’espace linguistique formé par la prise en considération de variables comme la dimension diastratique, diaphasique ou d’autres.
Elle n’emploie plus toute son énergie à la recherche du dialecte pur rural mais elle entre également dans les villes, elle analyse des langues régionales, focalise des situations de contact, questionne aussi des gens démographiquement mobiles (Thun 2000b: 408).
[9] Na época, bolsistas (Iniciação Científica e Apoio Técnico / CNPq, respectivamente) que desenvolveram a pesquisa sob a orientação de Jacyra Mota.
[10] Programa para análise multivariada de dados linguísticos, introduzido nas pesquisas variacionistas, em 1974, por Cedergren e Sankoff e posteriormente aperfeiçoado por Rousseau e Sankoff. O programa GoldVarb foi criado por Rand e Sankoff, em 1990, para Macintosh, dando, posteriormente, origem ao GoldVarb 2001, desenvolvido na Universidade de York. O Programa fornece resultados em percentuais e em pesos relativos.