1. Introdução
Um questionamento norteia esta perspectiva histórica: como foi a presença de formalismos na linguística no Brasil em 1960-1970? Esses anos da linguística brasileira foram revisitados por autores como Altman (1998, 2021), Altman e Castilho (2022), Baronas (2012), Batista (2019, 2022, 2023), Castilho (1971a, 1971b, 2017), Fiorin (2007), Ilari (2007), Mattoso Câmara Jr. (1976), Naro (1976), Orlandi (2008), Severo e Eltermann (2018), Sugiyama (2020). Esta análise, contudo, observa especificamente duas linguísticas formalistas. Nesse aspecto, este texto se distancia dos citados.
São objetivos desta análise, diante do questionamento e da periodização: (i) caracterizar linguísticas formalistas brasileiras; (ii) delimitar diretrizes e alcances científicos dessas linguísticas; (iii) identificar processos sociais de institucionalização dessas linguísticas no cenário universitário brasileiro.
Para tanto, são empregados os conceitos de paradigma (conjunto de pressupostos teóricos e procedimentos metodológicos1), programas de investigação (quadros teóricos abrangentes que incluem paradigmas), grupos de especialidade teórica (comunidades de pesquisadores), continuidade/descontinuidade (rupturas e tradições científicas ao longo dos tempos), retórica (modos de enunciação de posições teóricas), clima de opinião (contexto intelectual).
A partir desses conceitos usualmente empregados em Historiografia Linguística (cf. Altman, 1998, 2019, 2021; Batista, 2013, 2020; Hymes, 1974; Koerner, 2014; Swiggers, 2019), construiu-se uma análise por meio de três etapas: 1ª.) heurística: definição de periodização e seleção/tratamento do material de análise; 2a.) hermenêutica: estabelecimento de diretrizes norteadoras da análise histórica; 3ª.) expositiva: apresentação dos resultados nesta narrativa.
Este texto privilegia percursos de descontinuidade científica. Isso pode gerar percepção de que mudanças científicas são movimentos que anulam totalmente outros precedentes. No entanto, em linguísticas descontinuidades não são revolucionárias no sentido de que eliminam tudo o que veio antes. Se novas correntes teóricas foram surgindo, anteriores não deixaram de existir (nem de ser praticadas). Elas apenas deixaram de estar no foco do circuito científico em um momento da história. Nos casos aqui apontados, houve coocorrência temporal de propostas diferentes. Desse modo, descontinuidade diz respeito a alterações no espaço institucional em que teorias e métodos deixaram de desfrutar privilégios do destaque e passaram a ser secundários no meio científico por alguma razão.
2. Sobre periodização e documentos históricos
A fase heurística definida anteriormente diz respeito à seleção, organização, hierarquização do material de análise (os documentos históricos) e à escolha de periodização no recorte analítico.
Delimitar marco inicial na década de 1960 não implica desconsiderar produção em ciências da linguagem em período anterior. Nas décadas de 1930-1950, está situada parte da produção de Joaquim Mattoso Câmara Jr. (1904-1970). Além dele, podem ser apontados como nomes de uma linguística pré-1960 os de Rosário Farâni Mansur Guérios (1907-1987) e Nelson Rossi (1927-2014). Não se desconsidera do mesmo modo a produção de filólogos e gramáticos antes dos anos 1960. Quando me refiro à década de 1960, tenho em mente a resolução federal de 1962 que tornou obrigatório o ensino de linguística nos cursos de Letras. Tal ato alterou o panorama para as ciências da linguagem em formação de pessoal, estabelecimento de canais de divulgação, organização de cursos, publicações (cf. Batista, 2022).
O marco final responde a anseio de revisitar duas décadas em que o formalismo (em diferentes correntes) foi dominante em período de profissionalização da linguística. Os anos 1970 seriam, ainda, período de rupturas com a chegada do gerativismo, da semântica greimasiana e, posteriormente, de linguísticas do texto, da enunciação, do uso, alterando cenário dominado por correntes formalistas.
Fazem parte do material de análise: a) artigos, boletins e anais científicos, livros e capítulos de revisão histórica, resenhas (Albano et al., 2003; Altman, 1998, 2021; Altman e Castilho, 2022; Back e Mattos, 1973; Batista, 2019, 2022, 2023; Bisol, 1986; Borba, 1965; Castilho, 1965, 1983, 1971a, 1971b; Grannier, 2014; Guimarães, 1982; Kato, 1983; Lobato, 1978; Mattos, 1974; Mattoso Câmara Jr., 1969, 1976; Naro, 1976; Rodrigues, 1966, 1978a, 1978b, 2009; Scliar-Cabral, 1988; Seky, 1999; Soares e Carvalho, 2014); b) teses e dissertações (Azevedo, 1965; Everett, 1979; Oliveira, 2021; D. Rodrigues, 1974; Scarpa, 1976; Vandresen, 1968); c) manuais (Back e Mattos, 1972; Borba, 1967; Borges Neto, 2022; Lopes, 1976; Scliar-Cabral, 1971); d) documentos oficiais (Conselho Federal de Educação (1962), Parecer 283; Ata de Fundação da Abralin, 1969); e) depoimentos e entrevistas (Altman, 2000; Osakabe, 2003; Scliar-Cabral, 2009).
Como toda seleção, a escolha desse material poderá ser revista e não tem caráter de exaustividade. Há, ao contrário, uso de amostragem (pequena dada a extensão de um artigo) que possa evidenciar tendências teóricas e movimentos institucionais.
3. Linguística, estruturalismo, formalismo
Neste artigo, estruturalismo e linguística estruturalista são denominações abrangentes e se referem a propostas teórico-metodológicas em período que vai da década de 1920 até finais da década de 1970.
Dentre estas: o descritivismo nos Estados Unidos (Leonard Bloomfield [1887-1949] e Kenneth Pike [1912-2000]); estruturalismos derivados do Círculo Linguístico de Praga (1920-1930); a glossemática de Louis Hjelmslev (1899-1965); a semântica estrutural de Algirdas Julien Greimas (1917-1992); o gerativismo de Noam Chomsky nas teorias padrão e padrão estendido. A definição estruturalista refere-se antes de tudo a um ponto de vista, mais do que a uma corrente teórica única: é uma concepção geral de língua como conjunto organizado e regrado de unidades em permanente relação.
Já linguística formalista/formalismo denotam abordagem imanente de aspectos linguísticos. Para formalistas, atribuem-se: preexistência, autonomia e primazia analítica da forma; forma anterior ao uso; representações visuais correlacionadas a regras estruturais ou aspectos mentais; explicações internas ao sistema (sem apelo ao social ou à subjetividade dos falantes).
Delimitam-se duas linguísticas formalistas na linguística brasileira dos anos 1960-1970: um descritivismo com origem nos linguistas norte-americanos; um formalismo com inspiração nesses linguistas e no dinamarquês Hjelmslev. Essa seleção não implica que apenas esses formalismos estiveram presentes no Brasil.
4. Um descritivismo ‘à brasileira’
Em 1966, tarefas para a linguística brasileira foram propostas por Aryon Dall’Igna Rodrigues (1925-2014) sob influência dos métodos da linguística descritivista.
Sobre essa linguística, Lúcia Lobato (1942-2005), linguista das primeiras gerações formadas na década de 1960, informava em 1978:
As teorias taxionômicas, preocupadas com a forma e não com o sentido ou com o funcionamento das unidades lingüísticas, podem ser vistas como portadoras de dois objetivos básicos: de um lado, o estabelecimento formal, em termos de distribuição e não de sentido, das unidades linguísticas, e, de outro, o desenvolvimento de técnicas de análise gramatical, como a da análise em constituintes imediatos, em que se procurava segmentar as frases em suas partes constituintes, até se chegar ao nível das palavras. Com relação à depreensão das unidades em termos distribucionais, ela contribuiu para o caráter formal da análise, uma vez que as unidades passaram a ser definidas baseadas no seu relacionamento mútuo, e não mais em função de categorias psicológicas, lógicas ou metafísicas. (Lobato, 1978: 21, destaques em negrito meus)2
Marcas do descritivismo linguístico no Brasil estão no texto, já mencionado, em que Aryon3 estabeleceu “Tarefas da lingüística no Brasil”, em Estudos Lingüísticos (número 1, 1966).
Das tarefas de lingüística pura que podemos entrever no Brasil e que reclamam a dedicação de especialistas com boa formação científica, devemos pôr em primeiro lugar a investigação das línguas indígenas. Os povos índios do Brasil ainda falam entre 100 e 150 idiomas indígenas. [...] No estudo das línguas indígenas podemos destacar dois aspectos principais, um dos quais é o estudo sincrônico das línguas como são faladas atualmente. Êste estudo, de natureza preponderantemente descritiva, constitui no Brasil uma tarefa não sòmente enorme, mas também urgente. (Rodrigues, 1966: 5, destaques meus)
Uma outra série de tarefas lingüísticas diz respeito à língua portuguêsa. Também neste caso está em primeiro lugar o trabalho de natureza descritiva: há necessidade de analisar ou reanalisar a língua portuguêsa de um ponto de vista puramente descritivo. Um conhecimento real, efetivo da estrutura do português, de como funciona, de como se comporta a língua portuguêsa presentemente tem de ser adquirido com base numa análise dessa estrutura mediante os métodos desenvolvidos pelos lingüistas nos últimos anos. (Rodrigues, 1966: 6, destaques meus)
Ao adotar o descritivismo de linguistas dos Estados Unidos (como Bloomfield e Pike), linguistas brasileiros buscaram o caráter explícito, rigoroso e formal em suas análises. Uma procura que levou a posicionamentos que objetivavam legitimar a substituição de um tipo de conhecimento (filológico e histórico por excelência) por outro, que colocava em destaque instrumental metodológico considerado inovador. Este identificava regularidades sistemáticas (em níveis que evidenciavam a natureza estrutural das línguas) e oferecia suporte para retóricas de defesa de posicionamentos científicos.
Nesse contexto intelectual, a forma linguística reinava absoluta nos níveis de análise que foram destaque: fonética, fonologia, morfologia. Uma linguística formalista que explorou formas em detrimento de abordagens que buscassem relações funcionais com instâncias comunicativas (como se configuraria no estruturalismo do paradigma europeu do Círculo Linguístico de Praga nas décadas de 1920-1930).
Uma prática de descrição e análise com origem nos Estados Unidos nos anos 1920-1930 por Bloomfield e nos anos 1940-1950 por seus seguidores - os pós-bloomfieldianos ou distribucionalistas - como Henry Allan Gleason Jr. (1917-2007), Charles Francis Hockett (1916-2000), Zellig Sabbettai Harris (1909-1992). Esses linguistas, ao lado de outros, são os descritivistas da linguística do século XX.
São características desse descritivismo: a) operações de segmentação, identificação e substituição em enunciados; b) coleta, taxionomia e descrição de dados linguísticos; c) tratamento do nível mais inferior (dito objetivo, daí o destaque para a fonologia) para os superiores (níveis de descrição gramatical, como o morfológico); d) dois métodos centrais: análise de constituintes imediatos e procedimentos indutivos de descoberta; e) visão comportamentalista e distributiva do significado linguístico (ou negação da semântica como para alguns pós-bloomfieldianos).
Em 1968, Joaquim Mattoso Câmara Jr. (1904-1970) se referia a Aryon estabelecendo um eixo de influência para o linguista que seria o principal nome na linguística indígena brasileira tratada pelo descritivismo linguístico:
Rodrigues é um especialista em tupi, interessando-se especialmente pelo estudo das línguas indígenas do Brasil. Também dedicou-se principalmente à lingüística antropológica quando chefe do Departamento de Lingüística da Universidade de Brasília. Inversamente a Mattoso Câmara Jr., cujas tendências se ligam mais ao Círculo de Praga, aos conceitos saussurianos e à filosofia lingüística de Sapir, Rodrigues [...] afilia-se ao mecanicismo de Bloomfield. (Mattoso Câmara Jr., 1976: 50, destaques meus)
Iniciativas de Aryon estiveram relacionadas ao estruturalismo (tanto o de Praga, quanto o dos norte-americanos).
Seja na motivação inicial de seu aperfeiçoamento técnico fora do Brasil no final dos anos 1950.
Fiz uma excursão para visitar um grupo indígena, passei uma semana entre os Kaingáng [nos anos 1950]. Foi aí que eu vi que não sabia nada de fonética, não sabia como registrar, interpretar a língua. Vi que tinha que estudar fonética em algum lugar e veio daí a motivação de sair do Paraná e do Brasil [Aryon foi para Alemanha, onde apresentou como tese descrição fonológica estrutural do Tupinambá em 1959 sob influência da Escola de Praga]. (Depoimento de Aryon em Altman, 2000: 11, destaque meu)
Seja nas escolhas teóricas em cursos pelos quais era responsável, que “começ[aram] enfaticamente voltad[os] para a pesquisa, trabalho de campo, coleta e transcrição de dados” (Altman, 1998: 166). Atividades relacionadas ao ideário da linguística descritivista.
Exatamente por isso Aryon é um dos grandes nomes do estruturalismo nessa linguística brasileira dos seus primeiros anos após decreto de 1962. E Aryon seria a figura principal da recepção da linguística descritivista tal como praticada nos Estados Unidos.
Ainda nos anos 1960, o linguista participou do diálogo com o Summer Institute of Linguistics (SIL), que colaborou com a Universidade de Brasília e foi agente fundamental para a recepção da linguística descritivista no Brasil (cf. Altman, 2021; Altman e Castilho, 2022). Esse convênio com o SIL não se deu sem controvérsias. Uma parceria, segundo linguistas próximos das atividades do instituto norte-americano, muitas vezes contaminada por interesses religiosos de missionários que atuavam na coleta e descrição de línguas indígenas (cf. Rodrigues, 2009; Seky, 1999).
O foco teórico do SIL estava na figura do linguista norte-americano Kenneth Pike (1912-2000), também descritivista, mas isolado do grupo que se formou em torno de Bloomfield.
Também no que se refere aos modelos teóricos há um paralelo entre a área de Línguas Indígenas e a história da implementação da Lingüística no Brasil. Esta última foi marcada pela adoção do estruturalismo americano (corrente então dominante), com as concepções a ele relacionadas (critérios formais de análise e descrição, postura sincrônica), como embasamento teórico e metodológico, e pela atribuição de caráter científico aos estudos realizados dentro desta abordagem, passando as demais abordagens a serem consideradas como acientíficas. Estes aspectos vigoraram nos estudos de línguas indígenas brasileiras, que até os anos setenta eram realizados predominantemente por membros do SIL, e ficaram associados ao trabalho desenvolvido pelos lingüistas da instituição. (Seki, 1999: 269, destaque meu)
Uma linguística que do mesmo modo esteve presente no curso de pós-graduação em que Aryon atuou no início da década de 1970 na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Uma tentativa de estreitar relação entre linguística e antropologia, como ocorreu na linguística norte-americana das primeiras décadas do século XX (cf. Altman, 1998). Na grade curricular dessa pós-graduação, no eixo de “Linguística Descritiva”, além dos cursos sobre níveis estruturais de análise, estavam disciplinas como “Trabalho de Campo”, “Sociolinguística”, “Língua Indígena”.
Durante os anos 1960-1970, Aryon orientou, em fonologia (cf. Oliveira, 2021) - apenas para destacar um exemplo -, sete mestrados e um doutorado em Brasília, Rio de Janeiro e Campinas (locais em que atuou). Trabalhos que seguiram tradição descritivista, que elegeu como nível analítico preferencial a fonologia.
No depoimento abaixo, vê-se como a linguística descritivista e a figura de Aryon influenciaram primeiros linguistas da Universidade Estadual de Campinas, em São Paulo (onde Aryon atuou na década de 1970, antes de retornar a Brasília no final dos anos 1980).
Também veio o pessoal da Federal do Rio e que era o Aryon, o Bryan Head e o Quícoli, que vinham com uma formação americana mais estreita. Também a gente aprendeu bastante neste sentido. [...] sobretudo, com a vinda do pessoal da Federal do Rio, a Lingüística ganhou pra gente uma dimensão, digamos, de campo e ao mesmo tempo metodológica que a gente não conhecia. (Osakabe, 2003: 30, destaques meus)
Em artigo publicado em 1978 nos Cadernos de estudos lingüísticos, o posicionamento de Aryon é o do linguista descritivista de campo, que trata de fenômenos fonológicos e lexicais da língua dos índios Xetá:
Os dados colhidos por mim entre os índios da Serra dos Dourados de 1960 a 1962 e em 1967 revelam que se trata não apenas de uma língua da família tupí-guaraní, mas de um idioma que se filia imediatamente ao grupo dialetal guaraní [...]. (Rodrigues, 1978a: 7, destaque meu)
Em trabalhos orientados nos anos 1960 (como o doutorado de Gilda Azevedo em 1965 sobre a língua indígena Kiriri e o mestrado de Paulino Vandresen em 1968 sobre a fonologia do Vestfaliano [língua de comunidades de ascendência germânica]), encontram-se referências a autores do descritivismo: Bloomfield, com Language (Bloomfield, 1933) e "A Set of Postulates for the Science of Language" (Bloomfield, 1926); Bernard Bloch (1907-1965) e George Leonard Träger (1906-1992) com Outline of Linguistc Analysis (Bloch e Träger, 1942); Hockett (1958) com A Course in Modern Linguistics; Gleason (1955) com An Introduction to Descriptive Linguistics.
Soares e Carvalho informam sobre temáticas abordadas no estruturalismo descritivista de Aryon.
Os desafios colocados às teorias pelos fatos que Rodrigues focaliza não se restringem à fonologia. No quadro dos estudos em morfologia e sintaxe, fazem parte, por exemplo, de seu percurso: a) investigações sobre o sistema de marcas de pessoa do Tupinambá [...]; b) a construção de orações negativas por meio da supressão das marcas de tempo e aspecto no verbo [...]; c) a incorporação recursiva de posposições no sintagma verbal [...]; d) a incorporação de nomes no sintagma verbal [...]; e) a referência alternada (switch reference) que, exibida por mais de uma língua indígena, consiste em assinalar argumentos com referentes idênticos ou distintos. (Soares e Carvalho, 2014: 563-564)
Em outro trabalho de Aryon em 1978, há uso do método de distribuição na descrição de ocorrências pronominais no português. O título do texto já delimitava perspectiva analítica: “Os demonstrativos do português: descrição morfológica sincrônica e superficial”.
A linguística descritivista de Aryon ainda colocou em circulação no Brasil a tagmêmica de Pike. Dissertações orientadas pelo brasileiro comprovam a presença de Pike nas pesquisas com línguas indígenas e o português na década de 1970. A fonética e a fonêmica da tagmêmica constituem núcleo dos trabalhos, para citar alguns, de Daniele M. Grannier Rodrigues (1974) sobre a fonologia do Guarani antigo, Ester Scarpa (1976) sobre a entonação do português, Daniel L. Everett (1979) sobre a fonologia do Pirahã.
Nas figuras adiante, a partir da tese de Azevedo (1965), das dissertações de Vandresen (1968) e Rodrigues (1974), procedimentos analíticos típicos do estruturalismo formalista bloomfieldiano ou pós-bloomfieldiano e pikeano. Pela reprodução das imagens, pode-se ter ideia do papel das representações ou formalizações visuais.
Nos trabalhos orientados por Aryon, destacavam-se: (i) representação esquemática de ocorrência de unidades; (ii) dados da língua que sustentam regularidades; (iii) descrição de distribuições e ordem de colocação como princípio relacional; (iv) definição categorial relacional e distributiva; (v) descrição e catalogação de unidades sonoras e morfofonológicas; (vi) abordagem de níveis hierárquicos.
Uma linguística enquadrada no programa de investigação (Swiggers, 1981) descritivista, caracterizado a partir dos seguintes elementos: a) visão de língua: línguas como objeto formal e autônomo; b) incidência analítica na fonologia, morfologia e sintaxe (em relação hierárquica) a partir de corpus coletado em campo; c) técnicas analíticas: determinação de contextos distributivos; segmentação; comutação; indicação de relações de proporcionalidade, comparação e ocorrência.
Em outro espaço de circulação dos primeiros linguistas brasileiros, na região sul do país, a linguística descritivista esteve presente na formação em graduação, como indica depoimento de Leonor Scliar-Cabral, linguista da primeira geração a partir de 1962:
A década de 60 foi, então, decisiva para a minha formação como linguista e, posteriormente, como psicolinguista: foi quando realizei meu Curso de Letras, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), onde tive como professores Augustinus Staub, recém-vindo de seu mestrado em Linguística nos Estados Unidos, e o Irmão Arnulfo (posteriormente Celso Luft). O primeiro nos introduziu na Linguística norte-americana e na Linguística Aplicada (LA) e o segundo revelou-nos o universo de J. Mattoso Camara Jr. (1964), Bloomfield (1964) e Sapir (1961, 1964) - textos obrigatórios - e os Princípios de Linguística Geral, leitura de cabeceira. Mas estudávamos Hjelmslev (1953) e o decálogo de Hockett (1966) era o roteiro sobre as propriedades da linguagem verbal. (Scliar-Cabral, 2009: 196, destaques meus)
O descritivismo avançava também para o ensino de linguística. Espaço de divulgação didática que ocupa até hoje, pois começamos a ensinar linguística na graduação pela transmissão dos conceitos de níveis de análise, de técnicas de segmentação e comutação, de operações relacionais internas ao sistema linguístico.
Ataliba Teixeira de Castilho em 1965 avaliou bibliografia proposta por Francisco da Silva Borba para professores de linguística. Clássicos do descritivismo estavam nas indicações: o manual de 1958 A Course in Modern Linguistics de Hockett e o de Gleason An Introduction to Descriptive Linguistics de 1955. Chama atenção o modo como Castilho descreveu a presença da linguística descritivista: “o surto da Lingüística Descritiva, aplicada na América inicialmente ao estudo das línguas indígenas” (Castilho, 1965: 160).
Não à toa, esse descritivismo marcou presença em manuais brasileiros na transmissão didática da descrição dos níveis fonético, fonológico e morfológico: a) em Introdução aos estudos lingüísticos de Francisco da Silva Borba de 1967, a estrutura linguística era vista sob o método de seleção de unidades de cada nível, suas especificidades e formas de combinação; nas referências estavam Bloomfield, Gleason e Hockett; b) em Introdução à lingüística de Leonor Scliar-Cabral de 1971, o destaque era para fonética, fonologia e morfologia, subáreas em que segundo o texto de apresentação do livro mais se tinha avançado em termos de linguística estruturalista; c) em Fundamentos da lingüística contemporânea de Edward Lopes de 1976, a fonética e a fonologia foram apresentadas pela visão do Círculo Linguístico de Praga e pela de Bloomfield; na mesma linha estruturalista, a morfologia era exposta com classificações de morfemas e seus valores lexicais e gramaticais; Bloomfield, Bloch e Träger, Gleason são citados na definição de morfema e de palavra; além disso, o termo distribuição aparece insistentemente no tratamento descritivo morfológico.
O descritivismo esteve presente, ainda, em orientações metodológicas para ensino de línguas estrangeiras.
Podemos dizer que o estruturalismo contribuiu sobretudo para eliminar, ou pelo menos atenuar, certos preconceitos que dominavam o ensino de línguas [...], para evidenciar a necessidade de se tratar a língua como um todo cujas partes são solidárias, mostrar a necessidade de se desenvolverem critérios mais objetivos e explícitos de identificação e classificação de unidades linguísticas. (Lobato, 1978: 28, destaques meus)
Outro princípio que vigorou no estruturalismo foi o do mecanicismo na aprendizagem. A valorização da estimulação leva à crença de que a estratégia básica para o ensino da gramática são exercícios estruturais mecânicos e repetitivos para o aluno interiorizar automaticamente suas regras, sem nenhum trabalho consciente de sistematização. É comum encontrarem-se alunos dessa época que nunca viram, por exemplo, um paradigma verbal. Se essa técnica de aliciação deu alguns resultados positivos no ensino da língua estrangeira, na qual o aluno precisa automatizar rotinas comunicacionais básicas, a pronúncia das palavras e a entoação de frases na língua materna o efeito foi insignificante para o tempo dispendido e, às vezes, até negativo, dado o caráter pouco criativo e desmotivador dessas atividades. (Kato, 1983: 55, destaques meus)
A presença do descritivismo na linguística brasileira deve ser compreendida como movimento de recepção de métodos de coleta e descrição linguística.
Aryon foi figura singular nessa dinâmica (ele estava na lista dos fundadores da Associação Brasileira de Linguística em 1969), ao lado dos linguistas e estudantes que gravitaram em torno das atividades do SIL e do Museu Nacional do Rio de Janeiro, onde antropólogos estavam interessados nas línguas indígenas.
Primeiros momentos, pós-1962, de uma linguística brasileira caracterizada pela adoção de métodos e concepções de pesquisa que vieram de outros países, seja pela presença de linguistas estrangeiros no Brasil, seja pela presença de brasileiros em centros internacionais.
5. Além de americanos e europeus, pelo menos na retórica...
A proposta de Eurico Back (1923-2003) e Geraldo Mattos (1931-2014) de “nova” abordagem gramatical foi a de um estruturalismo formalista (cf. Batista, 2023; Borges Neto, 2022).
No início da década de 1970, Back e Mattos (professores do ensino universitário no Paraná e autores de obras didáticas) propuseram “nova” teoria. A apresentação na Gramática Construtural da Língua Portuguesa (1972) indica a origem do projeto: "pesquisa[s] realizada[s] sob os auspícios da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Católica do Paraná". Também informa que Back e Mattos eram "membros da Equipe de Pesquisa Lingüística" da mesma faculdade, onde eram doutores e livres-docentes de linguística (Back) e de língua portuguesa (Mattos), além de titulares nas respectivas áreas. Os construturalistas ainda fizeram parte do Círculo Linguístico de Curitiba (criado em 1953), que divulgou ideias do Círculo Linguístico de Nova Iorque (que teve em Roman Jakobson [1896-1982] uma de suas figuras centrais).
A gramática (ou linguística) construtural apresentava como características: a) caráter global; b) uma unidade básica para análise nos diferentes níveis de descrição; c) série de relações estruturais nos diferentes níveis; d) noção de construção como base das relações linguísticas; e) rigor em notação de caráter formal.
Toda estrutura [forma cujos elementos estão em dependência] é como o sistema solar: existe o sol [elemento condicionante da existência ou não de outros elementos], e possíveis planetas [elementos condicionados]; entretanto, o reconhecimento de planetas implica no reconhecimento da existência de um sol. [...] Existem, por conseguinte, estruturas de um só elemento: o sol. Exemplo de estrutura oracional do português, de um só elemento: Choveu. Portanto, a estrutura não é necessariamente binária; pode ainda ter três ou mais elementos. Exemplo de estrutura oracional do português com 4 elementos:
(Back e Mattos, 1973: 35-36)
Num desses defeitos recaem todos os trabalhos de Lingüística (Semântica) apresentados até hoje, embora contenham parcialmente a verdade. Pretendemos aqui atacar o estudo do significado, partindo de sua origem, e chegar às oponências entre vocábulos, alcançando o seu destino, sem entrarmos nas idéias que fervem na mente dos comunicantes, porque inacessível ao exame direto, sem tombarmos na arbitrariedade, comprovando cada uma das afirmações feitas, e sem operarmos viciosamente de vocábulo a vocábulo. Afirmação nossa: O significado é a associação entre o significante e uma situação cultural. [...] O fato que a experiência fica gravada no cérebro, é outra história, não negamos; mas a Lingüística não pode investigar o que se passa na nossa mente. A Lingüística lida com o significante, o conjunto de sons vocais, e com o significado, a associação entre o significante e uma situação cultural. (Back e Mattos, 1973: 43-44)
O sinal [signo linguístico] é, portanto, uma construtura de dois elementos coocorrentes: o significante, que é a permanência do sinal, e o significado, que é a imanência do sinal. (Back e Mattos, 1973: 40)
O termo central (construtura) denotava estrutura de relações de dependência, codependência, independência e interdependência entre unidades dos diferentes níveis linguísticos.
A visão de comunicação era mecanicista, ainda que Back e Mattos pregassem distância da perspectiva dos descritivistas.
A primeira característica da comunicação é a presença inevitável de um impulso que nos leva a agir [...]. O impulso dá o necessário empenho para vencermos a inércia e mudarmos de estado. O emissor sente um impulso (interno: o motivo, como a sede; ou externo: o incentivo, como um cartaz de refrigerante). [...] O impulso contribui com os objetivos da comunicação: comunicamo-nos com alguém, empurrados por impulsos e os objetivos são os meios de alcançarmos a satisfação para esses impulsos. (Back e Mattos, 1973: 9)
O construturalismo empregou modelos matemáticos de formalização. A rigor, um apelo à linguagem que procurava concretizar procedimentos metodológicos e relações entre elementos linguísticos.
A relação de determinação grifa-se com uma flecha: A ♦ B. Simplificando, adotamos apenas um parêntese: a ponta da flecha para representar essa mesma relação: A ) B. A leitura será: o elemento A depende do elemento B. A é revelador; B é relevado. [...] Dados dois elementos, o elemento A e o elemento B, diremos que o elemento A independe do elemento B quando entre ambos não houver nenhuma outra relação, salvo a de estarem dentro da mesma forma: nenhum revela a existência do outro. Entre dois filhos temos uma relação de independência: nenhum deles depende do outro, nenhum deles tem o outro com qualquer relação, salvo a de estarem dentro da mesma forma (a prole). [...] Assinalamos o elementos independente com o travessão: A — B. E a leitura: o elemento A independe do elemento B. (Back e Mattos, 1973: 6-7)
O Manifesto de 1973 apresentava os procedimentos metodológicos: “quando afirmamos que obedecemos a uma técnica construtural para descrevermos a linguagem perfeita e integralmente, significamos que seguimos estas etapas de pesquisa” (Back e Mattos, 1973: 102).
Essas etapas partiam da observação de falantes situados em determinados ambiente e situação, levando em conta fatores que tornavam possível a troca verbal dos dois comunicantes, emissor e receptor. A partir dessa observação (que não era o foco principal, pois não eram legítimos para investigação elementos externos), o texto (veículo de informação) e suas mensagens eram examinados, ambos codependentes, na perspectiva de que forma veicula sentido. Constâncias (elementos recorrentes) e oponências (elementos divergentes) eram observadas no nível da materialidade (texto) e no da produção de significados (mensagem).
Os construturalistas insistiram no caráter inovador de sua teoria e se opuseram a outras linguísticas. Tanto na apresentação da Gramática construtural da língua portuguesa (1972), quanto no Manifesto (1973), afirmaram abandonar a “gramática transformativa” (denominação para gramática gerativa), a descrição em “constituintes imediatos” (do descritivismo), a “gramática imanente” (de Louis Hjelmslev [1899-1965]), a “tagmêmica” (de Pike).
Antes de apresentarmos os princípios nos quais se baseia a doutrina construtural, é de se notar por que não nos filiamos a nenhuma das correntes existentes e por que propomos rumos novos e, por conseguinte, uma nova orientação, uma nova escola. (Back e Mattos, 1973: 1)
No entanto, muito da teoria construturalista continha elementos da linguística imanente de descritivistas norte-americanos e da glossemática. Entre aspectos: metalinguagem metafórica semelhante a da glossemática; relações de dependência; exploração dos níveis de análise a partir de unidades maiores e complexas; o tratamento do conteúdo e da expressão a partir de mesmos princípios.
Apesar de ter feito parte da formação de linguistas como Carlos Alberto Faraco e José Borges Neto (que sempre lhe asseguraram lugar especial na história), a linguística construtural não permaneceu ativa na linguística brasileira. O depoimento de Mattos indica que eles mesmos tinham conhecimento de que sua proposta era polêmica.
Uma coisa curiosa é que muitos dos nossos alunos foram fazer o mestrado em Campinas, na UNICAMP - o [nome de um ex-aluno] me falou que lá ele ouviu os professores dizerem: “nós não concordamos com a Construtural, mas uma coisa é certa - os alunos que vêm de lá, da Construtural, têm uma ideia muito melhor do que é a Linguística e vão bem em todas as disciplinas”. (Depoimento de Mattos a Bornatto, 2011: 210)
De qualquer modo, naqueles anos, um paradigma que assumia visão de língua como comunicação em perspectiva behaviorista e mecanicista não encontrou eco em estudos gramaticais de formalistas que começavam a ver na linguística gerativista novo caminho analítico.
6. Considerações finais
O ensino e a pesquisa em linguística estavam institucionalizados politicamente (cursos, formação pós-graduada, publicações, periódicos, grupos de especialidade teórica) após o decreto de 1962. Nesse contexto, duas linguísticas formalistas estavam, por suas características, filiadas a um programa de investigação de tratamento imanente da língua, com sistematização de unidades e suas relações: paradigmas de Bloomfield, Pike, Gleason e Hockett (alguns dos distribucionalistas ou pós-bloomfieldianos), Hjelmslev.
Uma linguística caracterizada pelo domínio das estruturas, na qual o destaque estava na abstração explicativa, na axiomatização de regularidades, na apreensão imanente das unidades e das relações contraídas entre estas em diferentes níveis de análise. Ainda nos anos 1970, a sintaxe chomskiana e a semântica greimasiana seriam também formalistas e não muito distantes de compromissos metodológicos estruturais presentes de algum modo, por exemplo, nos descritivistas.
O domínio das estruturas - configurado pela recepção brasileira do descritivismo ou na suposta inovação dos construturalistas - consagrou o estudo das oposições pertinentes entre unidades, das hierarquias estruturais, da formalização metodológica, evidenciando relações internas que formatam, enfim, uma língua como sistema.
A produção brasileira nessas linguísticas teve como principais canais de divulgação: a) os primeiros periódicos (especializados ou não em linguística; nos anos 1970 foram lançadas dez revistas); b) as publicações de pesquisadores; c) boletins e anais das primeiras associações de linguistas (como a Associação Brasileira de Linguística - ABRALIN, e o Grupo de Estudos Linguísticos do Estado de São Paulo - GEL); d) os primeiros manuais brasileiros de introdução à linguística.
Em textos de apresentação à área nos anos 1960-1970 (em prefácios/posfácios, contracapas de livros), o linguista formalista era alçado ao posto de cientista, e a afirmação da linguística como ciência era insistente. Estava-se diante de um pesquisador das línguas que dominava metalinguagem específica e formalização de operações linguísticas a partir de dados controlados metodologicamente.
Nesse momento, havia uma ânsia pela atitude científica nas ciências humanas, liderada pela linguística (“os anos setenta seriam dos lingüistas”, Altman, 1998: 125). Esse desejo fazia eco a um ufanismo motivado pelo signo do avanço e progresso que se construiu em diferentes esferas da sociedade. Se o caminho era avante Brasil, o pensamento intelectual do momento nos levava à construção ou à recepção de novas possibilidades de obtenção de conhecimento (cf. Motoyama et al., 2004: 327; Ortiz, 2006: 81).
A linguística brasileira em 1960-1970 testemunhou o delineamento de horizonte privilegiado para seu espaço de atuação, como indicam textos de divulgação na época.
É um livro objetivo e oportuno, nesta hora em que os estudos linguísticos estão em primeiro plano no Brasil. Constituindo uma rigorosa introdução aos problemas gerais da Linguística, esta obra vem enriquecer a bibliografia brasileira numa área de grande interesse [...]. (Texto de orelha da ed. brasileira, Malmberg, 1976, destaque meu)
O destaque hoje assumido pela Lingüística no campo das Ciências Humanas evidencia-se, quando mais não fosse, pelo número crescente de livros, publicações, cursos e programas de estudo a ela consagrados. [...]. (Texto da quarta capa da ed. brasileira, Dubois et al., 1973, destaque meu)
A associação a uma epistemologia formal certamente contribuiu para a imagem de cientificidade associada a uma vanguarda. Presente tanto na linguística descritivista nos anos 1960, por exemplo, quanto naquela que sucederia esse descritivismo: a gerativista nos anos 1970.
A ironia de Ataliba Teixeira de Castilho, em texto de 1983, permite chegar a esse linguista-cientista, de todo oposto ao ensino tradicional de língua portuguesa e aos filólogos que dominaram os estudos sobre línguas do século XIX até pelo menos os anos 1950.
Houve de fato uma fase [do linguista] de ficar se olhando no espelho, no contentamento enorme de ser novidade. Mas isso foi pelo final dos anos 60, quando surgiu a ABRALIN, e, no Estado de São Paulo, o “Grupo de Estudos Lingüísticos” (GEL), logo secundado pelo GELNE e pelo GELNO. Naqueles bons tempos, muitos de nossos colegas tinham volúpias de prazer ao abrir sessões de seminários com o inevitável “nós lingüistas” para cá e “nós lingüistas” para lá. Na coxia, ficavam os professores de Português, encolhidos, assustados - como os filólogos, ao tempo dos neogramáticos. (Castilho, 1983: 61, destaque meu)
Nas décadas de 1960-1970, a linguística brasileira pendeu para diferentes lados entre o desejo da inovação e a realidade da recepção. Nesse percurso histórico, não estivemos distantes do domínio formal que marcou no mundo inteiro anos gloriosos dos estruturalismos.
No entanto, em processo de descontinuidade científica diante do impacto da relação entre o gerativismo chomskiano e possibilidade de compreensão da mente humana, ficariam para trás a partir dos anos 1970 os construturalistas e o descritivismo de Aryon e seus alunos.
Estes em menos de uma década deixariam de ser associados ao moderno, como foram ao se opor aos filólogos e gramáticos tradicionais no início da segunda metade do século XX. Um domínio da forma linguística (dos estudos fonéticos, fonológicos e morfológicos) que deixou de reinar absoluto com a chegada da retórica revolucionária dos que começavam a apresentar Noam Chomsky e sua sintaxe aos linguistas brasileiros no final dos anos 1960.
Ir além das estruturas e de uma concepção formal de ciência seria objetivo de outras linguísticas que começariam a se destacar no cenário brasileiro nos anos finais de 1970, concedendo valor explicativo a fatores externos e sociais em torno do uso das línguas pelos falantes.